A jornalista Suzana Singer, da
Folha de S. Paulo, é ombudsman do jornal – cargo que confere a ela a obrigação
de procurar excessos e falhas nas publicações do veículo – e publicou um artigo
criticando a postura adotada pela maior parte da imprensa no caso em questão.
Suzana
diz que os protestos feitos por artistas contra Feliciano ganharam “amplo
espaço na mídia”, e pondera dizendo que é “difícil é ouvir argumentos a favor
do pastor”, justamente por falta de divulgação.
“A
Folha publicou, na semana passada, uma entrevista com Feliciano e um artigo em
que Silas Malafaia defende seu colega pastor – o próprio deputado já tinha
escrito em ‘Tendências/Debates’ em março. É pouco perto das dezenas de textos
negativos (reportagens, colunas e editorial) publicados desde que o caso
estourou. A impressão que se tem, lendo jornais, revistas e navegando na
internet, é que há unanimidade contra o deputado do PSC. Falta dar espaço às
vozes dissonantes daqueles que criticam a cobertura da mídia e se recusam a
entrar na corrente ‘anti-Feliciano’”, escreveu a jornalista e ombudsman da
Folha.
Em
seu texto, Suzana reproduz o comentário de uma leitora, que inconformada com a
forma como a cobertura do caso vem sendo conduzida, critica pontualmente a
imprensa: “Vivemos uma época de patrulhamento. A imprensa elevou o deputado à
categoria de pop star. Estou me lixando para ele, mas não concordo com a forma
como é tratado. O jornal não cita a profissão de nenhum parlamentar, mas
Feliciano é sempre ‘pastor’, o que impõe uma carga pejorativa à palavra. Há um
estereótipo do evangélico repetido à exaustão na mídia”, escreveu a advogada
Patrícia Marinelli.
Suzana
Singer encerra seu artigo mencionando que “é importante reconhecer que a
cobertura do caso Feliciano ganhou ares de linchamento”, e completa dizendo que
“não há dúvida de que existe na grande imprensa brasileira uma visão
estereotipada e preconceituosa dos evangélicos”.
O juiz de direito e eleitoral José Herval Sampaio Junior publicou um artigo sobre o caso, em
seu espaço no portal Atualidades do Direito, e também criticou a forma como o
caso vem sendo tratado, ressaltando que os direitos de Marco Feliciano enquanto
cidadão estão sendo quebrados.
Segundo
Sampaio Junior, os manifestantes sociais contrários a Feliciano, “infelizmente
nesse caso estão a desrespeitar de modo contundente o direito de um cidadão”,
pois “estão ultrapassando o limite do tolerável e colocando em xeque um dos
maiores direitos de todas as pessoas, quer físicas ou jurídicas, o devido
processo legal em sua acepção substancial”.
O
juiz Sampaio Junior refere-se, em seu texto, à condução da divulgação do caso
em que é acusado de racismo e homofobia, como “vilipêndio” aos direitos de
Marco Feliciano, pois ele “sequer está sendo processado no que tange as
possíveis falas e não foi condenado ainda no que concerne aos outros fatos”, e
classifica como “inadmissível que o mesmo possa sofrer as consequências que
infelizmente vem ocorrendo”, pondera.
“Em
momento algum temos qualquer tipo de procuração do referido senhor para sua
defesa e muito menos estamos a mencionar no presente instrumento que as suas
possíveis falas não sejam preconceituosas ou até mesmo não tenha sua pessoa
cometido os crimes que responde perante o Supremo Tribunal Federal. Não fazemos
isso por vários motivos também, ressaltando mais uma vez somente um e talvez o
mais importante, não conhecemos com a propriedade que se requer nenhum desses
fatos, ou seja, não nos preocupamos em avaliar substancialmente as suas falas e
nem mesmo as possíveis condutas criminosas do mesmo como pastor evangélico”,
contextualiza o juiz Sampaio Junior.
A publicação de opiniões como essas em
veículos da grande mídia podem significar que não apenas políticos, mas também
os próprios jornalistas, estejam notando que a forma como o caso foi conduzido
fortaleceu Marco Feliciano. De acordo com Marco Prates,
jornalista da revista Exame, “a situação do pastor agora pode ser considerada,
de certa forma, mais estável e segura”.
Prates
diz que “baixada a poeira da pressão nas ruas (que ainda continua), das
petições na internet e da própria pressão política exercida pelos outros
deputados, vê-se que nada foi capaz de tirá-lo de lá”.
O
artigo publicado na Exame afirma que “para desgosto dos movimentos ligados aos
direitos humanos [...] evidências nesta semana apontam para um Feliciano
fortalecido na presidência da comissão, após passar por todo o tipo de
intempéries que poderiam ter sido fatais ao cargo, como as revelações de vídeos
com falas desastradas e a existência de processos no STF”.
O
jornalista complementa dizendo que “o fato é que as manifestações de apoio já
agem como uma espécie de contrabalanço para a situação do deputado”.
O
juiz Sampaio Junior conclui que não se pode aceitar a forma como Feliciano vem
sendo tratado: “Não podemos aceitar calados como cidadão que somos o vilipêndio
flagrante que estamos assistindo diuturnamente ao devido processo legal, daí o
dever de denunciarmos como ora fazemos, mesmo com o patente risco de sermos mal
compreendidos”.
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