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Missionário Vicente Dudman
Formatura:
Teologia - Escola Teológica das
Assembleia de Deus no Brasil
Direito - Universidade Estácio de
Sá (Câmara Cascudo) no Rio
Grande do Norte.
Inglês - University of Texas
Estados Unidos.
|
Estamos disponibilizando pra você todo início de semana, mais um comentário sobre
cada lição da EBD. Assim fazemos, para que os irmãos possam melhor preparar sua
aula. Cada item, tem um comentário, para que o amado leitor entenda melhor os
tópicos da lição. Estudaremos esta semana a lição de nº 5 desse segundo
trimestre, que tem como título: JESUS ESCOLHE SEUS
DISCÍPULOS. Para cada tópico,
deixamos o nosso comentário. Fizemos cuidadosa pesquisa a respeito dessa tão
importante lição. Buscamos auxílio e Ainda recorremos a vários mestres no
assunto, para que pudéssemos aplicá-lo para o seu melhor entendimento. Em
caso de dúvidas com relação ao assunto, deixe seu comentário, a sua dúvida, no
final desta postagem, que responderemos com todo prazer a sua
pergunta. Espero que satisfaça a todos e uma boa aula.
INTRODUÇÃO
Como crentes, temos consciência do valor que a
pregação da Palavra tem para a construção do Reino de Deus. Todavia, quando
lemos os Evangelhos, acabamos descobrindo que Jesus, durante o seu ministério
terreno, ensinou mais do que pregou. Na verdade, suas pregações, mesmo quando
proclamações, eram recheadas de conteúdo pedagógico. Esses fatos nos mostram a
importância que o ensino tem para um aprendizado eficiente. Nesta lição,
aprenderemos com o Mestre dos mestres como Ele ensinou os seus seguidores e como,
dentre eles, formou seus discípulos.
Comentário
Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “ensinar” é “repassar
(a alguém) ensinamentos sobre (algo) ou sobre como fazer (algo); doutrinar,
lecionar”; “transmitir experiência prática a; instruir (alguém) por meio de
exemplos”; “tornar (algo) conhecido, familiar (a alguém); fazer ficar sabendo”;
“dar lições a; instruir”; “mostrar (a alguém) as conseqüências ruins de seus
atos”; “mostrar com precisão; indicar”. A palavra vem do latim “insigno”, cujo significado
é “’pôr uma marca, distinguir, assinalar”. Se houve um título que Jesus sempre
aceitou foi o de Mestre (Jo 13.13), numa clara demonstração de que sempre quis
ser reconhecido como tal. Isto já nos permite observar como o ministério de
ensino se encontra no âmago da missão do Senhor. Lucas, ao sintetizar o
ministério terreno de Jesus, no início do livro de Atos dos Apóstolos, disse
que Jesus, na Terra, veio “fazer e ensinar” (At 1.1), numa outra prova bíblica
de que o ensino foi um dos pilares de todo o ministério terreno de Cristo. De
igual maneira, a Igreja, corpo de Cristo que é (1Co 12.27; Ef 4.12), deve dar
prioridade ao ensino da Palavra de Deus enquanto o Senhor não vem para
arrebatá-la. Nossa pregação deve consistir em “ensino”, afinal, a pregação é a
comunicação verbal da Palavra de Deus aos ouvintes. É a transmissão do
evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo às pessoas que precisam ouvi-lo. Vemos
em 1Co 2.:4, que a pregação não é um simples ato de retórica, um discurso
político ou uma estratégia de ensino para transferir conhecimentos. Ela e a
"demonstração do Espírito e de poder..."
1. Seu ensino. Jesus, o homem perfeito,
foi o Mestre por excelência. A maior parte do seu ministério foi dedicada a
ensinar e a preparar os seus discípulos (Lc 4.15,31; 5.3,17; 6.6; 11.1,2;
13.10; 19.47). Portanto, o ministério de Jesus foi centralizado no ensino. As
Escrituras registram que as pessoas ficavam maravilhadas com o ensino do Senhor
(Lc 4.22). Elas já estavam acostumadas a ouvir os mestres judeus ensinando nas
sinagogas (Lc 4.20). Porém, quando ouviram Jesus ensinando, logo perceberam
algo diferente! (Mt 7.28,29) O que era? Ele as ensinava com autoridade, e não
apenas reproduzindo o que os outros disseram. A natureza de seu ensino era
diferente - seu ensino era de origem divina (Jo 7.16).
Comentário
O Rev. Hernandes Dias Lopes esclarece: “Jesus foi o maior mestre da
história. Seu nome se alteia acima dos grandes corifeus deste mundo. Sócrates
ensinou durante 40 anos. Platão ensinou 50 anos. Aristóteles encheu bibliotecas
com a sua erudição. Jesus não deixou nenhum livro, nenhum tratado nem sequer
uma página escrita. Não lecionou em nenhuma Universidade, contudo, foi o MAIOR
MESTRE do mundo. Jesus revolucionou o mundo com a sua influência e com o seu
ensino. JESUS não escreveu palavras no papel, mas gravou-as no coração dos seus
discípulos e estes, outrora acovardados tornaram-se verdadeiros gigantes da fé,
protagonistas incontestáveis da maior revolução e transformação da história:
vidas foram arrancadas do negrume da ignorância; perdidos foram encontrados,
enfermos foram curados, cegos viram, surdos ouviram, mudos falaram, os
atormentados acharam paz, os enclausurados acharam liberdade, os párias foram
dignificados e os homens rebeldes foram reconciliados com Deus. JESUS, O MESTRE
veio para mostrar aos filósofos gregos a suprema verdade, veio para vencer o
orgulhoso romano e colocar no seu estandarte uma cruz em vez de uma águia, veio
para afagar em seus braços os continentes.” William Hendriksen, no Comentário
do Novo Testamento (Cultura Cristã), comenta: “Quando Jesus parou de falar, a
grande multidão, que fascinada o ouvia, estava em estado de espanto. Em nosso
idioma é muito difícil, talvez impossível, reproduzir o exato sabor do
pitoresco verbo usado no original para descrever o estado do coração e da mente
do povo. As várias versões em português traduzem o termo por “maravilhadas”
(Atualizada), “admirou-se” (Corrigida), “extasiadas” (Bíblia de Jerusalém). The
Amplified New Testament traz: “estavam atônitos e dominados de perplexa admiração."
Essas traduções são todas elas muito úteis. O significado literal do original é
“ficaram como que fora de si”. Tem-se sugerido “tirados de seus sentidos”.
Compare-se também com o alemão “ser trazido para fora de si” (Lenski, op. cit.,
p.305) e o holandês “derrotados para fora do campo ”. O tempo do verbo mostra
que esse estado de assombro não foi só uma experiência momentânea, mas que
durou algum tempo. Poder-se-ia muito bem perguntar: Quais foram algumas das
razões desse sentimento de admiração e assombro? Mt 13.54,55 poderia fornecer
parte da resposta. Não obstante, com base no próprio sermão e em 7.28 (“não
como os seus escribas”), os seguintes temas merecem consideração: a. Ele falava
a verdade (Jo 14.6; 18.37). O arrazoado corrupto e evasivo caracterizava os
sermões de muitos dos escribas (Mt 5.21 ss.). b. Ele apresentava assuntos de
grande relevância, questões de vida, morte e eternidade. Eles com freqüência
desperdiçavam seu tempo com trivialidades (Mt 23.23; Lc 11.42). c. Havia
sistema na pregação de Jesus. Segundo o Talmude deles comprova, eles com
freqüência divagavam sem parar. d. Ele excitava a curiosidade ao fazer uso
generoso de ilustrações (5.13-16; 6.26-30; 7.24-27; etc.) e exemplos concretos
(5.21—6.24; etc.), como o sermão o revela do princípio ao fim. Os discursos
deles eram com freqüência áridos como o pó. e. Ele falava como aquele que amava
os homens, como aquele que se preocupava com o bem-estar eterno de seus
ouvintes e apontava para o Pai e seu amor (5.44-48). A falta de amor por parte
deles é evidente com base em passagens tais como 23.4,13-15; Mc 12.40; etc. f.
Finalmente, e este aspecto é o mais importante, pois ele é especificamente
declarado aqui (v.28). Ele falava “com autoridade” (Mt 5.18,26; etc.), porque
sua mensagem vinha diretamente do coração e mente do Pai (Jo 8.26), daí também
vir do mais profundo de seu próprio ser e das Escrituras (5.17; 7.12; cf.
4.4,7,10). Eles estavam constantemente aproveitando fontes falíveis, citando um
escriba ou outro. Eles tentavam tirar água de cisternas rotas. Ele extraía de
si mesmo, pois era (e é) “a fonte de águas vivas” (Jr 2.13)”.
2. Seu exemplo. Jesus ensinou seus discípulos através do exemplo:
"Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós
também" (Jo 13.15). Isso o distanciou dos escribas e fariseus que
ensinavam, mas não praticavam o que ensinavam (Mt 23.3). Os discípulos se
sentiram motivados a orar quando viram seu Mestre orando (Lc 11.1-4). As
palavras de Jesus eram acompanhadas de atitudes práticas. De nada adianta a
beleza das palavras se elas não vêm acompanhadas pelas ações (Tg 1.22). O povo
se convence mais rápido pelo que vê do que pelo que ouve. Por isso, o Mestre
exortou os seus discípulos a serem exemplos (Mt 5.16).
Comentário
Jesus foi o maior especialista na arte de ensinar. Ele é O Mestre.
Ensinou com maestria invulgar. Sobrepujou os grandes deste mundo. Foi Mestre em
grau superlativo. Dominou com capacidade inigualável todos os recursos
pedagógicos. Variava de método de acordo com as circunstâncias e pessoas. Para
cada caso, usava um método próprio e adequado. Assim o Comentário Esperança
(Editora Evangélica Esperança) comenta Jo 13.15: “Porque eu vos dei um exemplo,
para que vós façais como eu vos fiz. Representa uma distorção do evangelho se
virmos em Jesus apenas um exemplo, ao qual queremos imitar com nossas próprias
forças. Nessa leitura se ignoraria o que Jesus disse em Jo 3.1ss ao sério
fariseu Nicodemos sobre a necessidade do novo nascimento. Por outro lado,
também não podemos nem devemos negar que Jesus é exemplo. Em consonância, ele
próprio está se colocando a seus discípulos como exemplo precisamente em sua
função apostólica. Acrescenta-se que no grego a palavra como (kathos - ως -
Lê-se Óus) não possui apenas um sentido comparativo, mas também uma conotação
de justificativa. Devem fazer como Jesus fez; porém somente podem fazê-lo
porque Jesus agiu primeiro dessa forma com eles”. Ainda o Rev. Hernandes Dias
Lopes, esclarece: “Quando Jesus terminou de ensinar o “Sermão do Monte” as
multidões ficaram maravilhadas, porque ele ensinava com autoridade e não como
os escribas e fariseus. Eric Fromm nos fala de dois tipos de autoridade: 1. autoridade
imposta e 2. autoridade adquirida. O elemento mais importante na vida de um
mestre é aquilo que ele é em si. Foi isto que levou Emerson a dizer: “O que
mais importa não é o que aprendemos e sim, com quem aprendemos.” Mackinney
disse que “a vida do mestre é a lição que mais apela ao coração do aluno.” A
vida do professor é a vida do seu ensino. Schweitzer disse que “O exemplo não é
uma, mas a única maneira de ensinar.” Jesus podia ensinar sobre Mansidão (Mt
5.5) porque ele era manso aprendei de mim porque sou manso e humilde de coração
(Mt 11.28). Jesus podia ensinar sobre humildade (Mt 5.3) porque quando os
discípulos discutiam quem era o maior entre eles, Jesus tomou uma toalha e uma
bacia e lavou-lhes os pés. Jesus podia ensinar sobre o perdão porque na hora
que seus algozes o afligiam na cruz, pede a Deus para perdoá-los e ainda os
defende: porque não sabem o que fazem. Jesus viveu aquilo que ensinou, viveu
tudo antes de ensinar, e viveu tudo bem mais do que pode ensinar.
II – O
CHAMADO
1. O método. Os teólogos têm observado que o método usado por
Jesus para recrutar seus discípulos é variado. De fato, a Escritura mostra que
algumas vezes a iniciativa do chamamento parte do próprio Senhor Jesus.
Enquanto pregava e ensinava, Jesus observava as pessoas a quem iria chamar (Mc
1.16-20). Em alguns casos, o chamamento veio através da indicação do Batista
(Jo 1.35-39). Houve também pessoas que se ofereceram para serem seguidoras de
Jesus (Lc 9.57,58,61,62). E, finalmente, existiram os que foram conduzidos até
Jesus por intermédio de amigos (Jo 1.40-42,45,46). Dessa forma, todas as
classes foram alcançadas por Jesus. E foi dentre esses seguidores que Jesus
chamou doze para serem seus apóstolos (Lc 6.13-16).
Comentário
Ainda o Comentário Esperança (Editora Evangélica Esperança): “Jesus
passou a noite vigiando em oração. Mais de uma vez Lucas salientou essa
necessidade íntima que o Redentor tinha de orar. Contudo os termos aqui
utilizados contêm uma ênfase muito especial. A palavra “vigiar por toda a
noite” ocorre unicamente aqui. A escolha dessa expressão incomum, bem como a
forma verbal analítica (imperfeito e particípio), destacam a persistência
determinada e incessante dessa vigília noturna. A expressão “oração de Deus”
(προσευχή του Θεού - Lê-se - prosef̱chí̱ tou Theoú), é também única no Novo
Testamento. Essa formulação não designa nenhum pedido peculiar, mas um estado
da mais profunda devoção na presença santa e direta de Deus, uma invocação que
transita para a mais íntima comunhão com Deus. Durante essa noite Jesus
apresentou a Deus sua obra no estágio decisivo em que ingressara naquele
momento, aconselhando-se com ele. Durante essa longa luta de oração, por toda a
noite, Jesus provavelmente havia apresentado todos os seus discípulos
individualmente a seu Pai, para que o Pai designasse aqueles que o Filho
deveria tornar emissários da salvação. O que será que os discípulos, que haviam
se ajuntado em grande número em torno de Jesus, sentiram quando Jesus, como um
general, chamou um por um do meio deles, até que ficasse completo o número dos
doze? “Simão”, começou ele. Com quanta expectativa cada novo nome era
aguardado! Com que estremecimento cada um ouvia, então, o chamado do próprio
nome. Dentre o grupo de discípulos “ele escolheu os doze”, “aos quais também
chamou de apóstolos”. Isso é significativo. Os demais discípulos aceitaram que
esses doze obtivessem uma posição especial do Senhor. O Redentor os havia
escolhido em virtude de ordem divina. Deus é soberano. Os discípulos não têm
outra opção a não ser obedecer a esse Senhor extraordinário. “Chamou-os a si”.
Ele os “ordenou” para duas finalidades. 1) Primeiramente, devem estar junto
dele. Devem perseverar com ele em suas tentações até chegarem ao Getsêmani;
afinal, devem tornar-se testemunhas dele até os confins do mundo (At 1.8).
Precisavam conhecer suas “horas silenciosas”, conviver com ele no dia-a-dia,
observar seu trabalho, obter uma visão dos mistérios de sua sabedoria de
educador, e até mesmo familiarizar-se com os objetivos de sua ação. 2) O segundo
aspecto é que eles partilharão de sua autoridade. Dessa maneira ele
providencia, de certo modo, pernas e pés, línguas e lábios que levem adiante
sua obra. Mateus relata a convocação e o credenciamento dos apóstolos em uma
ocasião (Mt 10.1ss), e Lucas o faz em dois trechos, mais precisamente como
segue: de acordo com Lucas, o primeiro passo de Jesus foi nomeá-los,
provavelmente para que passassem a ser seus alunos de modo especial. Isso
aconteceu aqui em Lc 6.12-16. A capacitação é relatada em Lc 9.1-6, onde Jesus
lhes confere a autoridade para servir como apóstolos. O relato mais preciso
indica que esse deve ter sido o processo. Mateus reúne em uma só ocasião as
duas ações de Jesus. Isso tem a ver com sua característica de enfatizar
tão-somente o aspecto doutrinário e fundamental. Dessa forma o Redentor obteve,
portanto, um grupo de auxiliares para sua obra. Ele, o maravilhoso canal da
poderosa benignidade de Deus, fora multiplicado por doze. Quanto ao título
“apóstolo”, cf. o exposto no Comentário Esperança, Marcos, sobre Mc 3.13-19,
bem como Jo 17.18; 20.21; At 1.8. Essas passagens não devem levar à conclusão
que a tarefa dos apóstolos consistia tão somente em ser testemunhas de Jesus. O
próprio nome expressa mais, cf. 2Co 5.20: “Somos mensageiros de Cristo… e
rogamos que vos reconcilieis com Deus.” Com a escolha dos doze estava
organizada a obra de Jesus. Passou do estágio de fenômeno local e isolado para
o estágio de instituição que abrange e cuja intenção arrebata povos e épocas. A
obra do Senhor obteve um solo histórico firme e uma perspectiva clara para o
futuro, com todas as suas esperanças e todos os seus perigos.
2. O custo. Jesus deixa bem claro quais são as implicações
envolvidas na vida daquele que aceitasse o chamado para ser seu discípulo.
Tornar-se discípulo é bem diferente de se tornar um simples aluno. No
discipulado, o seguidor passa a conviver com o mestre, enquanto na relação
professor-aluno essa prática não está presente. O aprendizado acontece
diuturnamente, e não apenas durante algumas aulas dadas em domicílio ou numa
sala. Quem quiser segui-lo deve, portanto, avaliar os custos. Seguir a Cristo
envolve renúncia, significa submissão total a Ele. Jesus lembrou as pessoas
desse custo, pois não queria que o seguisse apenas por empolgação (Lc
14.25-27). Muitos querem ser discípulos mas não querem renunciar nada. Às vezes
precisamos sacrificar até mesmo o nosso relacionamento religioso na família,
abrir mão de algumas coisas para seguir a Jesus. O que o Mestre está requerendo
de você?
Comentário
Anthony Lee Ash em O Evangelho Segundo Lucas (Editora Vida Cristã), escreve:
“Quem se qualifica como discípulo?” (vs. 26,27,33). Essas palavras foram ditas
em vista da paixão de JESUS que estava próxima e deveriam separar o verdadeiro
discípulo dos seguidores indiferentes. O primeiro teste do discipulado se
referia aos parentes mais próximos (cf. 18:29). Jesus apoiava o amor familiar,
mas mesmo este precisa ser subordinado ao amor a Deus. Aborrecer é um termo
duro, mas o paralelo em Mateus 10:37 indica que significa “amar menos” (também
Gn 29:30; Dt 21:15). Além da família, a pessoa precisa amar a sua própria vida
menos do que ama Jesus. Vida abrange todos os interesses mundanos, até mesmo o
nosso próprio ser (cf. Jo 12:25). (27) A cruz, sugerindo um criminoso
desprezado seguindo para a sua morte terrível, amplia a idéia de aborrecer a
própria vida (veja 9:23). É preciso estar disposto, se necessário, a sofrer um
destino assim horrível por causa de Jesus. Essas palavras teriam ainda maior
significado para os cristãos depois da crucificação e ressurreição de Jesus
(cf. G1 2:20; 6:14).
III-O
TREINAMENTO
1. Mudança de destino. No treinamento dado aos discípulos, a cruz ocupa um
lugar central nos ensinamentos do Mestre (Lc 9.23; 14.27). A cruz de Cristo
aparece como um divisor de águas na vida dos discípulos. Uma mudança de rumo ou
destino. A vida com Cristo é cheia de vida, na verdade vida em abundância (Jo
10.10). Mas por outro lado, é uma vida para a morte! Quem não estivesse
disposto a morrer, não poderia ser seu seguidor autêntico. A cruz muda o
destino daquele que se torna seguidor de Jesus. Ela garante paz e vida eterna, mas
somente para aqueles que morrerem para este mundo.
Comentário
O Comentário Bíblico de William
Barclay esclarece: “Jesus estabelece as condições do serviço daqueles que o
seguem. (1) Negar-se a si mesmo. O que significa isto? Um grande erudito dá o
significado seguinte: Pedro uma vez negou a seu Senhor. Disse: "Não conheço
esse homem." Negar-nos a nós mesmos quer dizer: "Não me conheço a mim
mesmo." É ignorar a existência de si mesmo. É tratar o eu como se não
existisse. Quase sempre tratamos a nós mesmos como se nosso eu fora com muito o
mais importante do mundo. Se queremos seguir ao Jesus devemos destruir o eu e
nos esquecer de que existe. (2) Tomar sua cruz. O que significa isto? Jesus
sabia muito bem o que significava a crucificação. Quando era menino de uns onze
anos, Judas o Galileo tinha encabeçado uma rebelião contra Roma. Tinha atacado
ao exército real em Séforis (capital da Galiléia), que estava a uns seis
quilômetros de Nazaré. A vingança dos romanos foi rápida e repentina. Queimaram
a cidade integralmente; seus habitantes foram vendidos como escravos; e dois
mil rebeldes foram crucificados com o passar do caminho para que fossem uma
terrível advertência para outros que queriam fazer o mesmo. Tomar nossa cruz
significa estar preparados para enfrentar coisas como esta por nossa fidelidade
a Deus; significa estar dispostos a suportar o pior que um homem nos possa
fazer pela graça de ser fiéis para com Deus.
2. Mudança de valores. Lucas mostra Jesus instruindo os Doze antes de
enviá-los em missão evangelística (Lc 9.1-6) e, posteriormente, enviando outros
setenta após dar-lhes também instruções detalhadas (Lc 10.1-12). Para chegar a
esse ponto, muitas coisas precisaram ser mudadas na vida desses
discípulos. Uma delas, e muito importante, foi a mudança de mentalidade
dos discípulos. Jesus mudou a forma de pensar deles. Seus discípulos não
poderiam mais, por exemplo, possuir uma mente materialista como os gentios, que
não conheciam a Deus (Lc 12.22,30). Quem conhece a Jesus de verdade não fica
preocupado com o amanhã, com as coisas deste mundo, pois sabe que Ele, o Bom
Pastor, supre cada uma das nossas necessidades.
Comentário
Quanto a isso, Matthew Henry em seu Comentário Matthew Henry Novo
Testamento (Editora CPAD), esclarece o seguinte: “O Senhor os exorta a não
ficarem apreensivos com os cuidados perturbadores e desconcertantes pelas
coisas necessárias para a manutenção da vida: Não estejais apreensivos pela
vossa vida, v. 22. Na parábola anterior Ele havia nos dado aviso contra o ramo
da avareza do qual os ricos estão em maior perigo; ou seja, uma complacência
sensual quanto à abundância dos bens deste mundo. Agora os seus discípulos
poderiam pensar que não estavam correndo este risco, pois eles não tinham
fartura nem variedade em que pudessem se gloriar. Portanto, o Senhor aqui os
adverte contra um outro ramo da avareza, ao qual eles estão mais sujeitos à
tentação, o de terem apenas um pouco neste mundo (que, na melhor hipótese, era
o caso dos discípulos, muito mais agora que haviam deixado tudo para seguir a
Cristo), sentindo uma ansiosa solicitude pelas coisas que são necessárias para
a manutenção da vida: “Não estejais apreensivos pela vossa vida, seja pela
preservação dela, se estiver em perigo, ou pela provisão que deve ser feita
para ela, seja de comida ou de roupas, o que comereis ou o que vestireis” .
Esta é a advertência que o Senhor havia enfatizado, Mateus 6.25 e versículos
seguintes. E os argumentos usados aqui são em boa parte os mesmos, tendo como
propósito o nosso encorajamento para lançarmos todo o nosso cuidado sobre Deus,
que é o modo correto de nos tranquilizarmos. Uma busca excessiva e ansiosa das
coisas deste mundo, mesmo das coisas necessárias, não é algo que convenha aos
discípulos de Cristo (w. 29,30): “A despeito daquilo que outros façam, não
pergunteis o que haveis de comer ou o que haveis de beber. Não andeis inquietos
com preocupações confusas, nem vos canseis com trabalhos constantes. Não vos
apresseis em perguntar o que haveis de comer ou beber como os inimigos de Davi
que vagueavam buscando o que comer (SI 59.15) ou como a águia que, de longe,
descobre a sua presa, Jó 39.29. Que os discípulos de Cristo, portanto, não
apenas trabalhem pelo alimento, mas peçam-no a Deus todos os dias; que eles não
tenham mentes duvidosas; me meteorizesthe - Não sejam como os meteoros no ar,
que são lançados aqui e ali por todo vento; não subam ou caiam, como eles, mas
mantenham uma constância em si mesmos; sejam equilibrados e firmes, e tenham
seus corações fixos; não vivam em suspense cuidadoso; não deixem que suas
mentes fiquem continuamente perplexas entre a esperança e o medo, permanecendo
sempre angustiados”. Que os filhos de Deus não fiquem apreensivos; porque: (1)
Isto seria agir como os filhos deste mundo: “Porque os gentios do mundo buscam todas
essas coisas, v. 30. Aqueles que só buscam os cuidados do corpo, e não os da
alma, só para este mundo, e não para o porvir, não olham além daquilo que
comerão e beberão; e, não tendo um Deus totalmente suficiente para buscar e em
quem confiar, eles se sobrecarregam com cuidados ansiosos sobre estas coisas.
Mas isto não vos convém. Vós, que fostes chamados deste mundo, não deveis vos
conformar com este mundo, nem andar no caminho deste povo, Isaías 8.11,12.
Quando os cuidados excessivos dominam a nossa vida, devemos pensar: “O que sou
eu, um cristão ou um pagão? Batizado ou não batizado? Sendo um cristão
batizado, será que devo me igualar aos gentios, unindo-me a eles naquilo que
buscam?” (2) É desnecessário que eles estejam apreensivos com os cuidados pelas
coisas necessárias para o sustento da vida; porque eles têm um Pai no céu que
sempre cuida deles, que toma conta deles: “Vosso Pai sabe que necessitais
delas, e considera isto, e suprirá todas as vossas necessidades de acordo com
as riquezas da sua glória. Pois Ele é o vosso Pai, que vos fez sujeitos a estas
coisas; portanto, Ele mesmo usará sua compaixão e suprirá todas elas. Vosso
Pai, que vos sustenta, vos educa e reserva uma herança para vós, portanto, Ele
cuidará para que não vos falte nada”.
IV - A
MISSÃO
1. Pregar e ensinar. Já foi dito que o ministério de Jesus consistia no
ensino da Palavra de Deus, na pregação do Evangelho do Reino e na cura dos
doentes (Mt 4.23; Lc 4.44; 8.1). No texto de Lucas 9.1,2, vemos Jesus enviando
os doze: "E, convocando os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder
sobre todos os demônios e para curarem enfermidades; e enviou-os a pregar o
Reino de Deus e a curar os enfermos". "Pregar" é a tradução do
verbo grego kerysso, que possui o sentido de "proclamar como um
arauto". Jesus treinou seus discípulos com uma missão específica - serem
proclamadores da mensagem do Reino de Deus. Proclamar o Evangelho do Reino
ainda continua sendo a principal missão do Corpo de Cristo! Quando a Igreja se
esquece desse princípio, ela perde o seu foco.
Comentário
Jesus anunciou o Reino pregando a Palavra de Deus e curando os enfermos.
Se Ele tivesse se limitado a pregar, as pessoas poderiam imaginar o seu Reino
com um caráter apenas espiritual. Por outro lado, se tivesse curado sem pregar,
talvez elas não percebessem a importância espiritual da missão de Jesus. A
maioria dos ouvintes esperava um Messias que traria riqueza e poder à nação
judaica; o povo preferia os benefícios materiais ao discernimento espiritual. A
verdade sobre Jesus é que Ele é o Deus encarnado, tem duas naturezas: uma
divina e outra humana; possui espírito, alma e corpo; a salvação que Ele
oferece é tanto para a alma quanto para o corpo. Qualquer ensino que enfatize a
salvação da alma à custa do corpo ou o contrário distorce as Boas Novas de Jesus
Cristo. Russell Norman Champlin escreve em sua Enciclopédia de Bíblia Teologia
e Filosofia (Vol. 5) (Editora Hagnos): “A grande abundância de referências ao
ensino e à pregação demonstra o papel primordial dessas funções, no Novo
Testamento. O texto de I Cor. 1:18,21 mostra-nos que, no conceito dos gregos
incrédulos, a pregação era uma «tolice». Eles preferiam a sabedoria filosófica.
Porém, através da pregação do evangelho é que a salvação é outorgada aos
homens. O trecho de Rom. 10:14,15 mostra que o pregador é uma figura necessária
dentro do modus operandi de Deus, para anunciar a mensagem de Deus aos homens.
O próprio Senhor Jesus deixou-nos o exemplo, tendo sido ele o supremo
pregador”.
2. Libertar e curar. O Evangelho de Cristo provê tanto a cura para a
alma como também para o corpo. O Evangelho de Mateus revela com clareza que o
Senhor Jesus proveu tanto a cura como a libertação para todos aqueles que se
achegavam a Ele com fé e contrição (Mt 8.16,17). Frank Stagg, teólogo
americano, observa que embora a obra redentora de Cristo tenha o seu centro na
cruz, Ele já era redentor da doença e do pecado durante o seu ministério
terreno. Os discípulos, portanto, precisavam levar à frente essa verdade a
todos os locais.
Comentário
Russell Norman Champlin em O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo (Editora Candeias), escreve: «ELE MESMO tomou as nossas enfermidades
e carregou com as nossas doenças». Profecia messiânica, que se acha em Is.
53:4. A citação foi tirada do hebraico, porque a LXX interpreta essa profecia
como referência ao pecado. No grego a expressão é enfática. O Messias, Cristo
Jesus, veio com a finalidade de aliviar (ευκολία - Lê-se - ef̱kolíá) o
sofrimento humano. Esse versículo tem recebido diversas interpretações: 1.
Refere-se ao ministério espiritual do Messias, ao levar o pecado do mundo. O
texto de Isaías aborda exatamente isso, e a LXX reflete isso na tradução. 2.
Segundo o uso de Mateus, indica apenas as doenças físicas. A profecia, pois,
expõe outro aspecto do ministério de Cristo; sem mencionar aqui a expiação pelo
pecado. 3. Refere-se a ambas as coisas — o pecado e as enfermidades e doenças
—, provavelmente considerando as doenças como resultantes do pecado, ou então
com ligação direta ao pecado; o Messias veio para tratar da enfermidade
espiritual e física da natureza humana. Provavelmente o autor do evangelho
concordaria com esta interpretação. Essa doutrina tem recebido várias
interpretações exageradas, como: 1. A cura física está incorporada na expiação
pelo pecado, e assim sendo, nunca é da vontade de Deus que seu povo adoeça. É
verdade que, no fim, a expiação terá o efeito de eliminar as enfermidades
físicas, mas isso só ocorrerá da transformação operada na ressurreição. Não é
menos ridículo dizer que a morte física é agora eliminada pela expiação, isto
é, a morte no presente. A morte física geralmente -e resultado das doenças. A
expiação também elimina a morte na raça humana, mas isso só será total após o
arrebatamento e depois do milênio (I Cor. 15:24-26). A expiação eliminará
finalmente as doenças, mas dizer que isso ocorre no presente é exagerar a
doutrina. O próprio Paulo sofreu fisicamente. (Ver II Cor. 12:7). Paulo nunca
atingiu a perfeição nesta vida (Fp. 3:12). João declarou enfaticamente a
permanência do pecado (I João 1:8), e somente o equivoco pode levar as pessoas
a pensar de outro modo. Enquanto permanecer o pecado, permanecerão as
enfermidades. 2. Outros abusam desse versículo, dizendo que Jesus sofreu de
esgotamento espiritual por haver carregado os nossos pecados e doenças em
oportunidades como esta. Não há que duvidar que algumas vezes ele sofreu de
esgotamento físico e mental. Ver Marc. 5:30, quando dele saiu poder, ao curar;
ver também Luc. 22:44 e Marc. 15:21. Finalmente, seria um erro não notar que
este versículo (além de ensinar certas doutrinas) mostra principalmente a
simpatia e o espírito de misericórdia de Jesus para com a raça humana. Jesus
não operou milagres para mostrar sua divindade, ilustrar as doutrinas, etc. ,
mas para aliviar o sofrimento humano, porquanto, como homem, participou desses
sofrimentos e simpatizou com os homens. O versículo demonstra, mais do que
qualquer outra coisa, a compaixão de Jesus. Ainda cito William Barclay em seu
Comentário Bíblico: “Sem dúvida, tinha ensinado e pregado, e certamente se
teria encontrado com seus acérrimos (Insistentes) adversários. Agora tinha
chegado a tarde. Deus deu aos homens o dia para trabalhar e a noite para o
descanso. A tarde é o momento quando se deixa de lado o trabalho e começa o
repouso. Mas não era assim para Jesus. No momento em que ele também necessitava
o descanso, viu-se rodeado das clamorosas necessidades humanas e sem egoísmo,
sem protestar, com uma generosidade divina, saiu ao encontro dos homens.
Enquanto houvesse uma alma necessitada, não haveria descanso para Jesus. Esta
cena traz à mente de Mateus certas palavras de Isaías (Isaías 53:4) onde se diz
que o Servo de Deus levou nossas enfermidades e sofreu nossas dores. O
discípulo de Cristo não pode procurar descanso quando ainda há quem necessita
ajuda e saúde; e o mais estranho é que seu cansaço desaparecerá e sua fraqueza
se fortalecerá quando usar suas energias para ajudar a outros. De algum modo,
quando chegarem as demandas, também virá o poder. E sentirá que pode seguir
adiante por amor dos outros quando por si mesmo não daria mais nenhum passo”.
CONCLUSÃO
Aprendemos nesta lição sobre a importância que o
ensino tem na formação do caráter cristão. Jesus ensinou os seus discípulos,
mas não os ensinou de qualquer forma nem tampouco lhes deu qualquer coisa como
conteúdo. Ele lhes ensinou a Palavra de Deus. Mas até mesmo o ensino da Palavra
de Deus, para ter eficácia, precisa ser acompanhada pelo exemplo, valer-se de
recursos didáticos eficientes, firmar-se em valores e possuir um objetivo claro
e definido. Tudo isso encontramos com abundância nos ensinos de Jesus. Ao
seguir seus ensinos, temos a garantia de que o hiato existente entre o
professor e o aluno, entre o educador e o educando, desaparecerão. Dessa forma
teremos um ensino eficiente.
Comentário
Há uma frase atribuía da à Confúcio que diz: “A palavra convence, o
exemplo arrasta”. Influenciar na vida das pessoas que estão ao nosso redor
exige muito esforço, ideias e riscos, mas isso não poderia ser diferente.
Aceitemos ou não, somos influenciados uns pelos outros. Não há como viver de
modo independente, pois tentar viver uma vida isolada não seria natural. Além
do que conduziria à insanidade. Em se tratando de ensinar pelo exemplo, Jesus é
o mestre por excelência porque ensinou as verdades eternas e Ele era, é e será
esta própria verdade. Jesus é o mestre por excelência porque foi o exemplo vivo
de seus ensinamentos. Jesus amou seus alunos e lapidou-os, preparou-os para a
vida, valorizou-os e fez deles uma bênção para o mundo: PEDRO = pedra bruta –
pregador poderoso. JOÃO, FILHO DO TROVÃO – discípulo do amor. Que possamos,
destarte, como Paulo em 1Co 11.1, afirmar: “Sede meus imitadores, como também
eu o sou de Cristo” ou numa melhor tradução: Sigam o meu
exemplo como eu sigo o exemplo de Cristo! NaquEle que me garante: "Pela graça
sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef
2.8)”.
Deus abençoe a todos!