No meio cristão, há quem se posicione favoravelmente a essa
ideia, como o pastor Silas Malafaia, ferrenho opositor do PT, mas
também há evangélicos simpatizantes da ideologia do Partido dos Trabalhadores,
que argumentam que quando um cristão pede a destituição da presidente, está
desobedecendo a Bíblia Sagrada, que em Romanos 13 orienta a sermos leais às
autoridades pois estas são constituídas por Deus.
Dentro desse cenário de dúvidas, o pastor Renato
Vargens, escritor e líder da Igreja Cristã da Aliança, publicou um artigo no blog Púlpito Cristão falando
sobre o assunto, e observou que exigir boa conduta dos políticos e cobrar
investigações contra a corrupção é uma postura encorajada pela lei.
“O Brasil está passando por uma de suas mais
severas crises. Corrupção, mal uso do dinheiro público, falência estatal, alta
do dólar, economia desaquecida, volta da inflação e a aprovação de leis
arbitrárias, tem nos trazido a sensação de que estamos mergulhados num mar de
lama. Diante disto, uma enorme parcela da população tem demonstrado sua
insatisfação com o governo Dilma Rousseff. Nessa perspectiva, juristas de
renome tem falado do impeachment e de improbidade administrativa, além é claro,
de milhões de cidadãos, que tem defendido a ideia de que mediante as vias
legais, Dilma sofra um impeachment”, introduziu o pastor.
Sobre as argumentações de que pedir a destituição
da presidente seria desobedecer a Bíblia, o pastor rebate: “Julgo que seja
necessário, explicar à luz das Escrituras que defender o impeachment de um
governante não significa de maneira alguma ou desrespeitar as Escrituras”,
pontuou.
“[É] necessário que entendamos que as Escrituras
ensinam que nossa obediência a Deus não é opcional. Na verdade, somos chamados
a obedecer ao Senhor em tudo e em todas as coisas. Todavia, ao contrário disto,
a nossa submissão às autoridades governamentais, devem ser constantemente
avaliadas. Na verdade, o cristão necessita averiguar se as leis aplicadas e
defendidas pelos governantes infringem os princípios bíblicos, induzindo assim
o servo de Cristo a cometer atos contrários à inerrante Palavra de Deus. O
reformador francês João Calvino afirmava que a desobediência civil ou a
rebelião somente se justificam quando o Estado quer obrigar as pessoas a
desobedeceram a Deus. Segundo as Escrituras, se isso efetivamente acontecer
devemos recusar obedecer as leis contrárias a Palavra do Senhor permanecendo
fiéis àquele que nos salvou (Atos 4. 19-21, 31; Daniel 3:14-23). Calvino também
dizia que apesar do Estado ser fruto de uma ordem divina, ele não pode ocupar
em hipótese alguma o lugar de Deus. O reformador também afirmava que apesar de
Deus ter ordenado o governo, Ele continua sendo Senhor sobre a sua ordenação, e
o governo continua sujeito a Ele”, explicou Renato Vargens.
De acordo com o pastor, outro fator que abre as
portas para que um cristão considere ser favorável, ou não, a um processo de
deposição legal de um presidente é a legislação atual em vigor no país.
“O processo
de impeachment em nosso país não é um golpe de Estado, nem tampouco uma
insubordinação ao governo estabelecido. No Brasil. o Impeachment de um
governante é uma regra constitucional e republicana, portanto, lícita. Segundo
a constituição brasileira, (Constituição Brasileira, Artigo 85, V) o presidente
da República dentre inúmeras responsabilidades, deve zelar pela probidade da
administração, o que não tem sido feito pela presidente Dilma Rousseff”, frisou
Vargens.
Por fim, o pastor pondera que todas as
manifestações devem ser no sentido de aplicar os meios legais à questão: “Ao
defender o impeachment da presidente, o cidadão não comete nenhum tipo de
desobediência civil. Antes pelo contrário, ele submete ao Congresso Nacional o
desejo de grande parte da população, que investida de direito constitucional,
clama aos seus congressistas que mediante votação justa e transparente,
intervenha no governo de um presidente, destituindo-o do cargo, reconduzindo
assim o país as vias da decência, moralidade e probidade administrativa”.
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