Estamos disponibilizando pra
você todo início de semana, mais um comentário sobre cada lição da EBD. Assim
fazemos, para que os irmãos possam melhor preparar sua aula. Cada item, tem um
comentário, para que o amado leitor entenda melhor os tópicos da lição.
Estudaremos esta semana a lição de nº 12 que tem como título: NÃO COBIÇARÁS.
Para cada tópico, deixamos o nosso comentário. Fizemos cuidadosa pesquisa a
respeito dessa tão importante lição. Buscamos auxílio e Ainda recorremos a
vários mestres no assunto, para que pudéssemos aplicá-lo para o seu melhor
entendimento. Em caso de dúvidas com relação ao assunto, deixe seu
comentário, a sua dúvida, no final desta postagem, que responderemos com todo
prazer a sua pergunta. Espero que satisfaça a todos e uma boa aula.
INTRODUÇÃO
O décimo mandamento envolve atos e sentimentos. O
sétimo mandamento proíbe o adultério, e aqui Deus proíbe o desejo de adulterar.
O Senhor Jesus foi direto ao ponto: "qualquer que atentar numa mulher para
a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela" (Mt 5.28). O último
mandamento protege o ser humano de ambições erradas. A cobiça infecta pobres e
ricos nas suas mais diversas formas.
Comentário
Segundo Agostinho, quando desejamos mais do que o
suficiente, estamos cobiçando. Cobiçar poderia ser traduzido também por “ansiar
por”. Calvino dirá que “a suma (desse mandamento) é que não surja em nós um
pensamento que mova a nossa alma por uma concupiscência prejudicial e inclinada
para a queda do outro”. Calvino brilhantemente escreve, nas Institutas, que a
finalidade do décimo mandamento é que afastemos do nosso coração todo desejo
que seja contrário ao amor e à caridade, visto que Deus quer que a nossa alma
esteja dominada por essas qualidades (amor e caridade), e que de amor
transborde. Não devemos, pois, acolher nenhum pensamento que possa induzir o
nosso coração a alguma concupiscência ou cobiça que leve o nosso próximo a
sofrer algum dano ou prejuízo. Assim agindo estaremos observando o preceito
afirmativamente, pois dessa forma ele determina que tudo o que imaginarmos,
deliberarmos, desejarmos ou buscarmos esteja em harmonia com o bem do nosso
próximo e com o que lhe é útil e proveitoso. Convido
você para mergulharmos mais fundo nas Escrituras!
I. O Décimo
Mandamento
1. Abrangência. O tema diz respeito à proibição da concupiscência
da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida (Gn 3.6; 1 Jo 2.16).
Isso envolve muitos tipos de pecado como sensualidade, luxúria, busca
desenfreada por possessões ilícitas, obsessão pelo poder, ostentação esnobe e
orgulho. Esse mal continua no gênero humano desde a sua queda até a atualidade.
Comentário
Antes de qualquer coisa é preciso deixar bem claro a diferença existente
entre cobiça, ambição e ganância. É possível confundirmos uma coisa com a outra
e esta confusão pode nos levar a diversas interpretações equivocadas. Portanto,
estejam atentos: Ambição é querer mais, ganância é nunca estar satisfeito e
cobiça é querer o que não é legítimo. Sendo assim, não existe pecado na
ambição, afinal, não devemos nos contentar com as migalhas e o resto quando é
possível sermos melhores, termos mais, usufruirmos melhor. Deus nos prometeu
uma mesa posta e cálice transbordando. Se podemos e temos condições, devemos
correr atrás. Já a ganância é perniciosa. Ela é um pouco diferente da ambição,
pois o ganancioso não sabe parar, não se contenta. O descontentamento pode, e
normalmente leva o ganancioso a atitudes pecaminosas. Por só enxergar aquilo
que ainda não possui, o ganancio não consegue ser grato e não desfruta daquilo
que já possui. Mas a cobiça é o pior de tudo! Ela estimula a posse por
usurpação e agarra-se ao que não é permitido. Enquanto a ambição e ganância
buscam coisas legítimas e permitidas, a cobiça deseja aquilo que é proibido.
Ela é irmã da inveja e é diretamente condenada e proibida por Deus: “Não
cobiçarás”. Neste ponto, no tocante ao décimo mandamento, aprendemos que a lei
aplica-se não somente aos atos, mas também aos sentimentos e intenções do
coração. Em outras palavras, a lei envolvia sentimentos interiores, e não
apenas atos externos. O sétimo mandamento proíbe o sexo com a mulher de outro
homem; e o décimo mandamento proíbe o desejo disso. Neste ponto, a lei
aproxima-se da abordagem feita por Jesus a respeito, em Mat. 5.21 ss. Todos os
pensamentos devem ser levados ao cativeiro a Cristo (II Cor. 10.5). Se o oitavo
mandamento proíbe o roubo, 0 décimo proíbe até mesmo o desejo de roubar. Por
conseguinte, o décimo mandamento opera como uma espécie de limiar das noções
neotestamentárias sobre essas mesmas questões. O Novo Testamento repete dez dos
mandamentos, deixando de fora aquele atinente ao sábado. Mas o dia do Senhor ou
domingo, embora não seja um sábado ou descanso, envolve as implicações
espirituais do mandamento relativo ao sábado, enaltecendo e iluminando o
sentido espiritual do sábado.
2. Objetivo. O propósito divino é estabelecer limites à vontade
humana, para que haja respeito mútuo entre as pessoas e seus bens. Muitos
outros vícios acompanham a cobiça, como lascívia, concupiscência, inveja e
avareza, entre outros (Gl 5.20,21; Tg 4.2). Não pode haver paz num contexto
como esse. É necessário que cada pessoa se controle para viver uma vida
virtuosa, e isso é fundamental na construção de uma sociedade justa e feliz.
Melhor é o que domina seu espírito do que o que toma uma cidade (Pv 16.32). Nós
levamos vantagem por termos Jesus e o Espírito Santo (Gl 2.20; 5.5).
Comentário
A vontade de Deus expressa nesse último mandamento
do Decálogo é que haja pleno contentamento com aquilo que temos e com a nossa
condição: "Contentai-vos com o vosso soldo" (Lc 3.14), ensino de João
Batista para os militares. "Mas é grande ganho a piedade com
contentamento" (1 Tm 6.6). Quem tem Jesus não está obcecado pelas riquezas
materiais, pois tem em seu interior algo muito mais valioso que os tesouros do
mundo. A NTLH traduz esse versículo da seguinte forma: "É claro que a
religião é uma fonte de muita riqueza, mas só para a pessoa que se contenta com
o que tem”. A Bíblia nos exorta ainda: "contentando-vos com o que
tendes" (Hb 13.5). Há aqui certo paralelo com Filipenses 4.11. Mas convém
ressaltar que todas essas exortações não são uma apologia à pobreza nem uma
defesa do status quo econômico; é uma recomendação para que nossos desejos não
vendam desagradar a DEUS nem causar danos ao nosso próximo (Rm 12.15). A
conduta do cristão deve ser a de se alegrar com que os se alegram e chorar com
os que choram (Rm 12.15). Ninguém deve ser dominado pela inveja (G1 5.26; Tg
4.14-16) nem alimentar o sentimento de tristeza pelo sucesso alheio (Ne2.10;Sl
112.9,10). Glorifique a Deus pelas bênçãos e pelo sucesso do seu irmão, e você
será abençoado também, a seu tempo (Ec 3.1-8). Somos pessoas ambiciosas. Vivemos
numa sociedade que estimula essa nossa ambição natural e, frequentemente, nos
diz: “que somos o que temos”, ou que “valemos o que temos”, daí a nossa busca
desenfreada por status e poder. Por exemplo, o que fazemos quando compramos um
carro novo? Geralmente vamos mostrá-lo a alguém, como se não houvesse graça
consegui-lo se não existir alguém para cobiça-lo.
3. Contexto. Há algumas variações entre os dois textos (Êx
20.17; Dt 5.21). A ordem das cláusulas está invertida. Em Deuteronômio, aparece
um sinônimo do verbo "cobiçar" e acrescenta-se a palavra
"campo". Isso mostra que o formato de Êxodo está adaptado ao estilo
nômade de vida de Israel no deserto, ao passo que Deuteronômio é o modelo para
o país prestes a ser estabelecido na terra de Canaã.
Comentário
O décimo mandamento aparece expandido em
Deuteronômio em relação ao texto de Êxodo e inclui o campo do próximo na lista
das coisas que não devem ser cobiçadas. Alguns críticos estranham a inversão
das cláusulas, pois a fraseologia de Êxodo começa por não cobiçar a casa do
próximo e em seguida vem a proibição de não cobiçar a mulher do próximo, mas em
Deuteronômio essa ordem é invertida: primeiro vem a mulher e depois a casa.
Ambos textos, contudo, proíbem a cobiça de bens e pessoas, além da mulher ou do
esposo, pois a mulher pode também cobiçar o marido alheio, o servo e a serva do
próximo; propriedades-, casa e campo; o termo "casa" aparece muitas
vezes na Bíblia com o sentido de "família" (Js 24.15; At 16.31), mas
parece não ser essa a ideia aqui; e semoventes: boi, jumento ou qualquer outra
coisa. A frase final "nem coisa alguma do teu próximo" inclui posição
social ou ascensão no trabalho. Há discussão sobre a substituição de hãmad por
’ãwãh na segunda cláusula do décimo mandamento (Dt 5.21). O verbo hãmad aqui
aparece com a esposa do próximo e ’ãwãh com as demais coisas. Isso pode levar
alguém a pensar em hãmad como um tipo sensual de desejo, mas isso não procede
por duas razões principais: a) é usado para bens móveis e imóveis (Js 7.21; Mq
2.2); b) ambos os termos aparecem como sinônimos (Gn 3.6; Pv 6.25; Sl 68.17).
Parece que 'ãwãh diz respeito a um tipo de desejo casual. O formato textual de
Êxodo está adaptado ao estilo nômade de vida de Israel no deserto, ao passo que
Deuteronômio, quase 40 anos depois, é o modelo para o povo prestes a ser
estabelecido na terra de Canaã como país
4. Esclarecimento. Os católicos romanos e os luteranos dividem em dois
o décimo mandamento: "Não cobiçarás a casa do teu próximo", um; e
"Não cobiçarás a mulher do teu próximo" (Êx 20.17), dois. Enquanto
essas sentenças são lidas como mandamentos distintos, eles consideram "Não
terás outros deuses [...]" e "Não farás para ti imagem de escultura
[...]" como um único mandamento. Na soma permanecem os dez mandamentos.
Ambos mantiveram a tradição catequética medieval desde Agostinho de Hipona. Nós
seguimos o sistema das igrejas reformadas, que vem dos judeus e é anterior a
tudo isso (cf. Flávio Josefo. História dos Hebreus. Edição CPAD, pp.165-66).
Comentário
Já vimos que o Decálogo está estruturado em duas
seções identificadas com a primeira e a segunda tábuas, as tábuas de pedra em
que foram escritos os Dez Mandamentos, literalmente as dez palavras. A primeira
contém os compromissos do israelita diante de Deus, e a segunda de sua
responsabilidade para com o próximo. Os dois grandes mandamentos citados por
Jesus podem ser um resumo dessas duas tábuas. Esses mandamentos estão dispostos
numa sequência lógica. O quinto mandamento é uma ponte que une o conteúdo das
duas tábuas. Em seguida vem a proteção da vida: “Não matarás"; depois a
proteção da família: "Não adulterarás"; a proteção da propriedade: "Não
furtarás"; a proteção da honra: "Não dirás falso testemunho contra o
teu próximo"; e o último protege o israelita de ambições erradas. Os
católicos romanos e os luteranos mantiveram a tradição catequética medieval do
Decálogo esboçada por Agostinho de Hipona e que predominou durante a Idade
Média. Os dois primeiros mandamentos são considerados um só, e o décimo é
dividido em dois. "Não cobiçarás a casa do teu próximo" é o nono, e
Não cobiçarás a mulher do teu próximo" (Êx 20.17), o décimo. Qualquer
pessoa pode observar sem muito esforço que tal arranjo e uma camisa de força,
pois não corresponde à divisão natural (Êx 20.1-17; Dt 5.7-21). Além disso, o
Decálogo do catolicismo romano não é bíblico, trata-se de uma interpretação com
lentes papistas. Nós seguimos o arranjo das igrejas ortodoxas e protestantes
reformadas, que vem desde os antigos judeus (Josefo, Antiguidades Judaicas,
Livro 3, 4.113, edição CPAD
II. Cobiça
1. Significado. O verbo hebraico hamad indica o ato de desejar
aquilo que é gerado pela emoção, que começa com a impressão visual pela coisa
ou pessoa desejada. Tudo isso se resume a "desejar, tentar adquirir,
almejar, cobiçar". O termo é usado para "encontrar prazer em"
(Is 1.29; 53.2). Hamad aparece duas vezes aqui no décimo mandamento (Êx 20.17).
A Septuaginta traduz pelo verbo epithymeo, literalmente, "fixar desejo
sobre"; de epi, "sobre", e thymos, "paixão, ira". O
termo em ambas as línguas pode se referir a coisa boa ou coisa má, dependendo
do contexto (Mt 5.28; 13.17).
Comentário
O termo hebraico “hãmad” (desejar) é um termo
neutro. É apenas quando ele é mal orientado que se torna errado. Quando o texto
diz: “Não cobiçarás a casa do teu próximo”, o termo “casa” é aqui usado no
sentido primitivo, e significa família. Isso incluía esposa, filhos e servos.
Quando o texto se refere a “boi e jumento” está falando da riqueza típica do
camponês seminômade israelita que vivia naquele período conhecido como idade do
bronze. A Enciclopédia da Bíblia (Cultura Cristã) comenta o seguinte: “Um pecado mencionado frequentemente no AT e
no NT. É considerado como a raiz de outras iniquidades sérias e mortais. Várias
palavras hebraicas e gregas são assim traduzidas. Muitas possuem pequenas
variações de significado, todas estão relacionadas à lei mosaica que proíbe
expressamente a cobiça. O termo que aparece em Êxodo 20.17 é o hebraico,
significando “desejar intensamente”. Assim como os outros termos para “cobiça”,
nas Escrituras, esta palavra tem em vista o amor e o desejo intenso por
qualquer objeto ou pessoa, um desejo ao qual é dado importância humana e comum,
e que se toma substituto da devoção e amor devidos a DEUS. Por causa da sua
intensidade, este desejo tende a ofuscar as exigências morais da lei e a
permitir que o fim. a posse do objeto cobiçado, justifique quaisquer meios para
sua obtenção. Outros termos para desejo e amor são usados no mesmo sentido no
AT, “TK (Dt 5.21 et al.), e o m (Hc 2.9, et al.). No NT o verbo grego. “desejo”,
“anseio”, é usado frequentemente para traduzir os termos hebraicos acima, na
LXX e em muitas outras passagens do NT. onde nem sempre é traduzido como
“cobiçar”. Ele aparece em Lucas 22.15, e a forma substantiva aparece em muitas
outras passagens. Outro substantivo comum é o grego significando literalmente
“ganância”, “desejo insaciável” (Lc 12.15). Um termo muito interessante,
frequentemente traduzido como “cobiça”, é o grego uma combinação de “amor” +
“prata”, a ilustração mais clara de avareza dada nas Escrituras (Lc 16.14; l Tm
6.10). Todos estes termos descrevem o intenso materialismo e hedonismo que
caracterizaram a era helenística e que levaram à fundação de escolas
filosóficas como o Epicurismo”.
2. Cobiçar. Desejar o que pertence a outro é o pecado que o
décimo mandamento condena. O Novo Testamento menciona esse último mandamento do
Decálogo (Rm 7.7; 13.9). Trata-se de cobiçar a casa do outro, a mulher do
próximo e em seguida o mandamento inclui servo e serva, boi e jumento, e
termina com as palavras "nem coisa alguma do teu próximo". A cobiça é
o desejo excessivo de possuir aquilo que pertence ao outro. A descrição deixa
claro que não se trata de simplesmente almejar uma casa ou um boi, mas de desejos
incontroláveis de possuir a casa e o boi que já tem dono, e isso por meio
ilícito (At 20.33; 1 Co 10.6; Tg 4.2). É o mesmo que roubar (Mq 2.2).
Comentário
A cobiça pode ser definida como o desejo
desordenado de adquirir coisas, posição social, fama, proeminência secular ou
religiosa, etc. Pode incluir a tentativa de apossar-se do que pertence ao
próximo. A cobiça geralmente aumenta com a idade, ao invés de diminuir, dando
origem a certo número de males. A cobiça promove a alienação de Deus, a
opressão e a crueldade contra o próximo, a traição e as manipulações e
desonestidades de toda espécie. £ um dos principais fatores por detrás de todas
as guerras. Os indivíduos e os grupos mostram-se cobiçosos. As nações
incorporam o princípio da cobiça em suas leis. Os hebreus condenavam esse
pecado, que aparece como um dos dez mandamentos (que vide). Aparece em Êxodo
20.17. A mensagem é que coisa alguma pertencente a outrem, deve ser desejado.
Quase sempre, o desejo desordenado da cobiça provoca alguma ação para que o cobiçoso
adquira o que quer, ou para que persiga o possuidor do objeto ou da pessoa
cobiçados. Esse mandamento chega perto do adultério, visto que uma das coisas
que pode ser cobiçada é a esposa de outro homem. O Novo Testamento Condena
Também a Cobiça. Os cobiçosos anelam por ter mais dinheiro (At 20.33; 1Tm 6.9;
Rm 7.7). A cobiça pode expressar-se sob a forma de violência (2Co 2.11; 7.2).
Mas Jesus repudiou o espírito ganancioso (Mt 7.22). A cobiça é alistada entre
os pecados frisados por Paulo, em Efésios 4.19. A cobiça é uma forma de
auto-adoração que expulsa Deus de nossas vidas (Ef 5.5; Cl 3.5). Aparece
na lista dos vícios dos povos pagãos, em Romanos 1.29.' Apesar de não ser
especificamente alistada entre-as obras da carne, em Gálatas 5.19-21, a cobiça
é uma das causas de várias daquelas obras carnais, como o adultério, o ódio, as
dissensões, a beligerância, etc., devendo ser incluída entre as «tais coisas»
que Paulo mencionou, e que não permitem que uma pessoa chegue ao reino de Deus
(Gl 5.21).
3. O texto paralelo. Como
ficou dito antes, o décimo mandamento em Deuteronômio não segue rigorosamente o
registro de Êxodo. Mas isso não altera o sentido da mensagem. O segundo verbo
empregado para "cobiçar" é awah, que significa "desejar
ardentemente, ansiar, almejar, cobiçar". Aparece ao lado de hamad (Gn 3.6)
e, como termo alternativo, em "não cobiçarás a mulher do teu próximo"
(Dt 5.21). A Septuaginta traduz os dois verbos igualmente por epithymeo.
Comentário
Dt 5.21. A última lei do Decálogo, referente à
cobiça, exige comentários especiais. Trata da motivação intrínseca. A
fraseologia difere um pouco da utilizada em Êxodo 20: 17, onde a casa do
próximo (possivelmente “família e propriedades”) é mencionada antes da mulher
do próximo e aparece separadamente com o verbo hàmad, ao passo que outros itens
são mencionados numa outra frase, juntamente com a esposa, governados pelo
mesmo verbo. Em Deuteronômio a esposa aparece em primeiro lugar, com o verbo
hãmãd, ao passo que os outros itens são agrupados com um verbo diferente (hifawwâ).
A passagem em Deuteronômio sugere uma atitude diferente da demonstrada em Êxodo
para com as mulheres. Há exemplos desta atitude mais sensível para com as
mulheres em Deuteronômio, como por exemplo, 21: 1-5.
III. A VINHA
DE NABOTE
1. Proposta recusada. O relato bíblico do confisco criminoso da vinha de
Nabote é um dos mais chocantes da Bíblia e serve como amostra do que a cobiça é
capaz de fazer. A vinha de Nabote era uma propriedade vizinha ao palácio do rei
Acabe, em Samaria. O rei apresentou uma proposta de compra ou troca
aparentemente justa. Mas Nabote recusou a oferta do rei: "Guarde-me o
SENHOR de que eu te dê a herança de meus pais" (vv. 1-3). Havia nessa
recusa uma questão familiar, cultural e religiosa. A propriedade era um bem
sagrado que não se transferia definitivamente para outra família (Lv 25.23-25;
Nm 36.7).
Comentário
I Reis 21.1-3 Acabe cobiçando a vinha de seu
vizinho, que infelizmente está perto de seu palácio e que poderia servir muito
bem de horta. Talvez Nabote estivesse satisfeito de ter uma vinha cuja
localização dava, de maneira vantajosa, vista para os jardins reais, ou de
vender a sua produção à família real; mas a sua localização mostrou- se fatal
para ele. Se ele não tivesse nenhuma vinha, ou ela ficasse em algum lugar distante,
teria preservado a sua vida. Porém, muitas posses de um homem são a sua
armadilha e o viver próximo da nobreza tem sido de perniciosa consequência.
Acabe colocou seus olhos e o seu coração nessa vinha (v. 2). Ela será uma bela
adição ao seu domínio, uma passagem conveniente para o seu palácio; e nada lhe
satisfará a não ser que ela se torne dele. Ele é bem-vindo para desfrutar de
seus frutos, bem-vindo para passear por ela. Talvez Nabote fizesse um
arrendamento por toda sua vida, para agradá-lo; mas nada satisfará a Acabe, a
não sei’ que ele tenha absoluta propriedade
dela, ele e seus herdeiros para sempre. Mas ele não é um tirano para tomá-la à
força, mas de modo conveniente propõe ou dar a Nabote dinheiro pelo pleno valor
dela ou uma vinha melhor em troca. Ele tinha mansamente abandonado as grandes
vantagens que Deus lhe tinha dado de expandir seus domínios para a honra do seu
reino, com sua vitória sobre os sírios, mas agora está ansioso por aumentar seu
jardim, apenas para a conveniência da sua casa, como se ser cauteloso nas
pequenas coisas o redimisse de ser tolo nas grandes. Não era mal desejar algo
bom para sua propriedade (não haveria nenhuma compra se não houvesse nenhum
desejo pelo que é comprado. A mulher virtuosa examina uma herdade e adquire-a)',
mas desejar qualquer coisa imoderadamente, embora a adquirindo por meios
legítimos, é um fruto do egoísmo, como se nós devêssemos absorver todas as
conveniências, e ninguém devesse viver, ou viver confortavelmente, junto a nós,
contrariando a lei do contentamento, e a letra do décimo mandamento: não
cobiçareis a casa do teu próximo.
A recusa que ele encontrou em relação ao seu
desejo. De forma alguma Nabote desistiria dela: guarde-me o Senhor (v. 3); e o
Senhor tinha mesmo proibido a negociação, do contrário ele não teria sido tão
rude e descortês para com o seu príncipe não o satisfazendo em um assunto tão
pequeno. De forma peculiar, Canaã era a terra de Deus, os israelitas eram os
seus arrendatários, e essa era uma das condições do seu arrendamento, que eles
não alienassem (não, nunca para outra pessoa) qualquer parte daquilo que caísse
como seu lote, a menos em caso de extrema necessidade, e então apenas até o ano
do jubileu (Lv 25.28). Agora Nabote previa que, se a sua vinha fosse vendida
para a coroa, ela jamais retornaria para seus herdeiros, não mesmo, nem no
jubileu. De bom grado ele favoreceria ao rei, mas devia obedecer a Deus mais do
que aos homens, e por isso, deseja ser desculpado quanto a esse assunto. Acabe
conhecia a lei, ou devia conhecê-la, e por essa razão fez mal em pedir aquilo
que o seu súdito não poderia conceder sem pecar. Alguns imaginam que Nabote
olhava com respeito a sua herança terrestre como uma garantia da sua parte na
Canaã celestial, e por isso não poderia desfazer-se da primeira, para que não
perdesse o direito à segunda. Parece que ele foi um homem consciencioso, que
preferia arriscar-se a desagradar ao rei a ofender a Deus, e provavelmente era
um dos sete mil que não tinham se curvado diante de Baal, pelo que, talvez, Acabe
lhe tivesse rancor.
2. O direito de propriedade. O rei ficou "desgostoso e
indignado [...] deitou-se na sua cama, e voltou o rosto, e não comeu pão"
(v. 4). O rei Acabe adoeceu, pois a cobiça por algo que não lhe pertencia o
havia dominado. A Bíblia diz que a medida da impiedade de Acabe se completou
quando ele se casou com Jezabel, uma princesa fenícia de origem pagã, devota de
Baal. Ela era filha de Etbaal, rei de Sidom (1 Rs 16.29-32). Jezabel não
respeitava o sagrado direito de propriedade estabelecido por Deus na lei de
Moisés. Ela não hesitou em elaborar um plano criminoso para condenar Nabote à
morte e confiscar sua vinha (vv.9,10).
Comentário
Por causa disso, o grande descontentamento e
inquietação de Acabe. Ele se sentiu como antes (20.43), descontente e indignado
(v. 4), tornou-se melancólico com isso, lançou-se em sua cama, e não queria
comer nem conversar. Ele não podia suportar de forma alguma a afronta. O seu
espírito orgulhoso piorou a injúria que Nabote lhe fez ao negá-lo, como algo
intolerável. Ele amaldiçoou o escrúpulo da consciência de Nabote, que ele
fingiu consultar em paz, e secretamente planejou vingança. Ele não podia
suportar o desapontamento que lhe cortava o coração ao ser contrariado em seus
desejos e estava completamente aborrecido. Note: (1) O descontentamento é um
pecado que é a sua própria punição e faz com que nos atormentemos a nós mesmos;
ele faz que o espírito se entristeça, o corpo adoeça, e todas as alegrias se
tornem amargas; é o maior peso do coração e a maior corrupção dos ossos. (2) E
um pecado que é seu próprio pai. Ele não se levanta da condição, mas da mente.
Como nós encontramos Paulo satisfeito em uma prisão, também vemos Acabe
insatisfeito em seu palácio. Ele tinha todos os deleites de Canaã, aquela terra
prazerosa, às ordens, a riqueza de um reino, os prazeres de uma corte e as
honras e poderes de um trono; mas nada disso lhe valia sem a vinha de Nabote. Desejos
imoderados expõem os homens a contínuos vexames, e aqueles que estão dispostos
a se afligir, mesmo estando felizes, sempre encontrarão alguma coisa de que se
lamentar.
3. O pecado de Acabe e Jezabel. O plano de Jezabel funcionou com a conivência do
marido. Envolveu a elite da sociedade e a corte palaciana, o que por si só
mostra que a sociedade de Samaria estava completamente dominada, pois o texto
menciona "anciãos e nobres" corrompendo falsas testemunhas (1 Rs
21.8-10). A acusação foi a seguinte: "Blasfemaste contra Deus e contra o
rei" (v.10). Agora, Nabote devia ser "legalmente" apedrejado até
a morte por ter se recusado a negociar sua propriedade com o rei. As duas
testemunhas davam consistência legal ao processo (Lv 24.10-16; Dt 17.6).
Comentário
O plano de Jezabel (21.5-16). A consciência de
Jezabel, de Tiro, não tinha sido desenvolvida pelas tradições israelitas e pelo
respeito aos direitos alheios. Como Acabe não se apossou imediatamente da vinha
de Nabote, uma coisa que dificilmente seria capaz de entender (7), ela
continuou com seu plano diabólico. Os filhos de Belial (10) seriam homens
desonestos. Nunca foi exposta a falsa acusação de blasfêmia levantada contra
Nabote perante a assembleia dos anciãos e dos nobres. Este sincero israelita
foi apedrejado de acordo com a lei (13; cf. Lv 24.13-16), sob o testemunho de
duas pessoas que teriam presenciado a suposta ofensa (cf. Dt 17.6,7). Com a eliminação
de Nabote, Acabe tomou posse do jardim (15-16) que, sem dúvida, havia perdido
grande parte de seus antigos atrativos.
4. O casal não contava com uma testemunha
verdadeira. Estava
tudo acabado e benfeito social e juridicamente. Ao saber da notícia, Acabe
ficou curado de sua enfermidade e foi tomar posse da vinha de Nabote (vv. 15,
16). Eles violaram o sexto mandamento, "não matarás"; o oitavo,
"não furtarás"; o nono, "não dirás falso testemunho contra o teu
próximo"; e o décimo, "não cobiçarás" (Dt 5.17, 19-21). Isso sem
contar os três primeiros mandamentos que já vinham violando, com sua idolatria,
desde o princípio. Mas Acabe e Jezabel não contavam com uma testemunha que
sabia de tudo e tinha autoridade para se vingar dessas barbaridades (1 Rs
21.17-19).
Comentário
“Novamente, Deus escolheu Elias para levar uma
mensagem de julgamento a Acabe, que estava, naquele momento, na vinha de
Nabote. Deus transmitiu a Elias o que ele deveria dizer (vs. 19)” (Thomas L.
Constable). A abominável e ímpia Jezabel tinha cometido o duplo crime de
assassinato e confisco ilegal de uma herança familiar. Acabe foi o cúmplice
declarado desses crimes e sofreria sorte igualmente horrível. I Reis 21.17,18 A
palavra do Senhor (YAHWEH) veio novamente a Elias. Ele teve uma visão, um sonho
incomum, ouviu uma voz direta ou, de outra maneira qualquer, esteve em
comunicação com o Ser Divino. Cf. I Reis 18.1, a primeira ocasião em que a palavra
do Senhor veio a Elias, ordenando-lhe proferir julgamento contra Acabe. A
localização de Acabe foi dada a Elias. Naquele exato instante, Acabe estava
tomando posse da vinha de Nabote, que ele tinha obtido através de assassinato.
Elias haveria de “apanhá-lo com a mão na botija”, porquanto estaria tomando
posse ilegal de uma herança de família. O versículo à nossa frente parece
indicar a localização da vinha em Samaria, mas Nabote era de Jezreel, e podemos
supor que sua vinha estivesse ali. Acabe tinha uma residência de verão naquele
lugar. É possível que a declaração feita pelo autor, neste versículo, tenha
sido um equívoco. Acabe tinha palácios em dois lugares, porém o mais provável é
que a vinha ficasse perto de Jezreel e a herança da família de Nabote também
estivesse nessa última cidade. Elias desceu no dia seguinte após as matanças
(ver II Reis 9.26). Reis 21.19 A mensagem a ser transmitida foi direta e
brutal. Acabe era um homem morto. Além disso, morreria em desgraça. No próprio
lugar onde os cães tinham vindo lamber o sangue de Nabote, também lamberiam o
sangue de Acabe, e dessa forma a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura
teria exato cumprimento. Essa foi a Lex Talionis divina (ver no Dicionário),
isto é, uma punição em termos iguais, como olho por olho e dente por dente. A
profecia não se cumpriu em termos exatos, mas, sim, quanto à sua essência,
conforme salientou John Gill (in loc.): “... a profecia teve cumprimento em
seus filhos, que eram sua carne e seu sangue (ver II Reis 9.26), porquanto o
castigo foi adiado em seus dias e transferido para
os seus filhos (ver o vs. 29). Os cães, entretanto, lamberam-lhe o
sangue, embora não no mesmo local (ver I Reis 22.8)”. O arrependimento de Acabe
alterou, até certo ponto, o cumprimento final da profecia, conforme vemos no
vs. 29. “É inútil procurarmos um cumprimento literal dessa predição. Esta teria
sido assim cumprida, mas a humilhação de Acabe induziu um Deus misericordioso a
dizer: 'Não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho o trarei
sobre a sua casa’ (vs. 29)” (Adam Clarke, in loc.). Os cães lamberam o sangue
de Nabote em Jezreel, e o de Acabe perto de Samaria. “Quando os cães lambiam o
sangue de alguém, isso indicava uma morte desgraçada, especialmente no caso de
um rei, cujo corpo normalmente seria guardado e sepultado com grande respeito”
(Thomas L. Constable, in loc.).
CONCLUSÃO
O triste episódio de Acabe se repete ao longo da
história. Que Deus nos livre de todas essas maldades. A lei não proíbe o desejo
em si, mas o desejo daquilo que pertence a outro. Não é pecado desejar bens e
conforto, as coisas boas de que necessitamos na vida. Na verdade, viver é
desejar. Desejar uma casa é mais natural do que respirar, mas para isso é
necessário trabalhar e fazer economias até conseguir a realização do seu desejo
com ajuda de Deus.
Comentário
A pergunta 147 do Catecismo de Westminster: “Quais são os deveres exigidos no décimo
mandamento?” responde: “Os
deveres exigidos no décimo mandamento são: um pleno contentamento com a nossa
condição e uma disposição caridosa da alma para com o nosso próximo, de modo
que todos os nossos desejos e afetos relativos a ele se inclinem para todo o
seu bem e promovam o mesmo. Hb 13:5; I Tm 1:5;6:6; Fp 2:4; Rm 12:15.” As
Escrituras nos informam que a cobiça surge em nosso coração através da
insatisfação. A cobiça revela a nossa insatisfação. Freud dizia que o homem é
insatisfeito por natureza. Um repórter perguntou a Nelson Rockefeller: “Quanto
dinheiro é necessário para ser feliz?”. O magnata respondeu: “Um pouco mais”.
Salomão tinha razão: “Quem ama o dinheiro jamais dele se farta”. (Ec. 5:10).
Diante do que temos ouvido, que aplicações práticas tiraremos desse mandamento? 1-Devemos nos contentar com
aquilo que Deus nos proporcionar nessa vida, pois nada do que aqui ocorrer será
uma eventualidade. Isso não significa que não devemos desejar um futuro melhor
para os nossos, mas devemos estar contentes em toda e qualquer situação.
2-Apesar da nossa incapacidade de cumprir esse mandamento, assim como os demais.
Precisamos confiar na obra expiatória e intercessora de Cristo, Ele cumpriu
perfeitamente por nós a lei de Deus, de modo que quando reconhecemos isso, e
vivemos para a sua glória, descansamos em paz, pois nenhuma condenação resta
para nós. “NaquEle que me garante: "Pela graça sois
salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.
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