1º Trimestre_2015
Texto Base: Êxodo 20:16; Deuteronômio 19:15-20
“Não admitirás falso rumor e não porás a tua mão
com o ímpio, para seres testemunha falsa” (Êx 23:1).
INTRODUÇÃO
Dando sequência ao estudo do Decálogo trataremos
nesta Aula a respeito do Nono Mandamento:“Não dirás falso testemunho contra
o teu próximo”. O testemunho falso, desnecessário, sem valor ou sem
fundamento constitui uma das formas mais seguras de arruinar a reputação de uma
pessoa e impedi-la de receber tratamento justo por parte dos outros. Por causa
de uma palavra mal falada, lares foram estilhaçados, reputação foi abalada,
vidas literalmente destruídas, e até mesmo famílias inteiras arruinadas. A
língua tem o fantástico poder de abençoar ou amaldiçoar, de curar ou ferir, de
amar ou odiar. A falsa testemunha não ficará impune ao mentir sobre o seu
semelhante, causando-lhe sofrimento - “... A falsa testemunha não
ficará impune; e o que profere mentiras perecerá..." (Pv 19:9).
I. O NONO
MANDAMENTO
O Nono Mandamento é mais uma maneira de
expressarmos amor ao nosso próximo; neste caso, preservando a sua honra por
meio de nossas palavras. Deus espera que, como seus filhos, a verdade flua de
nossa boca e não o engano. A observância do Nono Mandamento contribuirá para a
harmonia no convívio social. O Senhor Jesus Cristo citou este mandamento para o
moço rico, juntamente com outros do Decálogo (Mt 19:18; Mc 10.19; Lc 18.20). Da
mesma maneira, fez o apóstolo Paulo (Rm 13.9).
1. Abrangência. Dizer
falso testemunho contra o próximo aplica-se não apenas ao perjúrio nos
tribunais para prejudicar alguém, mas também à divulgação de boatos falsos e
mexericos. Levantar acusações contra pessoas sem ter provas legítimas contra
elas seria um ato pecaminoso e monstruoso. Não por acaso Tiago afirma que a
língua é um membro capaz de incendiar uma floresta (Tg 3:7). Com a má língua
pode-se rapidamente destruir reputações que levaram anos para serem
construídas.
Li uma história de um jovem discípulo que contrariado
com seu mestre levantou diversos falsos testemunhos contra ele causando-lhe
grandes problemas. Anos depois ao saber que o velho mestre encontrava-se muito
doente quase à morte, este jovem arrependido foi até ele para lhe suplicar o
perdão dizendo que faria qualquer coisa para consertar o seu erro. O velho
mestre gentilmente disse que aceitaria seu pedido de desculpas, mas pediu uma
última tarefa ao jovem discípulo, dizendo-lhe que ele deveria pegar um saco
cheio de penas e soltá-las do topo do edifício mais alto da cidade. Quando isso
foi feito, o jovem voltou ao mestre que olhou para ele e disse: ‘Agora vá e
recolha cada uma dessas penas e traga até mim’. O jovem exclamou: ‘Isso é
impossível!’. E o velho mestre, como uma última lição lhe disse: ‘Da mesma
forma que é impossível recolher as penas, é impossível que uma palavra
proferida seja recolhida novamente’.
As palavras de um falso testemunho podem e devem
ser perdoadas, mas nunca serão esquecidas por aqueles que foram tocadas por seu
veneno.
Tiago recomenda que o homem seja "pronto
para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tg 1:19). Ouvir
bem, ser cauteloso ao falar e não se irar facilmente são três métodos práticos
para se cumprir construtivamente o Nono Mandamento. Mais adiante, Tiago mostra
a dificuldade que o homem tem de dominar sua língua (Tg 3:8). Mas não existe
justificativa para o cristão não cumprir de modo positivo o Nono Mandamento.
Tiago ensina que a figueira não produz azeitonas, a videira não produz figos e
a fonte de água doce não jorra água salgada (Tg 3:12). Portanto, o cristão deve
refrear a língua, mesmo que seja praticamente impossível (Tg 3:8), pois isso
corresponde a vontade e diretriz de Deus para ele.
2. Objetivo. Segundo
o pr. Esequias Soares, o propósito divino neste mandamento é erradicar a
mentira, a calúnia e a falsidade do meio do povo (Dt 19:20; Dt 17:3).
Segundo Hans Ulrich, “o
problema da mentira é tão antigo como a história da humanidade. Já no jardim do
Éden, Satanás usa uma pergunta falsa para arruinar o homem: ‘será que
Deus disse...?’(Gn 3:1). As palavras mais frequentes que a Bíblia hebraica
aplica à mentira são sheger(‘falsidade’, ‘engano’) e kazabh (‘mentira’,
‘engano’). Portanto, a mentira é uma declaração falsa que tem a intenção de
enganar o próximo. Um exemplo clássico está em Juízes 16:10,13, quando Sansão
mente três vezes para Dalila”.
Também, o propósito deste mandamento, segundo o pr.
Esequias Soares, é “promover o bem-estar social e a fraternidade entre os seres
humanos. No tocante à doutrina, o mandamento torna-se uma muralha de proteção
contra os falsos ensinos teológicos” (2Co 13:8).
3. Contexto. A
honra talvez seja a parte mais sensível do ser humano. O Nono Mandamento não
somente defende a honra, mas também a vida. Com suas normas na legislação
mosaica, este mandamento mostra a administração da justiça em Israel. Todo o
sistema judicial hebreu era baseado no testemunho. Todas as provas eram
colhidas a partir das falas das testemunhas (cf. Dt 19:15-21). Uma palavra
podia salvar ou condenar, inclusive à pena capital. Moisés instrui os juízes de
Israel tanto na esfera criminal (Nm 35:9-34) como também na esfera religiosa
(Dt 17:2-7) e civil (Dt 19:14-21).
Um falso testemunho pode resultar num julgamento
injusto e comprometer a idoneidade da corte. Não é possível a vida numa
sociedade corrompida em que o cidadão de bem não se sente seguro diante de uma
corte que não oferece confiança e de um modus operandi em
conluio com os corruptos, como havia à época de Habacuque – “Por esta causa,
a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta, porque o perverso cerca o
justo, a justiça é torcida.” (Hc 1:4).
O sistema mosaico colocava a testemunha falsa
sujeita à mesma pena que ela esperava ser aplicada ao acusado (Dt 19:16-21).
Mesmo assim, nunca faltou quem se apresentasse como falsa testemunha.
II. O
PROCESSO
1. Responder em juízo. “O
Mandamento ‘não dirás falso testemunho contra o teu próximo’ (Êx 20:16; Dt
5:20) reflete o aspecto legal e isso é conhecido pelos termos usado e por sua
regulamentação na lei”, afirma o pr. Esequias Soares. A palavra de um israelita
contra a de outro não poderia ser válida para se estabelecer um julgamento. O
processo religioso estabelece: "Por boca de duas ou três testemunhas,
será morto o que houver de morrer; por boca de uma só testemunha, não morrerá"
(Dt 17:6). Nem mesmo um processo civil que não envolvia pena capital deveria
aceitar uma só testemunha: "Uma só testemunha contra ninguém se
levantará por qualquer iniquidade ou por qualquer pecado, seja qual for o
pecado que pecasse; pela boca de duas ou três testemunhas, se estabelecerá o
negócio" (Dt 19:15). Dessa maneira, esperava-se um julgamento justo e
transparente, mas nem sempre essas testemunhas eram idôneas e honradas. Mas, se
a testemunha procedesse de forma mentirosa em qualquer processo ela “estaria
cometendo o crime em nada inferior ao crime objeto do julgamento”; ela seria
processada e “a sentença deveria ser a mesma que se destinava ao acusado” (cf.
Dt 19:19). “Se a acusação exigia a pena de morte, ela deveria ser transferida
do réu para a falsa testemunha” (cf. Dt 19:21). “Mesmo conhecendo o rigor da
lei, a história registra um número considerável de personagens que não levaram
em consideração o nono mandamento”, afirma o pr. Esequias Soares.
2. Falso testemunho. Trata-se
de alguém que fala em vão, sem fundamento, que faz acusação sem validade e sem
consciência, portanto falso. Ninguém podia ser acusado por uma só testemunha,
pois a lei exige duas ou três testemunhas (Dt 19:15-20). Era a garantia de um
julgamento justo. Mas nem sempre isso era possível”.
- Nabote foi
acusado, julgado e condenado conforme a lei, mas era inocente, pois as
testemunhas eram falsas (1Rs 21:13).
- O Senhor Jesus Cristo foi
a principal vitima de falso testemunho. O sistema legal de Jerusalém foi
arranjado por representantes da lei cujo propósito era fazer o linchamento
parecer um julgamento justo conforme determina o sistema mosaico. Seus
acusadores eram as autoridades políticas e religiosas: "Os príncipes
dos sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho buscavam falso testemunho
contra Jesus, para poderem dar-lhe a morte, e não o achavam, apesar de se
apresentarem muitas testemunhas falsas" (Mt 26:59, 60). A passagem
paralela de Marcos 14:55,56 afirma que as acusações dessas falsas testemunhas
da elite do Sinédrio "não eram coerentes".
- Estêvão foi também vítima
de falsas testemunhas. Essas pessoas foram subornadas para falarem mentiras
contra um homem justo; a acusação era de blasfêmia contra Deus, contra Moisés,
contra o templo e contra a lei (At 6:11-14). Assim como o Senhor Jesus, Estêvão
foi condenado à morte (At 7:58-60).
- O apóstolo Paulo foi
acusado, além das demais acusações falsas de introduzir gentios no templo de
Jerusalém (At 21:27-33). Os romanos o prenderam para livrá-lo de um linchamento
por parte dos judeus radicais, mas este episódio foi o início do fim da
carreira apostólica de Paulo.
3. O próximo. Segundo
o pr. Esequias Soares “é no Nono Mandamento do Decálogo que o termo ‘próximo’
aparece pela primeira vez. A expressão ‘teu próximo’ era conhecida por qualquer
judeu familiarizado com as Escrituras no período do ministério terreno do
Senhor Jesus, mas parece que havia incerteza quanto a seu exato significado: ‘E
quem é o meu próximo? ’(Lc 10:29), perguntou um doutor da lei a Jesus.
O contexto dos evangelhos deixa claro que os judeus daquela época consideravam
como seus ‘próximos’ apenas os amigos da mesma etnia, tribo e classe com quem
mantinham uma relação mútua de afinidade e intimidade. Mas não é esse o
pensamento do Antigo Testamento, que inclui também os estrangeiros além dos
israelitas (Êx 3:22; Lv 19:34). O segundo e grande mandamento, ‘amarás
o teu próximo como a ti mesmo’, é a palavra final sobre o assunto”.
Portanto, “o próximo é qualquer pessoa, independentemente de sua etnia, status,
confissão religiosa ou convicção política e filosófica”.
Múltiplas são as facetas do pecado contra a honra
do próximo: desrespeito, resposta evasiva (Gn 4:9), engano proposital ou
falsidade deliberada (Gn 27:19), ambiguidade, mordacidade, maledicência,
injúria, ofensa, insulto, ódio, calúnia, detração, crítica desastrosa,
murmuração, falsidade, malícia, logro (At 5:1-10), mexerico, zombaria, raiva.
Toda manifestação de mentira provém do coração enganoso (Jr 17:9), que
evidencia o desrespeito e o desprezo em nossos pensamentos e desejos íntimos.
III. A
VERDADE
1. O que é a verdade? Segundo
Esequias Soares, “verdade é aquilo que corresponde aos fatos, em contraste
com qualquer coisa enganosa, a mentira” (Dt 13:14; 17:4; Is 43:9).
Segundo Hans Ulrich, ao
ser interrogado por Pilatos, Jesus respondeu que Sua missão é dar testemunho da
verdade, e que todo aquele que ouve Sua voz é da verdade (João 18:37). Este
jogo de palavras revela o segredo messiânico: Jesus é a verdade vinda do Pai;
Ele é de fato o rei.
No testemunho joanino, a verdade de Cristo é uma
força transformadora, capaz de nos libertar da escravidão do pecado; está
escrito: "E conhecereis a verdade, e a verdade te libertará"
(João 8:32).
A verdade de Jesus não nos deixa aprisionados, mas
livres para sempre. O apóstolo João ainda afirma que é possível conhecer essa
verdade. Conhecer alguém implica em ter interesse e abertura em relação a tal
pessoa. Na medida em que se abre para a verdade e busca conhecer a Cristo, o
homem desenvolve aquela fé que resulta na transformação real. O Nono Mandamento
cumpre-se verdadeiramente na pessoa de Cristo. Ele colocará fim a toda mentira
do homem e do diabo, de maneira que todo homem há de confessar que Ele é o
Senhor (Fp 2:11).
O crente deve sempre escolher andar na verdade em
quaisquer lugares: na família, na escola, no trabalho, nas amizades, em todo
ambiente onde os seres humanos se relacionam entre iguais. Quem é de Jesus não
tem outro compromisso que não seja a verdade. Não empreste a sua língua para levantar
falso testemunho contra alguém. Como já disse, o nosso Senhor foi condenado
pelos homens através do falso testemunho de outrem. A vida de Jesus nos ensina
o lado que devemos escolher: o melhor é sempre o da verdade.
2. Antigo Testamento. Segundo
Hans Ulrich, no Antigo Testamento, a palavra básica para
"verdade" é “emet”, que deriva do conhecido vocábulo “amem” e
significa fazer certo, concordar, suportar, sustentar. Também existe uma ideia
de solidificação, estabilidade e firmeza. O oposto de “emet” é
falsidade, mentira.
No testemunho do Antigo Testamento, Javé é a
verdade (Is 65:36). Deus é o Deus da verdade (Sl 146:6; Jr 10:10). Ele não
mente como o homem (Nm 23:19; Hb 6:18). Ele guarda Sua fidelidade ou,
literalmente, Ele guarda Sua verdade para sempre (Sl 146:6) e é fiel e
verdadeiro Seus conselhos (Is 25:1). Graça e verdade O precedem (Sl 89:14). Ele
é grande em misericórdia e verdade (Êx 34:6). Suas palavras são verdadeiras
(2Sm 7:28) e Sua palavra é reconhecida como a verdade (Sl 119:160).
O homem é criado à imagem de Deus e, portanto, é
convidado por Deus a ser homem de verdade, integridade e fidelidade (Êx 18:21;
Dt 1:13; Nm 7:2) e a andar na verdade (Sl 25:5; 43:3; 86:11).
Nos salmos, Deus nos exorta a praticar a
integridade e a justiça, dizer a verdade de coração (Sl 15:2,3), refrear a
língua, apartando-se do mal (Sl 34:13,14) e controlar a língua (Sl 39:2).
De acordo com a visão messiânica de Zacarias, a
cidade de Sião será chamada cidade de verdade (Zc 8:3). O Senhor será "Deus
em verdade e em justiça" (Zc 8:8), ou seja, Ele executará essas
virtudes. A verdade não será um ato unilateral de Deus, pois o homem estará
incluído nessa prática e participará da verdade. Isso significa que ele será
capaz de falar a verdade com seu próximo (Zc 8:16) e realmente amar a verdade
(Zc 8:19).
3. Novo Testamento. No
Novo Testamento, Cristo é a perfeita expressão da verdade. Segundo Hans
Ulrich, Cristo não apenas possui ou representa a verdade, Ele é a verdade
em essência. A verdade se encarnou (João 1:14) e assumiu forma concreta em
Jesus. Note que Ele não é uma verdade entre muitas outras verdades. Ele
reivindica ser a verdade absoluta: "eu sou a verdade"(João
14:6).
Paulo recomendou aos colossenses que sua palavra
fosse sempre agradável e temperada com sal, para saberem como responder a cada
um (Cl 4:6). No capítulo 3 aos Colossenses, Paulo ensinou que o cristão não
mente porque se despiu do velho homem, o que indica que, ao se tomar nova
criatura em Cristo e participar da nova vida em Jesus, o homem passa a ser
capaz de cumprir o Nono Mandamento. Para Paulo, existe uma nítida relação entre
ser crente em Jesus e viver na verdade.
IV. O
CUIDADO COM A MENTIRA
1. A origem da mentira. A
mentira surgiu bem cedo na história da humanidade. Satanás, pai da mentira (Jo
8:44), no Éden, disse a primeira mentira registrada na Bíblia. Primeiro com uma
indução (Gn 3:1) - “É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do
jardim?” - e depois com a mentira propriamente dita (Gn 3:4) - “É
certo que não morrereis”. Os nossos primeiros pais caíram em pecado justamente
por não acreditarem nas palavras de Deus e sim nas mentiras proferidas pelo
diabo.
A mentira não deve fazer parte da vida dos filhos
de Deus. Ele ordenou: “…nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com
o seu próximo” (Lv 19:11). “Os lábios mentirosos são abomináveis ao
SENHOR” (Pv 12:22). Temos de abominar e detestar a mentira (Sl 119:163),
rogando ao Senhor que a afaste de nós (Pv 30:8).
O nosso compromisso é com a verdade, por isso, “não
mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus
feitos” (Cl 3:9; cf. Ef 4:25).
2. O pecado da mentira. Segundo
disse o pr. Esequias Soares, o Nono Mandamento proíbe toda forma de mentira,
tanto aquela que se diz deliberadamente na vida diária como também sob
juramento num tribunal. Tudo aquilo que se fala com o propósito de prejudicar o
bom nome de alguém é pecado e violação deste mandamento. Na graça este
mandamento aparece na esfera espiritual e não jurídica (Ef 4.25; Cl 3.9).
"Pelo que deixai a mentira e falai a verdade
cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros" (Ef 4:25).
O apóstolo Paulo mostra que engendrar pensamento
falso, falar mentira, propalar falsos rumores faz parte do estilo de vida do
mundo pagão. Portanto, nós que somos convertidos à fé cristã temos pela frente
o desafio de mudar o nosso padrão de vida; precisamos agora viver como
discípulos de Cristo.
3. O problema da mentira branca (*). Segundo
Hans Ulrich, tudo o que se diz deve ser verdade, mas nem tudo o que é
verdade deve ser dito. Em outras palavras, do ponto de vista da ética cristã, é
bom e aconselhável diferenciar entre mentira proposital, engano ou erro de
cálculo, retenção da verdade e mentira branca. Sabemos que, na prática, nem
sempre é possível sair deste problema moral. Tal conflito leva muitas pessoas
às mentiras brancas, conhecidas também por mentiras de emergência, úteis ou
serviçais.
A mentira de emergência surge quando o homem se
encontra no dilema de não querer admitir toda a verdade nem querer mentir
propositadamente. Qual a solução para este problema? Pode-se mentir numa
emergência? Jesus ensinou a dizer "sim" ou "não". O
problema é que o ideal não ajuda a chegar a conclusões concretas nos casos em
que o "não" constitui uma mentira e o "sim" prejudica meu
próximo. É lícito guardar propositadamente um segredo e evitar dizer a verdade
plena? Ou a proibição à mentira é um absoluto moral?
O Antigo Testamento relata
as mentiras dos patriarcas, sem que tal atitude fosse rejeitada imediatamente
no contexto: de Abraão (Gn 12:11-13; 20:1-12); de Isaque (Gn
26:7-11); deJacó (Gn 27:8-27). As parteiras que
salvaram muitos filhos dos hebreus são consideradas mulheres tementes a Deus
(Êx 1:21). Também na história de Davi e seu amigo Jônatas consta
a mentira emergencial (1Sm 20:1-30).
Todavia, no Novo Testamento não
há lugar para qualquer forma de mentira. Jesus ensinou a dizer a verdade
(Mt 5:37). Seria trágico se daí se concluísse que a verdade deve ser dita da
mesma forma, em qualquer lugar, a qualquer hora e para qualquer pessoa.
Hans Ulrich, citando Bonhoeffer disse:
a verdade não pode ser dita em qualquer lugar, a qualquer hora e para qualquer
pessoa de igual maneira. Ao dizer a verdade plena, o médico pode provocar a
morte imediata de um paciente sensível. Em um regime totalitário, a verdade
plena também pode pôr fim a vidas preciosas. Não somos obrigados a responder
toda a verdade a um regime de mentira que faz morrer milhares de pessoas
inocentes. Por outro lado, é preciso levar a sério o ensino de Jesus: é melhor
dizer "sim" ou "não" do que jurar (Mt 5:37).
CONCLUSÃO
Uma maneira de evidenciar nossa obediência a Deus
quanto ao Nono Mandamento é amar sempre a verdade. A carta aos Coríntios nos
lembra de que o amor “não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a
verdade” (1Co 13:6). Quem ama de fato a Deus e ao próximo como a si mesmo deve ter
sua real satisfação em falar a verdade e nunca dizer falso testemunho. Quando
minamos a reputação de outra pessoa pelas palavras que falamos, somos culpados
de causar danos indescritíveis na vida desta pessoa, e de destruir a
respeitabilidade e credibilidade dela diante da sociedade em que ela vive, quer
seja no trabalho, comunidade, congregação ou mundo secular. Pense nisso!
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