"Lula não é um corrupto como [Fernando]
Collor de Mello e outros ex-presidentes brasileiros", disse Mujica no
livro, "mas viveu esse episódio [do mensalão] com angústia
e um pouco de culpa". Ainda segundo o relato contido na obra, o assunto
mensalão veio à tona durante uma reunião feita em Brasília nos primeiros meses
de 2010, e Lula lhe teria dito textualmente: "Neste mundo tive que lidar
com muitas coisas imorais, chantagens". E logo em seguida completou:
"Essa era a única forma de governar o Brasil". Mujica afirma que o
ex-vice-presidente uruguaio Danilo Astori também estava na sala e a
"confissão" do petista.
Nesta
semana, em entrevista ao El
País sobre o
lançamento do livro, Mujica classificou de "inexplicáveis" os
escândalos de corrupção que ocorrem no Brasil. Em entrevista ao jornal
espanhol, o ex-presidente uruguaio afirmou que qualquer envolvimento de
dinheiro na política abre o precedente para a ação de corruptores. "A
esquerda morre quando a cobiça de se fazer dinheiro se mete dentro da política.
Por que a corrupção prolifera tanto? Parece sensato que pessoas de 60, 70 anos
se emporquem com uns pesos imundos? Eles sabem que têm pouca vida pela frente.
O tema de ter dinheiro para ser alguém pode ser uma ferramenta de progresso no
mundo do comércio, onde se correm riscos empresariais, mas estamos fritos
quando se mete na política. Isso aconteceu na Itália, em parte da Espanha. É
inexplicável o que se passa no Brasil", declarou.
Na obra, ainda sem data de lançamento
no Brasil, Mujica fala sobre os cinco anos em que esteve no governo e discorre
sobre temas relevantes para a política latino-americana. Para ele, fazer
política no Brasil sem se envolver com corrupção é praticamente impossível.
"A democracia moderna é muito cara. O Brasil é muito grande, tem Estados
que são como países. Existem partidos locais, e a legenda que ganha o governo
nacional precisa negociar com eles. Aí acontece de tudo", disse.
Argentina
- O
uruguaio também recordou que o vice-presidente da Argentina, Amado Boudou,
enfrenta uma série de processos na Justiça. Na terça-feira, Mujica participou
de um evento no país e disse já ter visto a presidente Cristina Kirchner
"enraivecida como uma aranha má, como se estivesse ofendida ou ressentida".
Em seguida, saiu em defesa da mandatária, com quem teve divergências durante o período em que ocupou a
presidência uruguaia. "Depois, naturalmente, ela sempre defendeu os
interesses que considera pertencentes à nação argentina. A meu ver, ela o fez
em algumas vezes de forma acertada e, em outras, equivocadamente",
afirmou.
Como no Uruguai não existe reeleição,
Mujica não concorreu à Presidência no ano passado e deu lugar aTabaré Vásquez,
do seu partido de esquerda Frente Ampla. Mujica foi eleito para o Senado pelo
Frente Ampla e, aos 80 anos, disse não ter perspectiva de retornar ao
Executivo. "Sigo como uma referência, mas não sei como vou estar daqui
cinco anos. Tenho 80, pensar nos 85 é muito corajoso, não?", brincou.
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