Pr Marcos Pereira, com uniforme de preso em Bangu 2 |
O pastor Marcos Pereira, preso na última terça-feira, 07 de maio, sob a acusação
de estuprar fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), enfrenta
outras 20 acusações semelhantes.
A prisão
ocorreu devido à expedição de dois mandados referentes aos seis primeiros
casos. As outras 20 acusações de vítimas que apontam Marcos Pereira como
abusador ainda estão passando por investigações.
Na última quarta-feira, foram
divulgados detalhes do depoimento das vítimas do pastor. Segundo a jovem que
foi abusada por oito anos – período em que tinha entre 14 e 22 anos de idade –
Marcos Pereira afirmou que a prática se justificava por questões espirituais:
“Estou vendo um espírito de lésbica em você”, teria dito o pastor, de acordo
com informações do jornal Extra.
“Com o tempo,
Marcos passou a trazer mulheres para participar dos atos sexuais”, revelou a
jovem, atualmente com 25 anos. Ela afirmou ainda que “apenas uma vez se recorda
que participou um garoto de programa”, e que o pastor “Marcos tentou trazê-lo
novamente”, porém ela recusou.
De acordo com
o depoimento de uma das vítimas ao jornal Extra, o pastor organizava orgias na
casa de uma irmã do traficante Marcinho VP no bairro carioca Ricardo de
Albuquerque. A ex esposa de Marcos Pereira, Ana Madureira Silva, é uma das
testemunhas de acusação.
Segundo a
jovem, Marcos Pereira pedia que ela aliciasse outras mulheres para as orgias
que aconteciam numa residência que a ADUD mantém em São João do Meriti, e em um
apartamento na Avenida Atlântica, em frente a praia de Copacabana, zona sul do
Rio de Janeiro, avaliado em R$ 8 milhões que também está no nome da
denominação. Ao final, o pastor fazia com que os participantes pedissem perdão
uns aos outros e guardassem segredo.
Essa vítima
afirmou também que quando se apaixonou por um rapaz membro da denominação,
Marcos Pereira criticava o relacionamento, e dizia que se casassem, seus filhos
seriam “defeituosos”. Em 2009, os dois decidiram romper com a ADUD e
permaneceram juntos.
Entre as
mulheres que acusam o pastor de estupro, uma diz que aos 9 anos de idade
começou a ser abusada por um assistente do pastor e em seguida pelo próprio
Marcos Pereira,que teria chegado a agredi-la e oferecido “carros, bolsas caras,
viagens para o exterior” para que ela mantivesse relações com ele. Após recusar
ir sozinha com ele para a fazenda Vida Renovada, de propriedade da Assembléia
de Deus dos Últimos Dias, ele a teria difamado no púlpito durante um culto como
forma de vingança.
Outras vítimas
do pastor afirmaram terem sofrido abuso no gabinete pastoral na sede da ADUD.
Marcos Pereira atraía as mulheres para a sala a fim de ficar a sós, e então, as
convencia a fazer sexo com ele. Algumas vezes a fiel deveria ficar orando
enquanto acontecia a relação sexual. Em seu relato, uma das fiéis disse que o
pastor a convenceu a ir à sua sala pedindo que ela levasse uma xícara de café.
“Era forçada a
praticar sexo oral e tocar nas partes íntimas”, disse outra vítima. Segundo a
mulher, Marcos Pereira “tinha sempre predileção por sexo anal”, mas quando ele
tentou fazer e não conseguiu, “exigiu que fosse feito sexo oral. Não consegui
reagir. Estava aterrorizada”, disse, de acordo com informações da Veja.
Outra mulher afirmou
que Marcos Pereira ordenou a seu marido que fosse evangelizar numa favela, e
depois que o fiel saiu de casa, ele pediu a outras fiéis que a convencessem a
ir até a sede da ADUD encontrar o pastor. Chegando no local, Pereira tinha dito
que ela precisava de um “conserto espiritual”, e assim, começaram as
insinuações. A vítima afirmou que ele a “encurralava, pegava sua mão e a
passava no seu pênis”, e que depois de um tempo, “entendeu” que deveria deixar
o pastor abusá-la para evitar que “pecasse com mulheres do mundo exterior”.
Em outro
depoimento, uma das vítimas expressou o sentimento após os abusos: “Quando ele
pegou na minha mão, eu já fiquei na minha cabeça pensando se ele estava
tentando ver se tinha algum espírito em mim, que era o que ele costumava fazer.
Eu fiquei orando, ele começou aos poucos, ele foi tocando no meu corpo. Você se
sente humilhada, você se sente nada, como se fosse um objeto descartável”,
afirmou.
Em meio aos
depoimentos, há relatos de que Pereira acusava as vítimas de estarem “possuídas
por demônios”, e que os atos sexuais seriam uma forma de “purificação” e
“salvação”. Uma das mulheres, acompanhada pela filha mais velha, afirmou temer
pela família: “Saímos de lá [da igreja], mas não deixamos de acreditar em Deus.
Não sou só eu, não sou sozinha. A gente tem filhos, família e fica com medo. A
gente é uma formiguinha na frente de um batalhão [...] Tem coisas que é muito
complicado falar, mas eu resolvi denunciar para que isso sirva de alerta e
outras mulheres não sofram com isso”.
Abortos
Em mais de um
depoimento, as vítimas afirmaram que Marcos Pereira não usava preservativos, e
que, quando necessário, contava com os serviços de um médico particular para a
realização de abortos.
Violência
O delegado
Márcio Mendonça, responsável pela Delegacia de Combate às Drogas (DCOD) onde
Marcos Pereira foi preso, afirmou que em determinadas ocasiões, o pastor usava
violência para convencer as vítimas.
“Ele tem uma
oratória fantástica e abusava de fiéis que trabalhavam como voluntários da
igreja. Usava o poder do convencimento. Quando não dava certo, ele usava a
força bruta. Jogava a mulher na cama e atacava”, disse o delegado.
Segundo Márcio
Mendonça, “ele fazia com que as mulheres se sentissem culpadas, possuídas pelo
demônio. Ele se aproveitava da fraqueza da pessoa, mas em pelo menos dois casos
agiu com violência”.
A polícia
considera as acusações contra Marcos Pereira sólidas: “Não há novidade no meio
policial que ele praticava essas orgias. A polícia pede para que essas vítimas
denunciem o pastor Marcos. Liguem para a DCOD através do número 2332-1790”,
disse o delegado Márcio Mendonça.
Hábeas Corpus
O advogado
responsável pela defesa do pastor, Marcelo Patrício, afirmou que Pereira está
“sereno” e “tranquilo”, por se considerar inocente.
“É uma
covardia o que está sendo feito com o pastor. É tudo mentira. Isso é invenção
de pessoas que não gostam dele. Duas pessoas foram forçadas a fazerem isso
[acusá-lo]. Uma menor fez um exame no IML [Instituto Médico Legal], que
comprovou que ela é virgem. Ele é uma pessoa muito boa, nunca ameaçou ninguém”,
disse o advogado, que deverá fazer um pedido de habeas corpus nesta
quinta-feira, visando a libertação para que o pastor responda ao processo em
liberdade, até o julgamento.
Outros crimes
O pastor
Marcos Pereira também está sendo investigado por outros crimes, e enfrenta
acusações de homicídio, associação ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
De acordo com
o G1, até agora trinta pessoas prestaram depoimento contra Pereira. Um rapaz tido
como ex-braço direito do pastor, numa ocasião Pereira o obrigou a guardar
mochilas com a quantia de R$ 400 mil em sua residência.
A lavagem de
dinheiro usaria a venda de CDs e DVDs como forma de legalizar o dinheiro obtido
com o tráfico. “O pastor dizia aos membros da sua congregação que estava
vendendo os CDs para evangelização e não pegando o dinheiro com o tráfico”,
afirmou uma das vítimas, no depoimento prestado à polícia, segundo o Uol.
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