A compra e
a venda de óvulos e sêmen e a prática de barriga de aluguel remunerada são
ilegais no Brasil, mas isso não tem impedido que as brasileiras participem
deste mercado que está em crescimento no mundo.
Muitas
brasileiras têm oferecido seus serviços em sites internacionais e se dizem dispostas a viajar para
países em que a prática é permitida, e algumas já moram no exterior.
O
site é uma mistura de Facebook com a página de compra e vendas Ebay.
Mulheres com idades que variam de 20 a 45 anos montam seus perfis e colocam
fotos de si mesmas, dos filhos e da família.
O objetivo da apresentação, porém, obviamente não é fazer amigos, mas dar aos
casais ou solteiros interessados nos serviços oferecidos ali uma amostra de seu
fenótipo, perfil genético e, dependendo do caso, capacidade de gestação.
Algumas se
oferecem para doar óvulos para mulheres inférteis ou casais homossexuais que
querem realizar o sonho de ter um filho – prática que pode lhes render de US$ 8
mil (R$ 16,4 mil) a US$ 50 mil (R$ 102 mil). Outras estão dispostas a carregar
bebês de outras mulheres – serviço pelo qual pode-se ganhar até US$
100 mil nos EUA (R$ 204 mil).
Uma estudante
brasileira da Universidade de Edimburgo, por exemplo, se diz disposta a doar
óvulos para pagar o curso de pós-graduação que começará em setembro.
Uma professora de inglês de Santa Catarina diz que precisa do dinheiro da
doação para ajudar a sustentar a filha. E uma estudante de psicologia do
Espírito Santo se oferece para carregar o filho de outra mulher porque o marido
ficou desempregado.
Todas
mencionam também uma razão altruísta para a oferta: a vontade de ajudar casais
com problemas de fertilidade a realizar o sonho de ter filhos.
O mercado de
gametas e barrigas de aluguel vem crescendo nos últimos anos em diversos
países, impulsionado, do lado da demanda, por tendências sociais e demográficas
– como o fenômeno da maternidade tardia e a oficialização de uniões civis
homossexuais. Do lado da oferta, pelo desenvolvimento de novas técnicas de
reprodução assistida.
O casal britânico formado pelos
empresários milionários Barrie and Tony Drewitt-Barlow e seus cinco filhos são
exemplo da “nova família” que essas novas tecnologias viabilizaram.
Novas
técnicas de reprodução assistida permitem às mulheres terem filhos cada vez
mais tarde
Em 1999, os
dois viajaram para a Califórnia, onde a prática de barriga de aluguel e doação
de óvulos remunerada é permitida e voltaram para casa, na Grã-Bretanha, com os
gêmeos Saffron e Aspen. Depois disso, tiveram mais três filhos. E agora pensam
em ter uma segunda menina (nos EUA é permitido escolher o sexo do bebê).
Barrie e Tony
também têm uma clínica que ajuda outros casais a terem bebês com óvulos de
estrangeiras e serviços de barriga de aluguel contratados no exterior – o
British Surrogacy Centre.
Em entrevista
à BBC Brasil, Barrie contou que as brasileiras são muito procuradas para as
doações de gametas por terem “fama de bonitas” e porque, entre elas, é fácil
encontrar um perfil procurado por casais inter-raciais estrangeiros. Por isso,
segundo o empresário, sua agência teria “olheiros” que buscam doadoras no
Brasil.
“Foi uma
brasileira que doou o óvulo para que eu pudesse ter dois de meus filhos – o
segundo casal de gêmeos”, conta Barrie. “Nos últimos 12 meses, ajudamos 63
casais a terem filhos. Desses, 15 usaram doadoras brasileiras.”
Para Artur
Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, porém, a prática
é preocupante. “Um esquema em que as brasileiras são aliciadas para prestar
esse serviço em outros países poderia estar explorando a miséria e a
necessidade dessas mulheres”, acredita.
BBC
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