LIÇÃO 8: Não Matarás
Êxodo 20.13; Números 35.16-25
Êxodo
20:13
Não
matarás.
Números
35:16-25
16.
Porém, se o ferir com instrumento de ferro e morrer, homicida é; certamente o
homicida morrerá.
17.
Ou, se lhe ferir com uma pedrada, de que possa morrer, e morrer, homicida é;
certamente o homicida morrerá.
18.
Ou, se o ferir com instrumento de pau que tiver na mão, de que possa morrer, e
ele morrer, homicida é; certamente morrerá o homicida.
19.
O vingador do sangue matará o homicida; encontrando-o, matá-lo-á.
20.
Se também o empurrar com ódio, ou com mau intento lançar contra ele alguma
coisa, e morrer;
21.
Ou por inimizade o ferir com a sua mão, e morrer, certamente morrerá aquele que
o ferir; homicida é; o vingador do sangue, encontrando o homicida, o matará.
22.
Porém, se o empurrar subitamente, sem inimizade, ou contra ele lançar algum
instrumento sem intenção;
23.
Ou, sobre ele deixar cair alguma pedra sem o ver, de que possa morrer, e ele
morrer, sem que fosse seu inimigo nem procurasse o seu mal;
24.
Então a congregação julgará entre aquele que feriu e o vingador do sangue,
segundo estas leis.
25.
E a congregação livrará o homicida da mão do vingador do sangue, e a
congregação o fará voltar à cidade do seu refúgio, onde se tinha acolhido; e
ali ficará até à morte do sumo sacerdote, a quem ungiram com o santo óleo.
INTRODUÇÃO
O
sexto mandamento manifesta o propósito de Deus pela proteção da vida. Sua
vontade é que os seres humanos façam o mesmo. O tema é abrangente e complexo,
razão pela qual deve ser estudado com diligência. A lei diz "não
matarás". Isso não contraria a guerra, a pena capital e o próprio
pensamento cristão? Mas o assunto não se encerra por aí. Esse é o tema do
presente estudo.
Comentário
[Tirar
a vida de um ser humano é o mais radical ato de violência. Quem o faz destrói a
mais preciosa criação de Deus — o homem, feito “à imagem e semelhança do
Criador”. Por isso, quando Deus sintetizou em dez mandamentos o que ele exige
do homem, Ele ordenou: “Não matarás” (Êx 20.13). O sexto mandamento proíbe o
homicídio deliberado, intencional, ilícito. Deus ordena a pena de morte para a
violação desse mandamento (Gn 9.6). O Novo Testamento condena, não somente o
homicídio mas também o ódio, que leva alguém a desejar a morte de outrem (1Jo
3.15), bem como qualquer outra ação ou influência maléfica que cause a morte
espiritual de alguém (ver Mt 5.22; 18.6). Aqui surge uma série de questões
complexas, polêmicas e controversas. Vamos, então, analisar melhor o hebraico lo’ tirtsah (não matarás), traduzido em nossas
versões por “matar”, num sentido geral, quando na realidade o seu significado é
específico] Convido você para mergulharmos mais fundo nas
Escrituras!
I. O SEXTO MANDAMENTO
1..Abrangência. Este é o primeiro mandamento que consiste em uma
proibição absoluta, sem concessão, expressa de maneira simples com duas
palavras: "Não matarás" (Êx 20.13; Dt 5.17). A legislação mosaica
dispõe sobre o tema ao longo do Pentateuco, cuja abrangência fala contra a
violência, o assassinato premeditado e o não premeditado. Temas como guerra,
pena capital, suicídio, aborto e eutanásia são pertinentes ao sexto mandamento.
Comentário
[O
Decálogo (Dez Mandamentos) proíbe o abate (lo Tirza) (Êx 20.13; Dt 5.17), mas o
mesmo termo hebraico (rzh) é usado para descrever a pena capital, um ato
permitido em outros lugares na Torá (Nm 35.16, 17, 18, 19, 30). No Dicionário
Vine o verbo hebraico ratsah, de onde se deriva tirtsah, é traduzido por
“matar, assassinar, destruir”. O Termo aparece principalmente no material legal
(Lei), e nos profetas é usado para descrever o efeito da injustiça e
ilegalidade em Israel (Os 4.12; Is 1.21; Jr 7.9). Na Septuaginta a tradução é
phoneúseis (assassinarás).[VINE, W. E. et al. Dicionário Vine. , 2 ed. Rio
de Janeiro: CPAD, 2003, p. 180.]. Os teólogos de Westminster concluíram
que nesse mandamento Deus proíbe “o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto
no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária; a
negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da
vida; a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as
paixões excessivas e cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida,
trabalho e recreios; as palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os
espancamentos, os ferimentos e tudo o que tende à destruição da vida de alguém”
(Catecismo Maior — resposta à pergunta 136).]
2.
Objetivo. O sexto mandamento reflete o ensino geral do Antigo
Testamento sobre o respeito à santidade da vida. O Senhor Jesus incluiu aqui o
ensino sobre o amor (Mt 5.21,22). No novo concerto Ele inclui "pensamentos
e palavras, ira e insultos". O Novo Testamento considera homicida quem
aborrece a seu irmão (1 Jo 3.15). O objetivo deste mandamento é religioso e
social, com o propósito de proteger a vida e trazer a paz entre os seres
humanos (Mt 5.44; Rm 12.18).
Comentário
[O
sexto mandamento sempre fala de homicídio, culposo ou não. O mandamento
enfatiza a gravidade do crime. Gênesis 9.6 explica: “Quem derramar sangue do
homem, pelo homem seu sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o
homem criado”. Regulamentando a aplicação desse mandamento, o Antigo Testamento
traz leis rigorosas e severas para punir a violência
contra a vida humana. O assassinato era punido com a pena de morte (Êx 21.12).
A mesma punição era aplicada ao proprietário de um animal que matasse um ser
humano, caso ficasse provado que a morte resultou da negligência do dono do
animal (Êx 21.29). O homicida tinha direito à defesa, mas era julgado com
rigor. Jesus trata o homicídio e o assassinato de forma ainda mais rigorosa,
condenando esses atos nas suas raízes, nas intenções, mesmo quando eles não são
executados. Ele afirmou: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e:
Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que
sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem
proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem
lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo.” (Mt 5.21-22.) Todo
assassinato tem uma ou mais causas. Essas causas podem ser o ódio, a ira
descontrolada, o desejo de vingança, o insulto... E todas elas nascem no
interior do ser humano, no recôndito de seu ser, onde deve ser iniciado o
combate à violência.]
3.
Contexto. "Não matarás" já era um mandamento antigo, mas
agora é introduzido de uma forma nova. O respeito à vida era conhecido na
Antiguidade pelos mesopotâmios, egípcios e gregos, entre outros. O Código de
Hamurabi (1750 a.C.), rei da Babilônia, é um exemplo clássico, contudo não se
revestia de autoridade divina. Essa é a primeira distinção entre os códigos
antigos e a revelação do Sinai. A outra é que Deus pôs sua lei no coração e na
consciência dos demais povos (Rm 1.19; 2.14,15).
Comentário
[Todas
as civilizações antigas tratavam do delito de homicídio em seus manuscritos.
Alguns de forma mais severa, outras de forma mais branda. Deus deu a todas as
pessoas, em todas as épocas e culturas, um instinto moral através da criação
(Rm 2.14,15), embora o pecado possa distorcer sua compreensão. O verbo usado
neste mandamento tem como raiz rsh cujo significado é matar. Sabendo disto,
nosso interesse agora deve ser conhecer, de perto, o sentido da raiz hebraica rsh comparando-o com o uso dos outros
verbos do seu campo semântico. Fazem parte deste campo os seguintes verbos: mut
(hifil, morrer (Nm 35,19.21); harag, matar (Sl 94,6) e o verbo de origem
aramaica qatal, matar, derramar sangue, executar (Jó 24,14).Todos estes três
verbos têm o significado de “matar”, no sentido mais amplo. Todavia, o verbo
rasah nunca é usado para designar uma ação de Deus, bem como a matança de
animais e suicídio (apesar de Nm 35,30). Assim, rasah pode ser definido como
matar violentamente uma pessoa (Frank Crusemann, Preservação da Liberdade, p.
56-59). Este verbo tem como objeto direto: um vizinho (Dt 19,5), um cidadão
israelita (1Rs 21,1-3), uma mulher de família (Dt 22,26), e a concubina de um
levita (Jz 20,4). O verbo é usado de forma absoluta como no Decálogo (Ex 20,13
e nos profetas (Is 1,2; Jr 7,9; Os 4,2; 6,9). Um animal nunca é objeto do verbo
rasah. Assim, estas observações mostram que o significado básico deste verbo é
a morte do ser humano numa condição normal de vida. Partindo do princípio que
Israel viveu num ambiente de guerra de conquista onde matar para obter terras
era normal, a proibição de matar o vizinho, o cidadão israelita, a mulher de
família, entre outros, deve ser vista como um grande avanço.]
PONTO CENTRAL
A vida é um dom de Deus e ninguém tem o direito de
tirá-la.
SÍNTESE DO TÓPICO I
Deus criou e deseja preservar a vida humana.
II. IMPORTÂNCIA
1. Da vida. A vida é um dom de
Deus e ninguém tem o direito de tirá-la (Gn 9.6). Somente Deus, que criou o
homem à sua imagem, tem o direito de pôr fim à vida humana (Gn 1.26,27; Dt
32.39). Três grandes personagens da Bíblia pediram a morte e não foram
atendidas: Moisés, Elias e Jonas (Nm 11.15; 1 Rs 19.4; Jn 4.3). Tudo isso nos
mostra que a vida pertence a Deus, e não a nós mesmos. Deus sabe a hora em que
a vida humana deve cessar, Ele é o soberano de toda a existência.
Comentário
[O
homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, é a coroa da criação e o
representante de Deus na terra investido de autoridade sobre as demais
criaturas (Gn 1.26, 27; SI 8.5, 6). Todos os seres humanos são irmãos porque
vieram de um só casal e têm o mesmo sangue (At 17.26). O respeito à vida é o
respeito a Deus. A primeira tábua do Decálogo se refere à santidade de Deus, e
a segunda, à santidade da vida. O sexto mandamento inicia a série de proibições
absolutas expressas com duas palavras num ritmo lógico. Começa com a proteção
da vida, o bem maior e inalienável, em seguida vem a proteção da família, a
célula mater da sociedade; depois aparece a proteção da propriedade, dos bens e
da honra. O respeito à vida é o princípio dos deveres para com o próximo, a
ordem divina de amar o próximo como Jesus nos amou (Jo 13.34). "Não
matarás” proíbe o homicídio e os pecados vinculados à violência, tais como
"o tirar a nossa vida ou a de outrem, exceto no caso de justiça pública,
guerra legítima, ou defesa necessária; a negligência ou retirada dos meios
lícitos ou necessários para a preservação da vida; a ira pecaminosa, o ódio, a
inveja, o desejo de vingança" (Catecismo Maior de Westminster, 136)Esequias
Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante
Mudança. Editora CPAD. pag. 88.]
2.
Não matar. A proibição do sexto mandamento é não assassinar. O verbo
hebraico ratsach, "matar, assassinar, destruir", aparece 47 vezes no
Antigo Testamento, em sua maior parte nos textos legais. A primeira ocorrência
é nos Dez Mandamentos (Êx 20.13). A tradução mais precisa das palavras lo e
tirtsach seria: "não assassinarás", ou "não cometerás
assassinato", pois "não matarás" é uma expressão genérica. O
dispositivo mosaico proíbe o homicídio premeditado, o assassinato violento de
um inimigo pessoal (Êx 21.12; Lv 24.17). O termo refere-se também a homicídio
culposo, aquele em que não há intenção de matar (Dt 4.42; Js 20.3).
Comentário
[Deus
abomina toda e qualquer forma de homicídio e assassinato. O seu mandamento para
todos os homens, de todos os lugares e de todas as épocas, é: “Não matarás” (Êx
20.13). E quem desobedecer a esse mandamento pagará muito caro por isso, pois o
próprio Deus declarou: “Certamente, requererei o vosso sangue, o sangue da
vossa vida; de todo animal o requererei, como também da mão do homem, sim, da
mão do próximo de cada um requererei a vida do homem. Se alguém derramar o
sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo
a sua imagem.” (Gn 9.5, 6). Em 1João 3.15 “Qualquer que aborrece a seu irmão
é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna”,
João enfatiza que há certos pecados que o crente nascido de novo não cometerá,
porque nele permanece a vida eterna de Cristo (cf. 2.11,15,16; 3.6-8,10,14,15;
4.20; 5.2; 2 Jo 9). Esses pecados, por causa da sua gravidade e da sua origem
no próprio espírito da pessoa, evidenciam uma rebelião resoluta da pessoa
contra Deus, um afastamento de Cristo, um decair da graça e uma cessação da
vida vital da salvação (Gl 5.4). O assassinato é um exemplo de pecado no qual
há evidência clara de que a pessoa continua nos laços da iniquidade ou que caiu
da graça e da vida eterna (v. 15; 2.11). Esse pecado abominável evidencia uma
total rejeição da honra devida a Deus, e da solicitude amorosa para com o
próximo (cf. 2.9,10; 3.6-10; 1 Co 6.9-11; Gl 5.19-21; 1 Ts 4.5; 2 Tm 3.1-5; Hb
3.7-19). Jesus em Mateus 5.22, diz: “Eu, porém,
vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu
de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio; e
qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno”. Aqui, Cristo não
se refere à ira justa contra os ímpios e iníquos (Jo 2.13-17); Ele condena o
ódio vingativo, que deseja, de modo injusto, a morte doutra pessoa. Raca é um termo de desprezo que
provavelmente significa tolo, estúpido. Chamar alguém
de louco, com ira e desprezo, pode indicar um tipo de atitude de coração,
conducente ao perigo do fogo do inferno.]
3.
Etimologia. São raros os termos correspondentes ao verbo ratsach nas
línguas cognatas; só no norte da Arábia foi encontrado o verbo radaha,
"quebrar em pedaços, estilhaçar". O termo ratsach não é usado na
guerra nem na administração da justiça e não aparece no contexto judicial e
militar. Parece haver uma única ocorrência em que ele é aplicado à pena de
morte (Nm 35.30), mas estudos mostram que originalmente a ideia do verbo era de
vingança de sangue.
Comentário
[O
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento descreve ratsah da
seguinte maneira: “Ratsah é uma raiz exclusivamente hebraica. Não possui nenhum
cognato claramente identificável nas línguas da época. A raiz ocorre 38 vezes
no AT, com 14 ocorrências em Números 35. Ela aparece pela primeira vez nos Dez
Mandamentos (Êx 20.13). Naquele texto importante aparece no qal, junto com o
advérbio de negação “não assassinarás”, que é uma tradução mais exata do
conhecido e demasiadamente genérico “não matarás” [...]. As inúmeras
ocorrências em Números 35 tratam do estabelecimento das cidades de refúgio para
onde podiam fugir aqueles que matassem alguém acidentalmente. Números 35.11
deixa plenamente claro que o refúgio existia para as pessoas culpadas de mortes
acidentais, não premeditadas. Isso deixa claro que ratsah se aplica igualmente
tanto a casos de assassínios premeditados quanto a mortes resultantes de outras
circunstâncias, que em direito são chamadas de “homicídio culposo”. A raiz
também descreve a morte por vingança (Nm 35.27, 30) e o assassínio motivado (2
Rs 6.32) [...]. Em um único caso em todo o AT a raiz designa a morte de um
homem por um animal (Pv 22.13). Mas mesmo nesse contexto a ideia básica é a da
hediondez de tal acontecimento. Em todos os demais casos do uso de ratsah, é o crime
de um homem contra se semelhante e a censura divina que estão em proeminência” HARRIS, R. Laird et al.
Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida
Nova, 1998, p. 1451.]
SÍNTESE DO TÓPICO II
É
Deus quem dá ao homem o fôlego de vida e somente Ele tem o direito legal de pôr
fim à vida.
III. PROCEDIMENTO JURÍDICO
1.
Significado do homicídio. O
homicídio é o maior crime que um ser humano pode cometer. A proibição do
assassinato, apesar de constar dos códigos de leis anteriores ao sistema
mosaico, já havia sido estabelecido pelo próprio Criador desde o limiar da raça
humana: "Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será
derramado; porque Deus fez o homem conforme a sua imagem" (Gn 9.6). É
contra Deus que o homicida está desferindo seu golpe ao tirar a vida de alguém,
pois a imagem é a representação de uma pessoa ou coisa.
Comentário
[ A origem da palavra
“homicídio”, como diversas expressões jurídicas, haure do latim homicidium.
Aduz Ivair Nogueira Itagiba (1945, p. 47) que tal vocábulo “Compõe-se de dois
elementos: homo e caedere. Homo, que significa homem, provém de húmus, terra,
país, ou do sânscrito bhuman. O sufixo ‘cídio’ derivou de coedes, de caedere,
matar”. A palavra homicídio é lembrada pela Enciclopédia Britânica (1994, p.
108) como “morte violenta ou assassinato”. No entanto, o significado mais
lembrado foi aquele dado pelo Criminalista italiano Carmignani (apud, COSTA JÚNIOR, 1991, p. 9), onde o
“homicídio (hominis excidium) é a morte injusta de um homem, praticado por um
outro, direta ou indiretamente” http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9832.
De toda a criação, a vida do ser humano é a mais sagrada diante de Deus. A
violação deliberada da vida do próximo implica em retribuição pelas mãos de
outros seres humanos que, neste caso, são agentes de Deus. O filosofo francês
Michel de Montaigne (1996, p. 367), certa vez aduziu: “Vivo em uma época que, por causa
de nossas guerras civis, abundam os exemplos de incrível crueldade. Não vejo na
história antiga, nada pior do que os fatos dessa natureza, que se verificam
diariamente e aos quais não me acostumo. Mal podia eu conceber, antes de o ver,
que existissem pessoas capazes de matar pelo simples prazer de matar; pessoas
que esquartejam o próximo, inventam engenhosos e desconhecidos suplícios e
novos gêneros de assassínios, sem ser movidos nem pelo ódio nem pela cobiça, no
intuito único de assistir ao espetáculo dos gestos, das contrações lamentáveis,
dos gemidos, dos gritos angustiados de um homem que agoniza entre torturas.” Embora tal trecho possa ser
corroborado com os dias atuais, trata-se, na verdade, de uma publicação do ano
de 1580, da obra “Ensaios”, do aludido filosofo. Por causa do apelo à violência
e ao derramamento de sangue que surge no coração humano (cf. 6.11; 8.21), Deus
procurou salvaguardar a intocabilidade da vida humana, reprimindo o homicídio
na sociedade. Ele assim fez, de duas maneiras: (1) Acentuou o fato de que o ser humano
foi criado à imagem de Deus (1.26), e assim sua vida é sagrada aos seus olhos; (2) instituiu a pena de morte, ordenando
que todo homicida seja castigado com a morte (cf. Êx 21.12,14; 22.2; Nm 35.31;
Dt 19.1-13; ver Rm 13.4).Veja, ainda, a autoridade para o governo usar a espada
no Novo Testamento: At 25.11; Rm 13.4; Mt 26.52.]
2. Homicídio doloso (Nm
35.16-21). Aqui
são dadas instruções específicas acerca do procedimento jurídico sobre o
homicídio doloso. Se alguém ferir de morte seu próximo, "com instrumento
de ferro" (v. 16), "com pedra à mão" (v. 17) ou ainda "com
instrumento de madeira" (v.17), ou por qualquer outra forma (vv.20,21), e
a pessoa golpeada morrer, o autor da ação é considerado homicida. O substantivo
"homicida", rotseach, vem do verbo ratsach e aparece repetidas vezes
aqui. Trata-se de homicídio doloso.
Comentário
[Vários textos antigos já faziam a diferença
entre o homicídio doloso (quando há intenção de matar), a legítima defesa
(quando a morte ocorre porque a pessoa está se defendendo) e o homicídio
culposo. Na Bíblia, ao fazer a partilha da Terra Prometida entre as Doze Tribos
de Israel, várias cidades dos levitas foram separadas para serem cidades de
refúgio para a pessoa que matava outra por acidente. (Nm 35.6; Js 20.1-6).
Podemos ver na Bíblia uma diferença entre homicídio culposo e doloso. Números
35:9-34 é claro quanto a isto. A pessoa que matava alguém por maldade, era
morta pelo vingador, que era um dos parentes mais próximos da vítima. Já aquele
que matava alguém involuntariamente podia correr para uma cidade de refúgio,
onde era protegido da vingança. Interessante é que em ambos os casos podemos
perceber que o pecador sofria a consequência por seu pecado, mesma que a
consequência não fosse tão grave (lembra-se do castigo “segundo as suas
obras”?). Mesmo que homicida tivesse matado alguém sem que houvesse nele a
intenção e tivesse sido livrado da pena de morte, tinha de morar por toda a
vida na cidade de refúgio para não ser morto por um familiar daquele que fora
morto.]
3. Homicídio culposo (Nm
35.22-25). Era
o crime involuntário e acidental, razão pela qual o autor não devia morrer, e a
lei estabeleceu o procedimento a ser seguido para livrar o réu da pena de
morte. Ele precisava se refugiar numa das cidades de refúgio até provar que o
homicídio fora acidental (Dt 19.4-6). A outra maneira de escapar das mãos do
vingador do sangue era agarrar-se nas pontas do altar (Êx 21.12-14; 1 Rs 1.50,
51). Esses dois recursos equivalem ao habeas corpus concedido atualmente.
Comentário
[Homicídio culposo ou
homicídio involuntário ocorre quando uma pessoa mata outra, mas sem que tivesse
esta intenção, nem aceitando os riscos que levem à morte da outra; pode ser por
negligência, imperícia ou imprudência Jus Brasil, Homicídio
culposo. A pena de morte só deveria ser aplicada
após ser comprovado o cometimento da infração (Ex.23:7; Dt.35:30). Não havia
pena de morte para quem cometesse morte por acidente (Dt.19:2-6; 35:15,22-25).
Das quarenta e oito cidades reservadas aos levitas, seis delas seriam cidades
de refúgio, “para que, nelas se acolha o homicida” (Nm 35.6). Que tipo
de homicida? Certamente, não eram os assassinos frios, violentos, contumazes.
Eram pessoas que tivessem cometido erros trágicos, acidentais, e que por isso
mesmo, provavelmente, estivessem sob forte tensão, emocionalmente abaladas pela
experiência vivida, desejando ansiosamente retroceder no tempo e apagar o
acontecimento. Observe em Números 35.16-28 a diferença entre o assassinato
intencional e o não intencional. “Segundo dizem os rabinos, para facilitar a
ida dos fugitivos, o Sinédrio tinha a responsabilidade de manter nas melhores
condições possíveis as estradas que davam acesso às cidades de refúgio. Não
poderia haver morros; em todos os rios deveria haver pontes, e a própria
estrada precisava ter pelo menos trinta e dois cúbitos de largura (cerca de
dezesseis metros). Em todas as curvas deveria haver placas de sinalização com a
palavra Refúgio. Além disso, o fugitivo deveria ser acompanhado de dois
estudiosos da Lei para, se possível, apaziguarem o vingador do sangue, caso
este alcançasse o fugitivo” (Merryl
F. Unger, Unger’s Bible Dictionary, citado em Charles Swindoll, Vivendo Sem
Máscaras, p. 142). Enquanto permanecesse dentro dos limites da cidade de
refúgio, o transgressor estava seguro. Caso saísse e fosse encontrado pelo
vingador, este o mataria e ficaria sem culpa (Nm 35:26, 27).]
SÍNTESE DO TÓPICO III
Ao
tirar a vida de alguém, o homicida está infringindo a lei dos homens e agindo
diretamente contra o próprio autor da vida, Deus.
IV. PUNIÇÃO
1.
O sangue de Abel. O
termo "sangue" de Abel em "A voz do sangue do teu irmão clama a
mim desde a terra" (Gn 4.10), está no plural, no hebraico, que segundo o
Talmude, antiga literatura religiosa dos judeus, significa "sangue de sua
descendência" ou seja: "todo aquele que destruir uma vida em Israel a
Escritura reputa como se tivesse destruído o mundo inteiro" (Sanedrin
4.5). Tal crime interrompe para sempre a posteridade da vítima. Em Hebreus é
dito que o sangue da aspersão, de Cristo, fala melhor do que o sangue de Abel
(Hb 12.24). Isso porque o sangue de Jesus clama por misericórdia, mas o de Abel
por vingança (Gn 4.10,11).
Comentário
[Tanto
Caim como Abel pareciam honrar a Deus de mesma forma através de cultos
idênticos, mas na realidade apresentavam as suas oferendas com disposições bem
diferentes. As do mais velho pareciam ser apenas um dom e as do mais novo, pelo
contrário, davam testemunho da sua reverência e piedade. Daí saíram os
sentimentos de inveja [...], que resultaram no assassínio de Abel (Gn 4, 3ss.)
Aquele que concede a vida também pode ouvir o seu clamor! (Veja Jó 16.18; Is
26.21; Ez 24.7-8; Mt 23.35; Ap 6.10). ]
2.
O vingador. A lei dava o direito ao "vingador do sangue"
(Nm 35.19,21b), goel, em hebraico, "redentor, remidor, vingador", de
matar o assassino onde quer que o encontrasse. Vingar o sangue era, no Oriente
Médio, uma questão de honra da família (Êx 21.24; Lv 24.20; Dt 19.21). Era uma
grande desonra para a família não vingar o assassinato de um ente querido. Isso
é mantido ainda hoje nessa parte do mundo. Porém, o Senhor Jesus mandou
substituir a vingança pelo perdão (Mt 5.38,39).
Comentário
[O
o hebraico ‘góel’ (‘resgatador’) veio a significar parente (Rt 2.20). Este
‘goel’ exercia o direito de ‘vingador de sangue’ (Nm 35.19,21,27 - Dt 19.12).
Outra palavra hebraica é empregada para significar a redenção do primogênito
(Êx 13.13,15). No N.T. as duas ideias que as palavras redenção e remir do A.T.
sugerem, são compra (Gl 3.13 - 4.5, e Ap 5.9), e libertação (Lc 1.68 - 24.21 -
Rm 3.24 - Ef 1.7 - Tt 2.14 - 1 Pe 1.18. “Porque eu sei que o meu Redentor
(Go’el) vive, e que por fim se levantará sobre a terra”. (Jó 19.25). Em caso de
assassínio, a morte deveria sem vingada por um go’el, o vingador de sangue.
Este teria por missão matar o causador da referida morte sendo paga “vida por
vida”. O vingador do sangue funcionava como um executor sem culpa. Este seria
em primeiro lugar o filho do morto, ou se este não existisse, um parente
próximo. Em 2 Sm14.11 é descrito um exemplo possível. A Bíblia Vida Nova traz o
seguinte comentário: “Era o costume do parente próximo de um injustiçado
reivindicar justiça por este: isto era uma garantia de que sempre haveria
alguém interessado em trazer o malfeitor à punição. A lei do refúgio era a
maneira de Deus preservar este costume contra o Vingador (Go’el) injusto e
cruel” SHEDD, Dr. Russel
P. Bíblia Vida Nova. São Paulo: Edições Vida Nova, 1976, p.189. A ideia
fundamental do sistema do go’el é a proteção do pobre ou do desgraçado. Muitas
vezes se alude ao Senhor como goel ou remidor de seu povo (Jó 19.25; Salmo
19.14; 49.15; Isaías41.14; Jeremias 50.34). Jesus Cristo é, sobretudo, nosso
goel ou parente próximo; ele não se envergonhou de chamar-nos ‘irmãos’, fez-se
carne e nos redimiu de todo o mal, da escravidão do pecado, da perda de nossa
herança e do aguilhão da morte”. Lemos em Lucas 4.16-21 que Jesus entrou na
sinagoga, na cidade de Nazaré, e tomando o livro do profeta Isaías, leu: “O
Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos
pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista
aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do
Senhor ” (Is 61.1,2).Jesus
parou de ler exatamente neste ponto e afirmou: “Hoje se cumpriu a Escritura que
acabais de ouvir”. Ele deixou de ler a última parte do versículo 2. Por quê?
Porque hoje é o dia da Graça, é o Ano Aceitável do Senhor, e Ele é o nosso
Go’el, o Parente Remidor, o Resgatador. Porém virá o “Dia da Vingança”, quando
o mesmo Parente Remidor virá como Parente Vingador para trazer juízo sobre
Satanás, juízo sobre a terra]
3.
Expiação pela vida. O
crime de assassinato podia ser expiado por uma das duas maneiras estabelecidas
na legislação mosaica. A primeira, no caso de homicídio doloso, em que uma vida
é expiada por outra (Nm 35.31), o assassino deve ser morto, ou seja, era
"vida por vida" (Êx 21.23). A segunda diz respeito ao homicídio
culposo, a busca de proteção em uma das cidades de refúgio. A expiação, nesse
caso, é a morte do sacerdote da cidade (Nm 35.25).
Comentário
[O
princípio da lei de Talião era usado para evitar a extrema brutalidade na
rigorosa retribuição. No antigo Oriente Próximo, era prática comum tirar a vida
de alguém que tinha causado injúria em retaliação por danos incorridos. O
acordo mosaico limitava a retaliação. Jesus se deparou com a interpretação
feita pelos fariseus para significar que uma pessoa deveria compensar a pessoa
que injuriara de modo equivalente aos danos causados. A palavra redenção vem
de: Lutron (grego), preço de soltura, resgate, preço de resgate, 3 vezes.
Lutroo (grego), resgatar, redimir, libertar pelo pagamento de um preço, 3
vezes. Lurosis (grego), Apolutrosis (grego), redenção, soltura, libertação.
Palavras hebraicas: padâh, resgatar, redimir; ga’al, redimir, agir como
parente; Go’el, redentor. O significado de redenção é libertar pagando um
preço. Libertar da escravidão ou de algum domínio sobre outrem. Para os judeus
a figura da redenção é tida na libertação divina da escravidão no Egito como
evento mais notável do Velho Testamento. Essa redenção fora feita de duas
maneiras: 1) por meio do sangue do cordeiro (Ex 12.1-13); e 2) a libertação do
poder do inimigo (Ex 12.26,27; 13.13,14). Para os gentios, o sentido é o de
libertar um escravo, cuja liberdade era paga (1Pe1.18). A redenção trata da
morte de Cristo e o preço do resgate que Ele pagou para providenciar a salvação.
A palavra Agorázō (ἀγοράζω) significa que redenção é um ato de comprar, entrar
no mercado e comprar. Isto é verificado pelo fato de Cristo ter entrado no
mercado do pecado e então comprou, pagando com o Seu próprio sangue (1 Co 6.20;
7.23; 2 Pe 2.1;Ap 5.9; 14.3,4). No Velho Testamento verifica-se que a redenção
é obra do poder de Iahweh (Dt15.15) ou de Seu amor (Sl 44.27).De acordo com o costume israelita, era possível para alguém
ser redentor em causa própria (Lv 25.49).O livro de Rute nos apresenta a figura
do Go’el, um parente chegado que tinha o direito de redimir. É mencionada a
redenção nacional do povo de Israel (Ex 6.6; 15.13; Sl 78.35; Jr 31.11;
50.33,34); bem como a redenção individual (Ex 13.13-15; Nm 3.41; Jó
19.25);também é mencionada a redenção de propriedade, nome e vida (Lv 25.25-34;
Rt 4.4-6;3.4; Mt 22.23-33; Nm 35.12-34; Js 20.1-6).O apóstolo Paulo nos ensina
que Cristo se tornou a nossa redenção (1Co 1.30). Diz que redenção mediante o
sangue de Cristo é a remissão dos pecados (Ef 1.7; Cl 1.14).De acordo com os
próprios ensinos do apóstolo Paulo, Cristo é o agente da redenção (Rm 3.24),
realizado por meio da encarnação (Jo 1.12-14) Pr.
A. Carlos G. Bentes, Doutor em Teologia. O PARENTE REMIDOR GO’ELO PARENTE
VINGADOR. https://pt.scribd.com/doc/109932960/O-Parente-Remidor]
SÍNTESE DO TÓPICO IV
Não
havia expiação para homicídio doloso; já para o homicídio culposo, havia as
cidades de refúgio
CONCLUSÃO
O
Senhor Jesus vinculou o sexto mandamento à doutrina do amor ao próximo. Devemos
manter nossa posição em favor da paz e da fraternização dizendo "não"
à violência em suas diversas modalidades, para a glória de Deus.
Comentário
“Não
matarás" é ratificado no Novo Testamento pelo Senhor Jesus Cristo e seus
apóstolos (Tg 2.11; 1 Jo 3.15). Jesus citou este mandamento juntamente com
aqueles que dizem respeito aos deveres do homem para com seu próximo: "Não
matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho;
honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt
19.18,19). O apóstolo Paulo elencou esses mandamentos numa ordem e forma
levemente modificadas (Rm 13.9).]. “NaquEle que me garante:
"Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de
Deus" (Ef 2.8)”,
PARA REFLETIR
Sobre o sexto mandamento:
O homem tem o direito de tirar a vida do outro?
Não. Explique que a vida é
um dom de Deus e homem algum tem o direito de tirá-la.
O que você entende por "a santidade da vida"?
Resposta livre, mas deixe
claro que a vida é um dom divino e, por isso, santa.
Por que ninguém tem o direito de tirar a vida do outro?
Porque ela é um dom de Deus.
Logo, somente Ele tem o direito de dar fim aos dias de uma pessoa.
Deus perdoa quem comente o assassinato?
Se houver arrependimento
sincero, Ele perdoa.
Quanto ao "aborto", a posição do crente deve
ser contrária. Comente.
Sim. O aborto é o
assassinato de uma vida.
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