O
publicitário e colunista do jornal Folha de S. Paulo, Tony Góes, publicou
um artigo com análise dos fatos e informando que a “Globo quer aplacar ‘ira
santa’ ao se aproximar dos evangélicos”.
Segundo
Góes, a aproximação funcionaria como uma espécie de agrado aos setores
evangélicos mais contundentes contra a emissora: “É justamente para aplacar a
ira santa desses setores que a Globo transmitirá em dezembro mais uma edição do
festival ‘Promessas’, de música gospel. Além disso, como informou Keila
Jimenez, a cúpula da emissora tem se reunido com lideranças evangélicas, para
estreitar os laços com uma comunidade que não para de crescer no Brasil”,
contextualiza o colunista.
-Já
há alguns anos tenta se aproximar dos evangélicos. Recheou o elenco de sua
gravadora Som Livre com astros do “gospel” (o que também faz sentido comercial,
já que estão entre os poucos que ainda costumam vender muito bem). Também
maneirou ao retratar os fiéis das igrejas neopentecostais em suas obras de
ficção. Vão longe os tempos da minissérie “Decadência”, de Dias Gomes, exibida
em 1995, que mostrava o fundador de uma igreja claramente baseada na IURD como
um tremendo charlatão – recapitula Góes.
Para
ele, o resultado prático dessa aproximação ainda é uma incógnita: “O que isto
quer dizer? Que vai diminuir o número de personagens homossexuais nas novelas?
Que as periguetes vão trocar os shorts minúsculos por mangas compridas e saias
até o chão? Ou é só diplomacia?”, pergunta o colunista Tony Góes.
Confira
abaixo, a íntegra do artigo “Globo quer aplacar ‘ira santa’
ao se aproximar dos evangélicos”, de Tony Góes, para a Folha:
Imagine a maior emissora de TV do
Brasil promovendo um festival de cânticos budistas. Ou um concurso entre
“muezzins” islâmicos, chamando os fiéis à prece. Ou até mesmo um especial com
os padres cantores, que usam a música pop para exaltar a fé católica.
Ela seria imediatamente acusada de
fazer proselitismo em favor de uma única vertente religiosa, em detrimento de
todas as outras. Quem acusaria? Muito provavelmente, aqueles setores
evangélicos que veem inimigos por toda parte.
Mas é justamente para aplacar a ira
santa desses setores que a Globo transmitirá em dezembro mais uma edição do
festival “Promessas”, de música gospel. Além disso, como informou Keila
Jimenez, a cúpula da emissora tem se reunido com lideranças evangélicas, para
estreitar os laços com uma comunidade que não para de crescer no Brasil.
Não é novidade que muitos pastores
atacam a Globo de seus púlpitos. Dizem que ela prega a dissolução dos costumes,
ao mesmo tempo em que funciona como uma ponta-de-lança disfarçada da Igreja
Católica. A recente ameaça de boicote à novela “Salve Jorge” reuniu todos esses
ingredientes.
Claro que por trás disto também estão
interesses comerciais. A Igreja Universal do Reino de Deus, controladora da
Record, não perde uma oportunidade para pintar a Globo como uma das sucursais
do inferno na Terra. Ao mesmo tempo, tenta levar para seu braço televisivo
vários dos autores, atores e diretores responsáveis pelos programas pecaminosos
da rival.
A Globo acusou o golpe, e resolveu
contra-atacar. Já há alguns anos tenta se aproximar dos evangélicos. Recheou o
elenco de sua gravadora Som Livre com astros do “gospel” (o que também faz
sentido comercial, já que estão entre os poucos que ainda costumam vender muito
bem).
Também maneirou ao retratar os fiéis
das igrejas neopentecostais em suas obras de ficção. Vão longe os tempos da
minissérie “Decadência”, de Dias Gomes, exibida em 1995, que mostrava o
fundador de uma igreja claramente baseada na IURD como um tremendo charlatão.
Hoje, se aparece um personagem
evangélico numa das novelas da casa, ele é até tratado com respeito – como a
Dolores (Paula Burlamaqui) de “Avenida Brasil”, que escapou da caricatura fácil
até se reconverter à vida mundana como Soninha Catatau. Ainda assim, para
evitar polêmicas, a denominação à que ela se filiava tinha o nome fictício (e
algo absurdo) de Igreja Esotérica do Sol Asteca.
Agora há contatos oficiais entre a
Globo e a Confederação dos Conselhos de Pastores Evangélicos de Pastores do
Brasil. Na pauta, segundo Keila Jimenez, está a “aproximação da emissora com o
pensamento evangélico”.
O que isto quer dizer? Que vai
diminuir o número de personagens homossexuais nas novelas? Que as periguetes
vão trocar os shorts minúsculos por mangas compridas e saias até o chão? Ou é só
diplomacia?
Vai ser interessante acompanhar a
evolução dos acontecimentos, pois mesmo entre os evangélicos não há um
pensamento unificado. São muitas as correntes.
Também quero ver a reação do resto da
sociedade, que já mostra sinais de desconforto com a intromissão do
conservadorismo religioso na vida comum – haja visto o resultado da eleições em
São Paulo. Vem uma briga boa por aí.
Fonte: Gospel+
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