Estamos disponibilizando pra você todo início de semana, mais um comentário sobre
cada lição da EBD. Assim fazemos, para que os irmãos possam melhor preparar sua
aula. Cada item, tem um comentário, para que o amado leitor entenda melhor os
tópicos da lição. Estudaremos esta semana a lição de nº 11 desse segundo
trimestre, que tem como título: A ÚLTIMA CEIA. Para cada tópico, deixamos o nosso comentário. Fizemos
cuidadosa pesquisa a respeito dessa tão importante lição. Buscamos auxílio e
Ainda recorremos a vários mestres no assunto, para que pudéssemos aplicá-lo
para o seu melhor entendimento. Em caso de dúvidas com relação ao assunto,
deixe seu comentário, a sua dúvida, no final desta postagem, que responderemos
com todo prazer a sua pergunta. Espero que satisfaça a todos e uma boa
aula.
INTRODUÇÃO
Sem dúvida, a Páscoa era uma das festas mais
importantes do judaísmo, e a sua celebração era carregada de valor simbólico. O
seu ritual era metódico e meticuloso pois lembrava um dos momentos mais
importantes da história do povo de Deus da Antiga Aliança - a libertação do
cativeiro egípcio! A sua celebração anual mobilizava toda a nação
judaica. Quando instituiu a Santa Ceia, por ocasião da celebração da
última Páscoa, Jesus tinha em mente esses fatos. Sabedor de que a Páscoa era
apenas um tipo do qual Ele era o antítipo (ou uma figura da qual Ele era o
cumprimento), Ele demostrou alegria e satisfação por poder celebrá-la na
companhia de seus discípulos. Apenas algumas horas depois, o Filho do Homem
estaria libertando o seu povo, não mais de um cativeiro humano, mas do
cativeiro do pecado!
Comentário
Páscoa é a festa que marca o início do calendário bíblico de Israel e
delimita as datas de todas as outras festas na Bíblia. Pessach (do hebraico פסח, passagem) a Páscoa judaica é também conhecida como "Festa da
Libertação", e celebra a libertação dos hebreus da escravidão no Egito em
14 de Nissan no ano aproximado de 1280 a.C. A primeira celebração de Pessach
ocorreu há 3.500 anos, quando Deus enviou as Dez pragas do Egito sobre o povo
egípcio. Antes da décima praga, Moisés foi instruído a pedir para que cada
família hebréia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das
portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus
primogênitos. Como recordação dessa libertação, e do castigo de Deus sobre o
Faraó, foi instituída para todas as gerações o sacrifício de Pessach. Note que Pessach significa passagem, porém a passagem do anjo da morte, (pois o Senhor “passou” sobre as casas dos filhos
de Israel, poupando-os. Ex 12:27), e não a passagem dos hebreus pelo Mar
Vermelho ou outra passagem qualquer, apesar do nome evocar vários simbolismos.
Interessante que, um segundo Pessach era celebrado em 14 de Iyar, para pessoas
que na ocasião do primeiro Pessach estivessem impossibilitadas de ir ao
Tabernáculo, fosse por motivos de impureza ou por viagem. Páscoa fala de
memória, de identidade. É uma festa instituída para que jamais Israel se
esquecesse quem foi, quem é e o que deve ser.
I. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA ÚLTIMA CEIA
1. A instituição da páscoa judaica. A festa
da Páscoa era uma das celebrações que ocorria na primavera. A palavra é
derivada do verbo hebraico pasah, com o sentido de "passar por cima".
Essa festa tem sua origem nos dias que antecedem o êxodo dos israelitas do
Egito, conforme narrado em Êxodo 12. Até esse momento, Faraó relutava em deixar
os israelitas partirem conforme a determinação do Senhor. A consequência dessa
obstinação do governante egípcio foi o julgamento divino que veio na forma de
uma grande mortandade nos lares egípcios. Somente os primogênitos das famílias
egípcias seriam atingidos, pois os hebreus estavam protegidos com o sangue do
cordeiro pascal (Êx 12.13). O sangue do cordeiro era um tipo do sangue de
Cristo, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29; 1 Co 5.7).
Comentário
Festa instituída por Deus para Israel, na época do Êxodo, para celebrar
a noite em que o Senhor Jeová poupou todos os recém nascidos primogênitos dos
israelitas e matou todos os primogênitos dos egípcios (Êx 12.1-30,43-49). A
palavra hebraica pesah (do grego pascha) tem uma origem incerta. G. E.
Mendenhall a relaciona com a palavra acadiana pashu, que consta na carta Amarna
74.37 para descrever a paz ou a segurança que resulta do estabelecimento de uma
aliança (BASOR, #133 [1954], p. 29). B. Couroyer sugere que este termo é uma
transliteração de duas palavras egípcias p3 sh, 'Te coup" (o golpe, a
pancada), e que ele refere-se ao golpe infligido pelo Senhor à terra do Egito
na décima praga. Ele acredita que a expressão egípcia foi colocada ao lado de uma
raiz hebraica composta pelas mesmas consoantes, pasah, que significa saltar ou
passar (por cima) como em 1 Reis 18.26. Devido à sua conexão com a isenção dos
primogénitos de Israel, pesah veio a ter o sentido da misericordiosa intenção
de Jeová ao passar por cima das casas que foram marcadas com sangue
("Uorigine égyptienne du mot 'Pâque'", Revue Biblique, LXII [1955],
481-496). O verbo pasah ocorre em Êxodo 12.13,23,27, onde obviamente significa
que o Senhor pulou ou saltou por cima e, desse modo, poupou as casas israelitas
quando feriu os egípcios (Outro verbo com os mesmos radicais significa mancar
ou ser manco; 2 Samuel 4.4.) A outra única ocorrência, no sentido de poupar ou
proteger, está em Isaías 31.5, onde pasah está em um paralelo com outros três
verbos que significam "proteger", "libertar" e
"salvar". É possível que em Isaías o significado possa ter sido
estabelecido pelo uso em Êxodo 12 e não por refletir o significado original da
raiz. Portanto, não se pode afirmar que o substantivo pesah deriva ou não do
verbo pasah, que originalmente significava passar por cima. Quanto à observação
cerimonial da festa da Páscoa no AT, Veja Festividades; Sacrifícios; Adoração.
No AT, é feita uma referência à celebração da primeira Páscoa por
Moisés, com a aspersão de sangue para que os primogênitos israelitas não fossem
tocados (Hb 11.28). Existem muitas outras referências a festas da Páscoa
durante a vida do Senhor Jesus. Ainda criança, todos os anos Ele era levado por
seus pais a Jerusalém para a Festa da Páscoa (Lc 2.41). No quarto evangelho,
três Páscoas são definitivamente mencionadas durante o ministério do Senhor
Jesus (Jo 2.13,23; 6.4; 11.55; 12.1; 13;1; 18.28,39; 19.14) e acredita-se que a
festa mencionada em João 5.1 seria a quarta Páscoa. Na época de Cristo, o
cordeiro pascal (geralmente um cordeiro ou cabrito de um ano, mas veja Êxodo
12.5) era ritualmente sacrificado na área do Templo. Essa refeição, no entanto,
podia ser comida em qualquer casa da cidade. Um grupo comunitário, como o de
Jesus e seus discípulos, podia celebrar a Páscoa em conjunto, com se formasse
uma unidade familiar. Cerca de 120.000 a 180.000 judeus compareciam a Jerusalém
para essa e outras festas anuais, sendo que a grande maioria deles era formada
por peregrinos vindos de países da Diáspora (J. Jeremias, Jerusalém in the Time
of Jesus, Filadélfia. Fortress, 1969, pp. 58-84). Depois da destruição do
Templo no ano 70 d.C, as provisões para o sacrifício de um animal, sob a forma
de um ritual, cessaram totalmente e a Páscoa dos judeus passou a ser uma
simples cerimônia familiar, uma refeição sem derramamento de sangue.
Atualmente, apenas os samaritanos (q.v.), em sua cerimônia anual da Páscoa no
monte Gerizim, sacrificam cordeiros ou cabritos visando cumprir a ordem de
Êxodo 12. Uma última passagem do NT desenvolve claramente o significado
tipológico da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos para o cristão. Paulo conclama
os coríntios a eliminar o fermento da malícia e da iniquidade, e observar
diariamente a festa "porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por
nós" (1 Co 5.7). Dessa forma, Paulo declara diretamente que Cristo é o
"nosso Cordeiro pascal", conforme o pronunciamento de João Batista de
que Jesus é "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo
1.29). Devido a estas passagens, e a ensinos semelhantes, a Igreja primitiva
veio a entender que a Ceia do Senhor (q.v.) substitui completamente a
celebração da Páscoa.
2. O ritual da páscoa judaica. A
páscoa judaica obedecia a um ritual detalhado (Dt 16.1-4). Todavia, de acordo
com Êxodo 12.3-12, os preparativos teriam início aos dez do mês com a escolha
de um cordeiro, ou cabrito, para cada família. A família, sendo pequena poderia
então convidar o vizinho. O cordeiro, que seria guardado até ao décimo quarto
dia, deveria ser de um ano e sem defeito. No final do décimo quarto dia era
imolado. O sangue era posto sobre as ombreiras e vergas das portas das casas
judaicas. O cordeiro deveria ser comido assado e com pães asmos e ervas
amargas. O resto que sobrasse deveria ser queimado. Os participantes da Páscoa
deveriam ter os lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão. Era a
Páscoa do Senhor.
Comentário
O relato da instituição desse rito se encontra em Êxodo 12. Deus ordena
a Israel que o observe (w. 1,2). A observância do rito, além dos atos
litúrgicos prescritos no relato, exige à disposição um cordeiro ou um cabrito,
macho de um ano, sem defeito (v. 5); pães ázimos e ervas amargas (v. 8). Estas
recomendações dirigem-se ao círculo familiar (v. 3), podendo estender-se à
vizinhança (v. 4). O cordeiro devia ser assado inteiro, e aquilo que não era
comido no banquete devia ser queimado antes do dia seguinte (v. 10). Os
comensais deviam comê-lo em pé e devidamente trajados para uma longa viagem (v.
11). Nos tempos de JESUS, conforme indica Raphael Martins, a cerimônia pascal
havia recebido a influência dos gregos e dos romanos que celebravam seus
ágapes, não como escravos, mas como um povo livre e independente, ou seja, comiam
recostados em divãs providos de almofadas. O Pesach significa na língua
hebraica “passar por cima”, “passar por sobre”. Na língua portuguesa foi
traduzida por “Páscoa”. O Pesach surgiu em face da tradição de que o anjo
destruidor, ou anjo da morte, “passou por sobre” as casas cujo sangue do
cordeiro imolado assinalava. “Porque, naquela noite, passarei pela terra do
Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até
aos animais... O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando
eu vir o sangue, passarei por vós...” (Ex 12.12,13). A passagem do anjo da
morte constituiu a última praga sobre o Egito, forçando o Faraó a libertar o
povo hebreu, possivelmente entre os anos de 1400-1200 a.C. O Pesach, na
descrição de McKenzie, mostra numerosas variantes que apontam para uma origem e
desenvolvimento complexos. O Pesach, segundo a grande maioria dos estudiosos,
era anterior à instituição no capítulo 12 de Êxodo. A festa original era
pastoril nos seus primórdios, onde os pastores celebravam o nascimento de
ovelhas na primavera; e esse termo também faz alusão à forma como as ovelhas
costumam “saltar por cima” dos obstáculos. Seja como for, por meio da
historização, a Páscoa se tomou a grande festa nacional de Israel, que celebrava
sua constituição como povo de Iahweh, acentua McKenzie. naquela noite, comerão
a carne assada no fogo; com pães asmos e ervas amargas a comerão” (v. 8)
Ázimos, no hebraico maccot, significa “pães sem fermento”. A festa dos “pães
sem fermento” está registrada em Êxodo 23.15, ao lado de outras duas. No
momento da instituição do Pesach ela aparece em correlação com a mesma, como
festa histórica que celebra a libertação de Israel da opressão egípcia. O
caráter da cerimônia indica que se tratava de uma festa agrícola de
agradecimento pelo início da colheita. No Novo Testamento é sempre mencionada
em conexão com o Pesach (Mt 26.17; Mc 14.12). Em memória dos sofrimentos dos
hebreus no Egito são comidas ervas amargas: chicória, escarola, agrião, salsa,
rabanete, amêndoa, tâmara, figo e passa. Esses ingredientes eram misturados com
vinagre, formando uma espécie de molho, cor de tijolo (haroset, em hebraico),
lembrando seu antigo ofício no Egito.
II. A CELEBRAÇÃO DA ÚLTIMA CEIA
1. A preparação. Ao responder à pergunta dos
discípulos sobre onde se daria os preparativos da Páscoa, Jesus encaminha-os a
um homem com um cântaro de água (Lc 22.10). Lucas deixa claro que Cristo, como
filho de Deus e capacitado pelo Espírito Santo, possuía conhecimento prévio dos
fatos. O expositor bíblico Anthony Lee Ash, observa que o homem com um cântaro
de água seria facilmente notado, pois esse era um trabalho de mulher. Os
hospedeiros costumavam oferecer suas casas durante a festa, em troca das peles
de animais e utensílios usados para a refeição. O preparo da Páscoa incluiria a
busca de fermento na casa e o preparo dos vários elementos da refeição.
Comentário
Cedo naquela quinta-feira os discípulos começaram a fazer os
preparativos para a Páscoa. “No primeiro dia dos pães asmos, (aqui Mateus
emprega o coloquialismo comum que combinava as duas grandes festas) vieram os
discípulos a Jesus e lhe perguntaram: Onde queres que te façamos os
preparativos para comeres a Páscoa? (Mt 26.17). Fica evidente do relato de
Mateus que Jesus já tinha arranjado de antemão muitos dos detalhes para essa
noite. Com tantas israelitas visitantes que vinham anualmente a Jerusalém para
a festa, era comum que os habitantes da cidade mantivessem aposentos que eles
alugavam para que os visitantes pudessem ter um lugar privado para comer a
refeição da Páscoa com os amigos e a família. Jesus tinha evidentemente
providenciado o uso de um desses locais para ele e os seus discípulos – um
cenáculo, que provavelmente foi colocado à sua disposição por alguém que Jesus
conhecia e que era por sua vez um crente em Jesus, mas talvez desconhecido dos
discípulos. Essa pessoa nunca é identificada por nome em quaisquer dos relatos
evangélicos. Em todo caso, Jesus tinha evidentemente feito em segredo esses
arranjos, para evitar que ficasse conhecido com antecedência onde ele estaria
nessa noite com os discípulos (Se Judas tivesse conhecimento prévio do local da
Última Ceia, teria sido uma questão simples para ele revelar ao Sinédrio onde
eles poderiam encontrar Jesus. Mas era necessário ao plano de Deus que ele
celebrasse a Páscoa com os seus discípulos antes de ser traído). Muitos
preparativos precisavam ser feitos. O cordeiro não apenas necessitaria ser
morto no templo e depois ser levado de volta para ser assado, mas outros
elementos da refeição também precisavam estar preparados. Os principais entre
os elementos de uma Páscoa eram o pão sem fermento, o vinho e um prato feito de
ervas amargas. A responsabilidade de preparar esses elementos provavelmente foi
dividida entre alguns dos discípulos. E a tarefa de organizar a sala e a mesa
estava já sendo cuidada por um criado do proprietário do cenáculo. De Lucas
22.8 ficamos sabendo que Pedro e João foram especificamente designados para
encontrar o homem e ajudar a preparar o Cenáculo. Marcos diz que eles deveriam
localizar o homem, segui-lo até a sua casa, e então repetir ao dono da casa o
que Jesus tinha lhes dito. Lá eles encontrariam “um espaçoso cenáculo mobiliado
e pronto” (Mc14.15). Eles “fizeram como Jesus lhes ordenara e prepararam a
Páscoa”(Mt26.19).
2. A
celebração e substituição. Jesus possuía consciência de que
a sua morte na cruz se aproximava e que Ele era o Cordeiro de Deus do qual o
cordeiro da Páscoa era apenas um tipo (Jo 1.29). Com certeza milhares de cordeiros
foram sacrificados em Jerusalém nessa data, mas somente Jesus era o
"Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo" (Jo 1.29). Se a
Páscoa judaica marcou a libertação do sofrimento do cativeiro egípcio, agora
Jesus, através do seu sofrimento, libertaria a humanidade da escravidão do
pecado. Pedro e João fazem os preparativos exigidos sobre a última Páscoa (Lc
22.7-20) e é durante a celebração da última Páscoa que Jesus instituiu a Ceia
do Senhor (Lc 22.19,20). No contexto da Nova Aliança a Ceia do Senhor
substituiu a Páscoa judaica (1 Co 11.20,23).
Comentário
A última Ceia é exposta nos evangelhos sinópticos como uma refeição
pascal. O evangelho de João (18:28; 19:14) apresenta o fato de que a refeição
foi tomada antes da celebração, e Jesus foi crucificado ainda naquele mesmo dia
(lembrando que, para os judeus, o dia começava às 06:00 horas). Talvez o Senhor
Jesus tenha antecipado a refeição por algumas poucas horas. Nesse caso o quarto
evangelho expõe a correta cronologia quanto à questão. O ensino paulino sobre a
última ceia (1Co 11.23-26) faz com que a mesma seja um memorial tanto da morte
libertadora de Cristo quanto da expiação. Ambos os elementos faziam parte da
páscoa do Antigo Testamento, segundo já vimos. Paulo não menciona
especificamente a páscoa, daquela seção, embora ele o faça em 1Co 5. 7. Eusébio
aceitava o conceito da páscoa cristã no sacrifício de Cristo (ver Hit. 5,23,1).
E essa também era a ideia tradicional da Igreja antiga. É interessante que a
palavra hebraica para páscoa, pascha, é tão parecida com a palavra grega para
sofrer, péscbo, que alguns cristãos antigos fizeram a ligação entre elas,
embora não haja qualquer conexão histórica entre esses termos. Cristo sofreu e
ele é a nossa páscoa, um jogo de palavras empregado por Eusébio. Para os cristãos,
a palavra grega anámne (memorial), é uma palavra-chave. A ceia do Senhor é um
memorial que deve ser mantido vivo, até que o Senhor retorne. Essa é a ênfase
paulina, que não se vê nos evangelhos sinópticos, embora apareça em Lucas
22.19. Provavelmente, esse elemento foi uma adição cristã às declarações feitas
por Jesus, embora sugerida pelo que ele havia dito, se é que ele mesmo não
ensinou assim. Por outro lado, é possível que Mateus e Marcos tenham omitido
uma afirmação genuína de Jesus, e que Paulo e Lucas preservaram. O que é certo
é que Jesus reinterpretou a páscoa em consonância com as suas próprias
experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja cristã como uma daquelas
muitas coisas que receberam cumprimento e adquiriram maior significação na
pessoa de Cristo, retendo o tipo de símbolo e de lições acima. A ideia de pacto
também se faz presente. YAHWEH firmou um pacto com a emergente nação de Israel.
E Jesus estabelece um pacto com sua emergente Igreja. Não nos deveríamos
esquecer desse aspecto. A páscoa do Antigo Testamento marcava o começo de urna
saída da escravidão; e, de fato, era o poder por detrás dessa libertação. Assim
também, em Cristo, encontramos um êxodo que nos liberta da velha vida com sua
escravização ao pecado. No sentido teológico, algo foi realizado que não
poderia ter sido realizado pela lei. Esse é o tema principal tanto de Paulo
(com sua doutrina da justificação pela fé) quanto do tratado aos Hebreus. O
êxodo judaico libertou um povo inteiro da servidão física. O êxodo cristão
oferece a todos os homens a libertação do pecado, bem como a outorga do Reino
da Luz, onde impera perfeita liberdade.
III. OS ELEMENTOS DA ÚLTIMA CEIA
1. O vinho. O terceiro Evangelho faz
referência ao uso do cálice por duas vezes, a primeira delas antes de mencionar
o pão (Lc 22.17,20). Mas essa reversão da ordem dos elementos não modifica em
nada o significado da Ceia. Nesse particular, a liturgia cristã segue o
modelo dos outros evangelistas e de Paulo, onde o uso do vinho é precedido pelo
pão (Mc 14.22-26; Mt 26.26-30; 1 Co 11.23-25).
Tomando o cálice, Jesus falou: "Este cálice é
o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós" (Lc 22.20). O
sentido desse texto é que o vinho é um símbolo da Nova Aliança que foi selada
com o sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus (Êx 12.6,7,13; 24.8; Zc 9.11; Is
53.12).
Comentário
Havia uma
seqüência bem estabelecida no processo de comer uma Páscoa. Primeiro, um cálice
de vinho era distribuído, o primeiro de quatro cálices compartilhados durante a
refeição. Cada pessoa tomaria um gole de um cálice comum. Antes de passar o
cálice Jesus deu graças (Lc22.17). Depois que o cálice inicial era passado,
havia uma lavagem cerimonial para simbolizara necessidade de limpeza moral e
espiritual. Parece ter sido durante essa lavagem cerimonial que os discípulos
“suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior”
(Lc22.24). João relata que Jesus “levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de
cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela. Depois, deitou água na bacia e
passou a lavar os pés aos discípulos e a enxugar-lhos com a toalha com que
estava cingido” (Jo 13.4,5). Tomando o papel do mais baixo servo, Cristo assim
transformou a cerimônia de limpeza numa lição prática sobre a humildade e a
verdadeira santidade. A lavagem externa nada vale se o coração estiver
contaminado. E o orgulho é uma prova segura da necessidade de uma limpeza do
coração. Cristo tinha feito uma observação semelhante para os fariseus em
Mateus 23.25-28. Agora ele lavou os pés dos discípulos, ilustrando que até
mesmo crentes com corações regenerados precisam ser lavados periodicamente da
corrupção externa do mundo. O cálice de vinho distribuído por Jesus não
representava o seu sangue que lhe corria nas veias enquanto lhes falava, mas
seu sangue que em breve seria derramado por eles na morte. Após a lavagem
cerimonial e comerem as ervas amargas, o segundo cálice era passado. Era nesse
momento que o cabeça da casa (nesse caso, sem dúvida Jesus) explicava o
significado da Páscoa (cf.Êx12,26,27). Em uma Páscoa judaica tradicional, a
criança mais jovem faz quatro perguntas pré-determinadas, e as respostas são
recitadas de uma narrativa poética do Êxodo. A circulação do segundo cálice
seria acompanhada pelo cântico de salmos.Tradicionalmente, os salmos cantados
na Páscoa eram do Hallel (hebraico para “louvor”; essa é a mesma palavra
da qual Aleluia é derivada), O Hallel consistia de seis salmos que começava com
o Salmo 113. Os salmos de Hallel eram provavelmente cantados em ordem, os
primeiros dois sendo cantados nesse momento na cerimônia. O cordeiro assado
seria servido na seqüência. O chefe da casa cerimonialmente lavaria as suas
mãos novamente, e partiria e distribuiria pedaços do pão sem fermento às
pessoas ao redor da mesa, para ser comido com o cordeiro.
2. O pão. Após tomar o pão, dar graças e
partir, Jesus disse: "Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isso
em memória de mim" (Lc 22.19). Jesus usa a expressão: "isto é o meu
corpo" com sentido metafórico, da mesma forma que Ele disse: "Eu sou
a porta" (Jo 10.9). O pão era um símbolo do corpo de Jesus da mesma forma
que o vinho era do seu sangue. A palavra "oferecido" traduz o verbo
grego didomi, que também possui o sentido de entregar. Esse mesmo verbo é usado
nos textos de Isaías 53.6,10,12, onde há uma clara referência a um sacrifício
(cf. Êx 30.14; Lv 22.14). O corpo de Jesus seria oferecido vicariamente em
favor dos pecadores.
Comentário
Na noite em que seria a última dos hebreus no Egito, Deus os preparou
para uma saída repentina, mas não sem se alimentarem. A ordem divina aos
hebreus não foi apenas para que sacrificassem um cordeiro e colocassem o sangue
dele na entrada da casa, mas também para que se alimentassem de pão sem
fermento, ervas amargas e do próprio cordeiro. Cada um deles tinha uma
representação para os hebreus, que deveria ser passada de geração a geração,
para que se lembrassem do quanto Deus operou grandemente em prol dos filhos de
Israel. De acordo com a descrição bíblica, o pão deveria ser sem fermento. A
massa não deveria passar pelo processo de fermentação, ou seja, seria levada ao
fogo tão logo estivesse pronta, sem ter de esperar para crescer. A ideia era
mostrar que os israelitas teriam pouco tempo para preparar sua última refeição
como escravos, pois logo sairiam para uma grande jornada. E evidente que o uso
do fermento poderia fazer com que a massa dobrasse seu tamanho e alimentasse
mais pessoas, mas a orientação divina indicava a pressa com que os judeus iriam
comer para saírem logo do Egito. COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 40. Nas terras do antigo Oriente o
pão e o vinho, assim como determinados produtos, eram as formas mais comuns de
alimentação. O pão, iehem, que aparece cerca de duzentas e oitenta vezes no
Antigo Testamento, em termos gerais significa “alimento”, “sustento”, indicando
sua presença indispensável para o sustento do povo hebreu. O pão era o
principal alimento. A expressão “comer pão”, em hebraico, significava “fazer
uma refeição”. O pão devia ser tratado com respeito, sendo proibido jogar fora
até as migalhas. Talvez os judeus utilizassem cães domésticos para esta função
— comer “... das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (Mt 15.27). “E,
tomando um pão, tendo dado graças, o partiu...” (Lc 22.19) O pão não podia ser
cortado, mas partido. Esse gesto era comum entre as famílias judaicas, onde o
pai, ao iniciar uma refeição, tomava um pão e, após dar graças ao Senhor,
partia-o em pedaços e distribuía-os entre os membros de sua família. Cristo não
diz apenas que o pão significa Seu corpo, mas Ele deixa claro que era o “corpo
dado em favor de” nós. Foi no corpo de Cristo que nosso pecado foi lançado. Foi
na humanidade de Cristo que toda impiedade foi imputada. Foi na carne d’Ele que
todo o sofrimento foi consumado. Esse corpo foi entregue por nós e é isso que
precisamos lembrar enquanto provamos aquele pão. Assim, sempre que meus dentes
trituram aquele pão, eu me lembro do chicote triturando o corpo de Jesus, da
cruz, da zombaria, do sofrimento indizível. Acredito que é disto que precisamos
lembrar quando tomamos o pão.
CONCLUSÃO
Participar da Ceia do Senhor é um privilégio do
qual todo cristão deve se alegrar. Não se trata de um ritual vazio, mas de uma
celebração carregada de significado, porque aponta para o sacrifício do
calvário. A Ceia celebra a vitória de Cristo, o Cordeiro de Deus, sobre o
pecado e suas consequências.
Ao participarmos da Ceia, devemos manter uma
atitude de eterna gratidão ao Senhor por nos haver dado vida quando nos
encontrávamos mortos em nossos delitos. Assim como os antigos judeus não
deveriam celebrá-la com fermento em seus lares, da mesma forma não devemos
comemorar a Ceia com o velho fermento do pecado. Celebremos a Ceia com os asmos
da sinceridade.
Comentário
A morte de Cristo, que ocorreu exatamente no período da páscoa, sempre
foi considerada um evento capital para os primeiros cristãos, e daí por diante,
durante todo o cristianismo. Jesus é chamado de nosso "Cordeiro pascal
(1Co 5.7). Isso tem sido associado pelos cristãos à ideia de expiação e
livramento, que nos liberta dos inimigos da alma. A ordem de não ser partido
nenhum osso do cordeiro pascal foi aplicada por João às circunstâncias da morte
de Jesus Cristo (Êx 12.46 e Jo 19.36), pelo que foi estabelecido um vínculo
entre os dois eventos, fazendo o primeiro ser símbolo do segundo. A ideia de
expiação, como é patente, faz parte vital da questão. O cristão (tal como os
antigos israelitas) deve pôr de lado o antigo fermento do pecado, da corrupção,
da malícia e da desobediência, substituindo-o pelos pães asmos da sinceridade e
da verdade. A santificação faz parte necessária da experiência cristã. O
apóstolo Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, tratou de maneira objetiva
sobre a Ceia do Senhor. Jesus mesmo instituiu esse sacramento como um meio de
graça para sua igreja. Somente aqueles que foram remidos e lavados no sangue do
Cordeiro e confessam o nome do Senhor Jesus devem participar desse banquete da
graça. Só aqueles que discernem o que Cristo fez na cruz são chamados para
participar dessa ordenança. A participação desatenta e descuidada da Ceia do
Senhor produz resultados desastrosos. Em vez de edificação vem juízo. Em vez de
deleite espiritual vem disciplina. Paulo menciona três níveis dessa disciplina:
Enfraquecimento, doença e morte. Entre os crentes de Corinto havia gente fraca,
enferma e alguns haviam sido ceifados pela disciplina divina. O pecado sempre
produz resultados desastrosos, sobretudo, na vida dos crentes. A Ceia do Senhor
é um momento de auto-exame e arrependimento, mas também de profunda gratidão e
alegria. Devemos nos aproximar da Mesa do Senhor com santa reverência e santo
temor e ao mesmo tempo com profunda gratidão e imensa alegria. Devemos celebrar
essa festa não com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da
sinceridade e da verdade (1Co 5.7,8). NaquEle que me garante:
"Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de
Deus" (Ef 2.8)”,
Missionário Vicente Dudman
Profº / Teolog
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