Nicodemus
publicou um artigo dessa série dedicado à passagem bíblica de Mateus 18:10 em
que Jesus cita anjos como intercessores dos “pequeninos”. Essa passagem gera
interpretações variadas, inclusive a de que Deus teria criado anjos da guarda
para as crianças.
Em seu artigo,
o teólogo e reverendo presbiteriano Augustus Nicodemus afirma que “a passagem
não está ensinando que cada crente ou criança tem seu próprio ‘anjo da
guarda’”, mas que “Ela simplesmente expressa o cuidado geral de Deus por seu
povo através dos anjos”.
O argumento de
Nicodemus se baseia nas passagens bíblicas em que Deus disponibilizaria anjos
para o cuidado daqueles que o servem, em determinadas situações: “Esse
ministério angélico para com os ‘pequeninos’ faz parte do cuidado geral que os
anjos desempenham, pelo povo de Deus (cf. Sl 91.11; Hb 1.14; Lc 16.22)”,
explica.
Augustus
Nicodemus diz ainda que a expressão “pequeninos” pode ser interpretava como
figurativa, pois Jesus estaria “se referindo aos discípulos” como um todo.
Confira
a íntegra do artigo “Criança Tem Anjo da Guarda?
Ditos Difíceis de Jesus – III”, de Augustus Nicodemus, publicado no
blog “O Tempora, O Mores”:
“Vede, não desprezeis a qualquer destes
pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem
incessantemente a face de meu Pai celeste” (Mateus 18:10).
Em certa ocasião, desejando dar aos
discípulos uma lição sobre humildade (Mt 18.1), o Senhor Jesus chamou uma
criança para perto de si (v. 2) e ensinou aos discípulos a necessidade de
alguém se tornar como uma delas para entrar no Reino (v. 3-4). Receber uma
criança no nome do Senhor significa receber ao próprio Senhor (v. 5). Em
seguida, o Senhor falou do castigo dos que colocam tropeços diante dos
“pequeninos” que crêem nEle (v. 6-9) e advertiu os discípulos a que não os
desprezassem, diante do cuidado vigilante de Deus por eles, através dos anjos
(v. 10).
Este dito é difícil porque sugere a
existência de “ anjos da guarda” de crianças, que estariam constantemente na
presença de Deus, velando e cuidando das crianças. O conceito de que cada
crente tem um anjo da guarda enviado por Deus sempre foi popular entre os
cristãos, e tem se tornado ainda mais popular com a crescente onda de fascínio
pelos anjos que tem invadido as igrejas evangélicas, acompanhando o aumento do
misticismo e do ocultismo no mundo.
Há várias interpretações para este dito
difícil de Jesus.
1. Os anjos no céu são as almas das
crianças quando morrem.
De acordo com este entendimento, Jesus
ensinou que as almas das crianças (os “anjos” delas) vão para o céu após a
morte das crianças, e ficam continuamente na presença de Deus. De acordo com
esta interpretação, Jesus mandou que os discípulos não desprezassem as crianças
pois elas, quando morrem, vão, na forma de anjos, morar na presença de Deus.
Alegam que Jesus se referiu aos “seus anjos no céu”, indicando que se refere ao
que acontece após a morte. A dificuldade óbvia com esta interpretação é que
identifica alma com anjo, uma associação impossível à luz do Novo Testamento. A
alma faz parte da personalidade humana, enquanto que um anjo é um ser distinto
do homem. As pessoas não se transformam em anjos quando morrem, conforme a
crendice popular, mas suas almas comparecem, como almas, à presença de Deus.
2. Cada criança tem um anjo da guarda.
Outra interpretação entende que a
expressão “seus anjos” se refere a anjos destacados por Deus para guardar cada
criança, e que neste labor, eles ficam subindo constantemente ao céu, na
presença de Deus, para dar relatórios de suas atividades e interceder em favor
das crianças. Esta doutrina é defendida pela Igreja Católica, que diz que no
batismo cada criança recebe seu anjo da guarda, que é enviado por Deus para
proteger e aconselhar esta criança toda a sua vida. Esse anjo é também chamado,
na teologia católica, de “anjo custódio”.
Há várias passagens bíblicas usadas para
defender esta interpretação. “O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o
temem e os livra” (Salmo 34:7) é uma das mais conhecidas. Também Gênesis 48.16,
onde Jacó se refere a um anjo que o teria livrado de todo o mal (na verdade,
refere-se ao anjo do Senhor). Menciona-se também o anjo que veio em socorro de
Daniel (Dn 6.22). Estas e outras passagens entretanto não provam o ponto,
apenas mostram que Deus envia anjos para proteger e salvar seus servos em
determinados momentos. A idéia de “ anjo da guarda” para cada criança é
bastante estranha à luz da doutrina bíblica, muito embora esteja claro que uma
das funções dos anjos é proteger os filhos de Deus. Nenhuma das passagens
geralmente usadas para provar a existência de “anjo da guarda” realmente prova
coisa alguma. Ao final, existe muita influência da crendice e da superstição
popular sobre o assunto.
3. Os “pequeninos” são os crentes em
Jesus Cristo.
A outra interpretação defende que a chave
para entendermos este dito difícil de Jesus é a palavra “pequeninos”. A quem
Jesus se refere? O termo pode ser tomado literalmente como se referindo às
crianças, como as duas interpretações acima o fazem, ou figuradamente, como se
referindo aos discípulos de Jesus. Esta última possibilidade resolve o problema
e tem apoio bíblico. Primeiro, Jesus usa regularmente o termo “pequeninos” para
se referir aos discípulos, cf Mt 10.42; 18.6; Mc 9.42; Lc 17.2. Note que nos
versos 1-5 Ele se referiu claramente às “crianças”, e nos versos 6-10 Ele
menciona os “pequeninos”. Segundo, os discípulos são comparados com
crianças, no que diz respeito à confiança em Deus. Terceiro, a passagem se
encaixa no ensino geral do Novo Testamento sobre o ministério dos anjos em
favor dos filhos de Deus, como Hebreus 1.14. Portanto, a melhor explicação para
esta passagem é que Jesus está ensinando que Deus envia seus anjos para assistir
aos “pequeninos”, que são os seus discípulos, os filhos de Deus pela fé,
comparados a crianças, e que, portanto, nós não devemos desprezar estes
“pequeninos”. Esse ministério angélico para com os “pequeninos” faz parte do
cuidado geral que os anjos desempenham, pelo povo de Deus (cf. Sl 91.11; Hb
1.14; Lc 16.22).
A passagem não está ensinando que cada
crente ou criança tem seu próprio “anjo da guarda”, como era crido
popularmente entre os judeus na época da igreja primitiva. Fazia parte
desta crença que o “anjo guardião” poderia tomar a forma do seu protegido (cf.
At 12.15). Ela simplesmente expressa o cuidado geral de Deus por seu povo
através dos anjos.
Redação Gospel+
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