O
jornalista Simon Romero, que assina a reportagem, enfatizou como a Igreja
católica tem se “reinventado” nos últimos anos, atraindo milhares de pessoas
para as missas onde as músicas de louvor com coreografia do padre Marcelo Rossi
e o visual “galã” aliada a fundamentos de autoajuda dos sermões do padre Fábio
de Melo.
“Se
há um país que reúne os desafios enfrentados pelo catolicismo no mundo, é o
Brasil, nação com o maior número de católicos, que serve como uma espécie de
laboratório para as estratégias da igreja para atrair de volta os seguidores
perdidos”, diz o texto.
Ao
mesmo tempo, o Brasil disputa com os Estados Unidos qual nação tem o maior
número de pentecostais do mundo. Conforme atesta o censo de 2010, atualmente,
65% dos brasileiros ainda se consideram católicos. Eram mais de 90% em 1970. “O
declínio tem sido tão excessivo e contínuo, que o cardeal Cláudio Hummes, um
dos maiores líderes da Igreja Católica no país questiona ‘Por quanto tempo o
Brasil continuará a ser um país católico?’”, diz o jornal
Segundo
Silvia Fernandes, socióloga da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
ainda existe a questão das grandes divisões na Igreja Católica brasileira. De
um lado, as lideranças mais conservadoras e tradicionais da Igreja, que vivem
na região sudeste, onde as missas são mais influenciadas pelos padres cantores
e o movimento da Renovação Carismática, “que busca revigorar as cerimônias
católicas para aproximá-las do que os paroquianos muitas vezes iam buscar em
outras igrejas [evangélicas]”.
Do
outro, os bispos do Nordeste e da Amazônia, mais focados nos problemas sociais,
direitos humanos, desflorestamento e luta indígena.
Ainda
segundo o jornal, os católicos se ressentem de não serem mais protagonistas em
relação a muitas questões sociais e assistem os evangélicos se destacarem na
política e usarem cada vez mais os meios de comunicação para continuar
crescendo. Uma das dificuldades do movimento de renovação católica no país, é a
tendência de católicos brasileiros absorverem elementos de outros movimentos
religiosos, como fizeram com as práticas afro-brasileiras no passado.
Isso
enfraquece a identidade católica e abre a porta para uma prática espiritual
“altamente híbrida”, assevera Stephen Selka, especialista em religiões
africanas da Universidade de Indiana.
Embora
o número de evangélicos continue crescendo a cada ano, o maior desafio apontado
pelo jornal é “o crescimento da secularização e indiferença em relação à
religião”. Para Andrew Chesnut, especialista em religiões latino-americanas da
Universidade Virginia Commonwealth, não se pode ignorar que o segmento que
cresce mais rapidamente no cenário religioso brasileiro são os “ateus e pessoas
sem religião”, totalizando 15% da população.
Chesnut
enfatiza que “Em um país que tinha níveis desprezíveis de ateus até a década de
1980, esse desenvolvimento aponta para grandes mudanças na sociedade
brasileira. Para aumentar o problema para o Vaticano, o número de católicos
nominais que abandonaram as missas só aumenta, enquanto os católicos
praticantes muitas vezes expressam frustrações em relação às políticas do
Vaticano”.
Philip
Jenkins, professor de história do Instituto de Estudos da Religião na
Universidade Baylor, considera que a tendência da América Latina é ver o número
dos ateus e sem religião crescer, como ocorre na Europa e nos Estados Unidos.
Um
dos maiores indícios da perda de força do católicos continuará acompanhando a
queda nas taxas de fertilidade, que no Brasil é uma das menores da
América Latina, com cerca de 1,83 criança por mulher.. “Para a igreja significa
menos crianças sendo batizadas, menos jovens candidatos a serem padres e
freiras, e a diminuição dos laços com a Igreja Católica que tinham seus pais.
Se eu fosse um cardeal brasileiro, estaria mais preocupado com o tamanho da família
e as taxas de fertilidade, um prognóstico muito bom de secularização, do que
com o Pentecostalismo”, resume Jenkins.
É
possível reverter esse prognóstico de fim iminente? Na análise do New York
Times, muito pode mudar com a eleição do novo papa. Dois brasileiros, o cardeal
João Braz de Aviz e Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, são os apontados
como fortes candidatos a suceder Bento XVI.
Além
disso, a Jornada Mundial da Juventude será no Rio de Janeiro este ano. Muito
provavelmente será a primeira viagem do novo pontífice ao país, já que a
presença havia sido prometida pelo Vaticano. “Muitos fiéis brasileiros têm
esperança que essa viagem indique um novo foco do Vaticano, diante da dupla
ameaça da competição evangélica e crescimento do secularismo”.
Fonte: Gospel Prime
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