Vítimas
de abusos sexuais contra crianças praticados por padres católicos expressaram
sua revolta nesta terça-feira após a divulgação de documentos que mostram
líderes da igreja discutindo sobre como encobrir supostos crimes de sacerdotes
na Califórnia na década de 1980.
Os procuradores disseram querer estudar os
registros, que até então eram confidenciais, incluindo memorandos produzidos
pelo ex-arcebispo de Los Angeles Roger Mahony - embora especialistas digam que
o estatuto das limitações provavelmente impeça qualquer ação legal.
Trechos dos documentos foram publicados na
segunda-feira pelo jornal Los Angeles Times, incluindo as conversas entre
Mahony - agora um cardeal aposentado - e um assessor de alto escalão sobre como
proteger padres pedófilos da aplicação da lei.
Os registros incluem memorandos secretos entre
Mahony e o monsenhor Thomas Curry, seu assessor em casos de abuso sexual, sobre
como prevenir a polícia de investigar três padres que haviam admitido para a
igreja que tinha abusado de meninos.
Especificamente, Curry sugeriu fazer com que os
padres suspeitos parassem de ver terapeutas, o que poderia alertar as
autoridades sobre os supostos abusos, ou mantê-los fora da Califórnia para
evitar investigações policiais, informou o Times.
Um deles foi o monsenhor Peter Garcia, que admitiu
ter abusado de crianças em sua maioria em paróquias de língua espanhola por
décadas. Ele foi enviado para um centro de tratamento do Novo México, e Mahony
ordenou que ele ficasse fora da Califórnia.
"Acredito que se o monsenhor Garcia
reaparecer aqui dentro da arquidiocese, nós podemos muito bem ter algum tipo de
ação judicial proposta nos âmbitos civil e criminal", escreveu Mahony em
julho de 1986.
Reagindo à informação, Joelle Casteix da Rede de
Sobreviventes dos Abusados por Padres, ou SNAP, disse: "Ficamos chocados e
revoltados ao ver estes comentários".
Mahony - que enfrentou inúmeras denúncias sobre a
sua gestão dos casos de abuso sexual, e que se desculpou repetidamente -
"geriu pessoalmente a carreira de padres predadores", disse em frente
à catedral de Nossa Senhora dos Anjos, em Los Angeles.
"Ele e outros clérigos de alto escalão,
incluindo o agora bispo Curry, trabalharam diligentemente para assegurar que os
homens que feriram crianças, que abusaram de crianças e que destruíram
comunidades nunca ficassem um dia atrás das grades".
Uma porta-voz do gabinete do procurador distrital
de Los Angeles disse que os procuradores "irão analisar e avaliar todos os
documentos assim que eles estiverem disponíveis para nós", em declarações
publicadas pelo Times.
Mas o ex-procurador Steve Cooley, que conduziu uma
investigação de cinco anos sobre abuso sexual católico, disse que um estatuto
de limitações de três anos significava que havia poucas perspectivas de processos
bem-sucedidos.
"Seria ótimo processá-los", disse
Cooley, que deixou o cargo no ano passado. "Mas você não pode processar
alguém eticamente... quando o estatuto se esgotou."
No início deste mês, um juiz ordenou que os
líderes católicos em Los Angeles identificassem autoridades da Igreja acusadas
de abusar sexualmente de crianças, uma ação saudada por ativistas a favor das
vítimas.
A arquidiocese de Los Angeles, a maior dos Estados
Unidos, disse que "muitas das informações em questão já se tornaram
públicas em um Relatório ao Povo de Deus", divulgado em 2004, e em
documentos posteriores.
Mas o SNAP saudou a ação.
"Durante décadas, a hierarquia católica de
Los Angeles hierarquia conseguiu manter em segredo milhares de páginas de
documentos incriminatórios. Devido à coragem e à tenacidade de centenas de
vítimas, isso vai terminar em breve", disse.
"E, como resultado as crianças estarão mais
seguras", completou.
Fonte: Folha Gospel
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