![]() |
Missionário Vicente Dudman
Formatura:
Teologia -
Assembleia de Deus no Brasil
Direito - Universidade Estácio de
Sá (Câmara Cascudo) no Rio
Grande do Norte.
Inglês - University of Texas
Estados Unidos. |
Estamos disponibilizando pra você todo início de semana, mais um comentário sobre cada lição da EBD. Assim fazemos, para que os irmãos possam melhor preparar sua aula. Cada item, contém um comentário, para que o amado leitor entenda melhor os tópicos da lição. Estudaremos esta semana a lição nº 03, desse 2º trimestre, que tem como título: Jusitificação, somente pela fé em Jesus Cristo. Para cada tópico, deixamos o nosso comentário. Fizemos cuidadosa pesquisa a respeito dessa tão importante lição. Buscamos auxílio e Ainda recorremos a vários mestres no assunto, para que pudéssemos aplicá-lo para o seu melhor entendimento. Em caso de dúvidas com relação ao assunto, deixe seu comentário, a sua dúvida, no final desta postagem, que responderemos com todo prazer a sua pergunta. Espero que satisfaça a todos, e tenha uma boa aula.
INTRODUÇÃO
Na lição de hoje,
estudaremos a doutrina bíblica da justificação pela fé, conforme a Carta aos
Romanos nos capítulos 3.1- 4.25. Esses textos contêm uma das mais contundentes
defesas de Paulo em favor da justificação pela fé, independente das obras. Para
uma melhor compreensão deste tema tão relevante, a argumentação do apóstolo
será dividida em três partes: a justificação manifestada, a justificação
contestada e a justificação exemplificada. A chamada de Abraão, o grande
patriarca de Israel, será a base da argumentação de Paulo para provar a
doutrina da justificação somente pela fé. O argumento de Paulo é que todas as
bênçãos de Deus e todas as suas promessas são frutos da sua graça para conosco.
Comentário
No Calvário, a justiça de Deus
chega ao seu cumprimento histórico, através de Cristo e sua missão redentora.
Já vimos na lição anterior que a justificação pela fé foi um dos pilares da
Reforma Protestante. Também vimos que a salvação é pela graça mediante a fé e
não o resultado das obras nem mesmo da adição de fé mais obras. Assim sendo, a
salvação não é uma conquista do homem, mas um presente de Deus. Não é uma
medalha de honra ao mérito, mas uma manifestação do favor imerecido de Deus.
Martinho Lutero disse: “Esta doutrina é a cabeça e a pedra fundamental. Por si
só, ela gera, alimenta, edifica, preserva e defende a igreja de Deus. E sem
ela, a igreja de Deus não poderia existir nem por uma única hora”. Martin
Lloyd-Jones afirmou que a justificação pela fé “é a grande doutrina central de todo
protestantismo, e vocês descobrirão que em cada avivamento ela sempre vem na
vanguarda”. A igreja cai ou permanece de pé por causa desta doutrina. Ela é a
espinha dorsal de todas as doutrinas bíblicas. John Piper diz: “Pregar e viver
a justificação pela fé glorifica a Cristo, resgata pecadores desesperados,
encoraja santos imperfeitos e fortalece igrejas frágeis”.
I.
A JUSTIFICAÇÃO MANIFESTADA (Rm 3.21-26)
1.
Um culpado que é inocentado. Em
Romanos 3.21, lemos: “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de Deus,
tendo o testemunho da Lei e dos Profetas”. Paulo nos mostra como Deus se
revelou para alcançar os gentios e judeus. Os gentios estavam debaixo da ira de
Deus, porque falharam em conhecê-lo. Os judeus também estavam debaixo da ira
divina, por não conseguirem guardar a Palavra do Senhor. O vocábulo manifestou,
no grego, vem de uma raiz cujo significado é tornar manifesto ou visível ou
conhecido o que estava escondido ou era desconhecido. Deus, na pessoa de Jesus
Cristo, tornou conhecido o seu grande amor para com os pecadores. Encontramos
Paulo recorrendo a uma figura extraída do mundo jurídico para esclarecer o seu
pensamento. O termo justiça traduz a palavra grega dikaiosyne, muito comum no
contexto de um tribunal. A imagem é de alguém que é inocentado por um juiz,
mesmo sendo culpado pelos seus atos. Concluímos então que, mesmo culpados, Deus
quis nos justificar e perdoar.
Comentário
A justificação é um ato legal,
forense e judicial de Deus. É feita no tribunal de Deus e não em nosso coração.
É um ato jurídico ou uma sentença divina na qual Ele declara perdoado todo
pecador que crer em Jesus. Louis Berkhof define: “A justificação é um ato
judicial de Deus no qual Ele declara, baseado na justiça de Jesus Cristo, que
todas as exigências da lei estão satisfeitas com respeito ao pecador”. A
justificação é o contrário de condenação. Ela é um ato único e legal que remove
a culpa do pecado e restaura o pecador à sua condição de filho de Deus, com
todos os seus direitos, privilégios e deveres. A justificação não ocorre na
vida do pecador, não produz mudanças no seu caráter, mas no Tribunal de Deus.
Justificação é uma declaração e santificação é transformação. Mas, é a partir
da justificação que o Espírito Santo inicia no pecador todo o processo de
santificação até a sua glorificação.
2. Um prisioneiro que é
libertado. Em Romanos 3.24, Paulo usa o verbo grego apolytroseo
para se referir à redenção efetuada por Jesus Cristo. Essa palavra, conforme
definem os léxicos da língua grega, tem o sentido de redenção, resgate ou
libertação. No contexto neotestamentário tem o sentido de libertar mediante o
preço de um resgate. No mundo antigo um escravo podia ser resgatado mediante o
pagamento de um preço. É exatamente isso que Deus fez. Enviou Jesus Cristo para
resgatar o homem que estava preso em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Tanto
judeus como gentios deveriam se conscientizar dessa realidade. Ninguém pode se
autolibertar.
Comentário
Como uma pessoa pode se tornar
aceitável diante de Deus? A resposta está clara no Novo Testamento,
especialmente nos escritos de Paulo, como a passagem clássica de Romanos
3.21-25. Nas Escrituras, a justificação é o contrário da condenação. É a
declaração que diz que o pecador que crê é justo, e isso devido à retidão
imputada de Cristo, o “dom da justiça”, conforme lemos em 5.17. Agora a justiça
de Cristo é legalmente considerada como possessão do pecador crente. Todos os
homens são pecadores e necessitam do perdão de Deus. A justiça de Deus é para
todos e sobre todos, judeus e gentios, porque todos erraram o alvo, deixando de
ser conforme o propósito de Deus. Pois todos pecaram e carecem da glória de
Deus (Rm 3.23). Infelizmente, a palavra portuguesa “justificação”, originária
do latim, dá a idéia de “tornar justo”, no sentido de produzir justiça no
justificado. Mas o termo grego originaldikaiosyne não se refere a uma mudança intrínseca
no indivíduo, e sim a uma declaração feita por Deus. Visto que não temos
justiça própria e somos culpados diante de Deus, ele nos declara justos com
base na expiação de nossos pecados por Cristo e na sua justiça imputada a nós.
3. Um inocente que é culpado. Se o sistema judicial foi útil para elucidar o pensamento do apóstolo, da
mesma forma a figura extraída do sistema de sacrifícios levítico também o
auxiliou. Isso pode ser visto no texto: “Ao qual Deus propôs para propiciação
pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados
dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Rm 3.25). A palavra propiciação
(gr. hülasterion), que está relacionada ao termo propiciatório é uma
terminologia muito utilizada no Antigo Testamento para se referir aos
sacrifícios pelo pecado. No sistema levítico, quando alguém pecava tornava-se
culpado de algo, e um animal inocente era sacrificado para que a culpa fosse
expiada. Paulo mostra que tanto os gentios como os judeus não podem chegar a
Deus pelos seus esforços ou obras, mas única e exclusivamente pelo sangue de
Jesus: o inocente Cordeiro de Deus que foi sacrificado por nós.
Comentário
A justificação
é um presente que Deus concede ao homem. Paulo diz: sendo justificados
gratuitamente, por Sua graça (Rm 3.24). A palavra gratuitamente significa “como
um presente”, “sem pagamento”; e a palavra graça significa “por um favor
imerecido”. Ela não pode ser comprada por obras humanas ou conquistada por
méritos pessoais. Ela é exclusivamente pela graça - gratuita para o pecador,
mas ela teve um alto custo para Deus. Para nós a salvação é grátis, mas para
Deus custou à vida de Seu Filho. “Sabendo que não foi mediante coisas
corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil
procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de
cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe 1.18-19). É por
meio do sacrifício de Jesus, que Deus toma a culpa do pecador e a atribui a
Jesus Cristo. E a justiça que há em Jesus Cristo é imputada ao pecador. Jesus
pagou a pena em nosso lugar, e por isso nenhuma condenação há para aquele que
nEle confia. Cristo “…foi entregue por causa das nossas transgressões e
ressuscitou por causa da nossa justificação”. A justificação pela fé é a doutrina
que marca o rompimento dos reformadores com a Igreja de Roma. A justificação,
de acordo com o ensino de Roma, era pelas obras. Esse ensino escravizava a
mente e o coração das pessoas, que nunca podiam descansar em Deus, tendo a
necessidade de praticar constantemente as obras recomendadas pela igreja.
II. A JUSTIFICAÇÃO CONTESTADA
(Rm 3.27-31)
1. A justificação se opõe à
salvação meritória. Paulo desejava que o seu
ensino não fosse mal interpretado, então recorrendo ao método da diatribe, se
adiantando em responder as contestações que seus interlocutores poderiam
fazer-lhe. “Onde está, logo, a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras?
Não! Mas pela lei da fé” (Rm 3.27). A lei dizia faça e o judeu devoto estava
convicto de que Deus o justificaria pelo que fazia. No entanto, a graça que
Paulo ensinava dizia não faça, mas aceite o que Jesus já fez. O que seria feito
então do orgulho judaico que se vangloriava em ser o povo eleito de Deus e das
boas obras que praticavam? Não levaria Deus isso em conta nessa nova doutrina
de Paulo? Nas palavras do apóstolo, não! É bem fácil imaginar que para um judeu
devoto, guardador da lei e praticante de boas obras, que o ensino da
justificação “pela fé somente” era bem difícil de digerir. Não é fácil abrirmos
mão do nosso orgulho e deixarmos de nos vangloriarmos pelos nossos feitos.
Todavia, a doutrina da justificação pela fé diz que não há mérito humano quando
a graça de Deus se manifesta. A conclusão de Paulo é que “o homem é justificado
pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3.28).
Comentário
A fonte da
justificação é a graça de Deus, o fundamento da justificação é a obra de Cristo
e o meio da justificação é a fé. A fé é o canal através do qual a justificação
é concedida ao pecador que crê; é o meio pelo qual ele toma posse das bênçãos
obtidas por Cristo (como a paz com Deus, Rm 5.1). Ela não é uma boa obra, mas
um dom de Deus, como Paulo ensina em Efésios 2.8-9. É o único meio de receber o
que Deus fez por nós (“sola fides”), ficando excluídos todos os outros atos ou
obras. A morte expiatória de Cristo assegura uma parte de nossa justificação,
ou seja, aquela que diz respeito ao perdão, enquanto sua ressurreição obtém
para nós o outro elemento, o da justiça. Como morte e ressurreição permanecem
juntas como aspectos gêmeos da realização central de Cristo, o mesmo acontece
com a expiação e a justificação. A morte na cruz não foi o final para Jesus.
Sua morte foi o cumprimento de uma importante etapa de sua obra, que teve
continuidade em sua ressurreição, ascensão, sessão à destra do Pai e em sua
obra permanente como Profeta, Sacerdote e Rei. Por sua vez, foi a ressurreição
que deu significado à morte e lançou luz para os discípulos sobre tudo o que
havia ocorrido anteriormente. Foi sua ressurreição que deixou claro para os
discípulos e para todos aqueles que o viram pregado na cruz que ele realmente
era quem dizia ser: o Messias prometido. Além do mais, a própria ideia da
ressurreição exige a morte primeiro, ou isso não é ressurreição. Da mesma forma
como morte e ressurreição são inseparáveis e mutuamente necessárias, assim
também a justificação não pode ocorrer sem a expiação pelos pecados, pois as
pessoas não podem ser consideradas justas se elas estão sob a ira de Deus. Por
outro lado, a expiação também não pode ser entendida sem seu companheiro
inseparável, o recebimento da justiça, que nos capacita não apenas a sermos
trazidos a um estado de inocência, mas nos faz aptos para entrarmos em comunhão
com um Deus justo e santo. Relativo à ‘trapos de imundícia’, os “atos de justiça”
que Isaías tinha em mente eram, muito provavelmente, os rituais superficiais
oferecidos por Israel, desprovidos de uma fé e de uma obediência sinceras. m
Isaías 65.1-7, o Senhor rejeita os sacrifícios pecaminosos de Israel. Eles são
um insulto ao Senhor, fumaça para seu nariz, assim como a “obediência”
ritualista de Isaías 58 não impressionou ao Senhor porque seu povo continuava
oprimindo o pobre. Os “atos de justiça” eram “trapos imundos” porque não eram
nem um pouco justos. Tinham aparência boa, mas não passavam de farsa,
literalmente uma cortina de fumaça para acobertar a incredulidade e a
desobediência deles. Então, não é correto pensar que todo “ato de justiça” do
crente são trapos imundos aos olhos de Deus. Aliás, no versículo anterior,
Isaías 64.5, Isaías declara: “Vens ajudar aqueles que praticam a justiça com
alegria, que se lembram de ti e dos teus caminhos”. Não é impossível o povo de
Deus praticar atos de justiça que agradam a Deus. Sobre isso, John Piper
explica: “Às vezes as pessoas são descuidadas e falam de forma negligente sobre
toda a justiça humana, como se não houvesse nada que agradasse a Deus. Muitas
vezes elas citam Isaías 64.6 que diz que nossa justiça é como ‘trapo de
imundícia’. É verdadeiro – gloriosamente verdadeiro – que ninguém do povo de
Deus, antes ou depois da cruz, seria aceito pelo Deus imaculadamente santo se a
justiça perfeita de Cristo não nos fosse imputada (Romanos 5.19; 1 Coríntios
1.30; 2 Coríntios 5.21). Mas isso não quer dizer que Deus não produza nessas
pessoas ‘justificadas’ (antes e depois da cruz) uma justiça experiencial que
não é ‘trapo de imundícia’. Ao contrário, ele o faz; e essa justiça é preciosa
a Deus e é exigida, não como fundamento da justificação (que é a justiça de
Cristo somente) mas como evidência de sermos filhos verdadeiramente
justificados de Deus”. John
Piper, Graça Futura (São Paulo, SP: Shedd Publicações, 2009), pág. 148.
Os que geram fruto em cada boa obra e crescem no conhecimento de Deus são
totalmente agradáveis a Deus (Cl 1.10). Apresentar nosso corpo como sacrifício
vivo agrada a Deus (Rm 12.1). Cuidarmos de nosso irmão mais fraco agrada a Deus
(Rm 14.18). Obedecer nossos pais agrada a Deus (Cl 3.20). Ensinar a Palavra de
forma autêntica agrada a Deus (1 Ts 2.4). Orar por autoridades de governo
agrada a Deus (1 Tm 2.1-3). Sustentar familiares em necessidade agrada a Deus
(1 Tm 5.4). Partilhar recursos financeiros com outros agrada a Deus (Hb 13.16).
Agrada a Deus quando guardamos os seus mandamentos (1 João 3.22). Em linhas
gerais, sempre que você confia em Deus e o obedece, ele se agrada disso.
2. A justificação se opõe ao orgulho nacionalista. A segunda indagação que Paulo procura responder é a seguinte: “É,
porventura, Deus somente dos judeus? E não o é também dos gentios? Também dos
gentios, certamente” (Rm 3.29). Esse é outro ponto que contrastava com a crença
do judaísmo do primeiro século — o exclusivismo. A doutrina da justificação
pela fé revela que Deus não é somente dos judeus, que se achavam privilegiados
pelo legalismo em relação à Torá, mas dos gentios também. Deus não é uma
divindade nacionalista, mas Ele é o Deus de toda a Terra. Não há dúvidas de que
Paulo tinha em mente o shema judaico quando argumentou sobre esse assunto:
“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4). Se Deus é o
único Deus, como de fato afirma o monoteísmo judaico, então Ele é o Deus dos
gentios também. Não podemos cair no erro de achar que Deus é nossa propriedade
exclusiva.
Comentário
A parábola do
fariseu e do publicano (Lc 18.9-14) sobre dois grandes pecadores foi contada
pelo Senhor Jesus. Um dos homens sabia que era pecador e o confessou diante de
Deus. O outro não sabia que era pecador e gabava-se de sua justiça. É a
história de um homem que pensava ser bom, mas que foi para o inferno e de outro
que sabia ser mau e foi para o céu. A aplicação desta parábola é clara: Quando
consideramos nossa própria atitude na oração, é ela mais parecida com a do
fariseu ou com a do coletor de impostos? Humilhamo-nos na presença de Deus ou
achamo-nos agradecendo-lhe porque não somos como outras pessoas pecadoras?
Humilhamo-nos ou agradecemo-lhe por nossa força e o fato que não caímos como
outros caíram? Sentimos a necessidade de exclamar, como o fez o coletor de
impostos: "Ó Deus, sê propício a mim, pecador"?
3. A justificação se opõe ao
antinomismo. “Anulamos, pois, a lei pela
fé? De maneira nenhuma! Antes estabelecemos a lei” (Rm 3.31). Essa é última
pergunta a ser respondida por Paulo dentro dessa seção. Os judeus legalistas
defendiam a observância dos preceitos da lei e acusavam Paulo de ser
antinomista, isto é, ensinar que a lei não tem mais nenhum sentido. Paulo
estaria ensinando que a justificação pela fé tornara a lei desprezível? A
resposta de Paulo é não! O problema não era com a Lei, que tinha a função de
servir de condutora até Cristo, mas com os homens que se mostraram incapazes de
cumpri-la. Nem judeu nem tampouco gentio algum foi capaz de cumprir a Lei.
Somente Jesus Cristo a cumpriu em nosso lugar. Qualquer tentativa de cumprir a
Lei hoje é nula, além de ser uma afronta àquEle que se mostrou o único
habilitado a fazê-lo — Jesus Cristo, nosso Senhor.
Comentário
O Antinomismo (gr. Anti=contra;
Nomos=lei, literalmente contra a Lei ou contra o sistema da Lei) é uma das
heresias mais antigas da História da Igreja. Já aparece no gnosticismo
helenizado de Marcião que negava qualquer importância real e espiritual ao
Antigo Testamento, e por conseguinte desde a Lei até os profetas, mas
especialmente a primeira que era considerada irrelevante e sem mais importância
a partir de Cristo, por meio do qual fora estabelecida uma nova relação com os
homens. O Antinomismo, portanto, não só rejeita a Lei mas não vê para essa lei
qualquer significação nos dias de hoje, seja do ponto de vista da fé ou mesmo
da ética. Contra a acusação dos judeus de que Paulo era antinomista, Paulo
mostra que nunca houve outro recurso de salvação senão aquele provido por Deus.
A esse respeito o Antigo Testamento deu seu testemunho claro e irretorquível.
Isso fica evidente da experiência de Abraão e Davi, dois vultos memoráveis da
história de Israel, por demais estimados por toda a nação. De fato, desde a
entrada do pecado neste mundo, justificação pela fé sempre foi o método de
salvação. Paulo encerrou o capítulo 3 com a afirmação que a fé confirma e não
anula a lei.
III. A JUSTIFICAÇÃO
EXEMPLIFICADA (Rm 4.1-25)
1. Abraão, circuncisão e
justificação (Rm 4.1-8). Na seção de Romanos 4.1-8, o
apóstolo Paulo toma o exemplo do patriarca Abraão para fazer um contraste entre
a justificação pela fé e pelas obras. A antiga tradição judaica afirmava que
Abraão já guardava a Torá, mesmo tendo vivido séculos antes dela. Ele a teria
guardado por “antecipação”, pois segundo o judaísmo, apoiando-se em Gênesis
17.23, Abraão é circuncidado como sinal da aliança entre ele e Deus. Da mesma
forma o sacrifício de Isaque confirmaria tal crença (Gn 22). Em outras
palavras, as obras justificaram Abraão. Contra essa argumentação, Paulo mostra
que Abraão não poderia ter sido aceito por Deus em virtude da circuncisão, pois
ele creu em Deus, tendo sido isso imputado como justiça, antes dele ser
circuncidado e pelo menos quatro séculos antes do advento da Lei. O que
justificou Abraão não foi o que ele fez, mas o que Deus fez por ele. Esse é o princípio
do Evangelho — somos aceitos não pelo que fizemos, mas pelo que Cristo fez por
nós.
Comentário
Paulo encerrou
o capítulo 3 com a afirmação que a fé confirma e não anula a lei. Ele continua
o seu argumento, citando o exemplo do pai do povo da aliança, Abraão. Todos os
judeus respeitavam profundamente o pai de sua nação. Mostrando que Abraão foi
justificado por fé, e não por obras de lei, Paulo reforça a sua defesa do
evangelho entre os judeus. Abraão recebeu a graça de Deus pela fé antes de ser circuncidado
(veja Gênesis 12, onde recebeu as promessas, e Gênesis 17, onde recebeu a
ordenança da circuncisão 24 anos depois). A circuncisão por si só não serve
para nada diante de Deus. É necessária a obediência, andando “nas pisadas da fé
que teve Abraão...antes de ser circuncidado” (Rm 4.12).
2. Abraão, promessa e
justificação (Rm 4.9-17). Na Aliança Abraâmica, Deus
prometeu fazer dos descendentes de Abraão uma grande nação. Ele também prometeu
ao patriarca que lhe daria como herança a terra e faria do seu servo uma bênção
para todos os povos (Gn 12.1-3). Fazendo referência a essa promessa divina,
Paulo argumenta que a justificação não poderia decorrer da obediência à lei
pelo fato de que quando Deus fez a promessa a Abraão, este nem mesmo era
circuncidado (Rm 4.10-15). A própria crença judaica dizia que a fé obediente de
Abraão nas promessas de Deus lhe foi imputada como justiça (Gn 15.5,6). Para
Paulo, se as bênçãos divinas prometidas a Abraão dependessem da obediência ao
código mosaico, então as promessas de Deus teriam falhado, visto que ninguém
fora capaz de cumprir ou guardar a lei.
Comentário
Os judaizantes
do passado pregavam que a justiça provinha das obras (At 15.1; Gl 2.21).
apóstolo Paulo diz pela inspiração que somos salvos pela fé e não pelas obras.
(Ef 2.8-10). A salvação pela fé, e não pelas obras, isto é, pela guarda da Lei,
não é uma doutrina peculiar do Novo Testamento; é, também, característica do
Antigo Pacto. Paulo retrocede no tempo, para além de Moisés, e toma Abraão como
exemplo de fé. Abraão tinha fé em Deus, isto é, cultivava um dedicado e leal
relacionamento com seu Deus, cria nas suas promessas (Rm 4.20,21; Gn 12.1-3;
15.5,6) e vivia em obediência ao Senhor (Gn 12.1-4; 22.1-19; Hb 11.8-19; Tg
2.21,22;). A fé de Abraão foi "imputada" por justiça.
"Imputar" significa creditar na conta da pessoa. Isso significa que a
fé salvífica do cristão é tida como equivalente à justiça no tocante ao seu
efeito. A Escritura nos ensina que somos justificados pela fé (Rm 3.28,30) ou
mediante a fé (Rm 5.1; Gl 2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que existe uma
estreita relação entre a justificação e a fé.
3. Abraão, ressurreição e
justificação (Rm 4.18-25). Na teologia de Paulo em
Romanos 4.18-25 há um paralelismo entre a fé de Abraão e a fé do cristão —
ambos creram em um Deus que torna possível as coisas impossíveis. Paulo mostra
que Deus tornou possível a concretização das promessas a Abraão, mesmo sendo
seu corpo já “amortecido” pelo fato de sua idade avançada, e dessa forma
recompensou a sua fé. A sua fé, mesmo contra as evidências externas,
garantiu-lhe a concretização das promessas (Rm 4.16-22). Da mesma forma, a fé
do cristão na morte e ressureição de Jesus, o Filho de Deus, é a garantia de
que as promessas de Deus em sua vida também serão cumpridas (Rm 4.23,25).
Comentário
O Pr Esdras Costa Bentho escreve:
“O capítulo 4 é uma apologia contra uma das interpretações rabínicas
prevalecente nos dias de Paulo. De acordo com a exegese judaica, Abraão
recebera a justiça de Deus (Gn 15.6) por meio de seus méritos e virtudes
(Josefo (1); Ec 44.20; 1 Mc 2.52). Para exaltar o patriarca, um partido judeu
afirmava que Abraão cumpriu a lei antes de o Senhor a ter entregue a Moisés (2
Baruque 57.1,2). Alguns deles chegaram ao extremo: afirmavam que não foi o
Senhor quem escolhera Abraão, mas Abraão quem escolhera o Senhor.(2) Segundo
essa escola, Abraão era o modelo dos que são justificados pelas boas obras, ele
mereceu conforme a lógica do trabalho e recompensa. Contra essa abordagem é que
Paulo desenvolve o texto do capítulo 4” http://www.cpadnews.com.br/blog/esdrasbentho/cultura-crista/76/romanos:-a-epistola-da-justificacao-pela-fe.html. Se no Antigo Testamento a
recepção da promessa por parte de Abraão foi possível pelo fato condicional de
sua justiça pela fé (Rm 4.13), na nova aliança a pessoa justificada pela fé
receberá a vida (Rm 1.17; Gl 3.11).
CONCLUSÃO
Chegamos ao final de uma
importante lição sobre a doutrina da justificação pela fé. Nesta lição
aprendemos que Paulo recorreu a experiência do patriarca Abraão para argumentar
contra a crença judaica que associava a aceitação das obras como garantia de
justificação diante de Deus. Para Paulo isso não poderia ser verdade já que o
velho patriarca não possuía mérito algum quando recebeu as promessas de Deus.
As bênçãos recebidas por ele, assim como as da Nova Aliança, decorrem
exclusivamente da graça de Deus em resposta a fé.
Comentário
Em Romanos
ficamos sabendo que justo é, portanto, quem foi declarado livre em processo,
não por não ser efetivamente culpado, mas por ser reconhecido como tal. O
judaísmo na época de Paulo, a prática de uma ética em conformidade com a lei
era conditio sine qua non para
o juízo de Deus. Isto é, o cumprimento dos mandamentos da lei e as boas obras
condicionam o surgimento da justiça divina. Paulo entra em cena agora e diz
que, se Abraão, o pai dos judeus segundo a carne, tivesse sido julgado por
obras ou justiça própria, teria que gloriar-se diante de Deus. No entanro,
Abraão foi como qualquer outro homem, pecador e sem justiça nenhuma. Ele foi
declarado justo por meio da fé (Rm 4.3). A doutrina da justificação pela fé é o
cerne da teologia paulina, utilizada especialmente quando em confronto direto
com o ensino judaico, que defendia que o homem encontra a graça de Deus quando
cumpre a vontade divina por meio da lei. É somente pela fé na eficácia do
sacrifício de Cristo na cruz que o homem pode ser considerado justo diante de
Deus. Paulo chama a atenção aos gálatas por desprezarem este sacrifício e
misturar a justificação com a santificação, confiando nas obras de justiça (Gl
1.6,9), o que Paulo chama de “outro evangelho”. Cuidemos para que não caimos no
mesmo erro. Sola Fide!] “NaquEle
que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de
vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”,
Missionário
Vicente Dudman
Natal/RN
Abril de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário